Em 1987, os bispos portugueses realizaram uma visita “Ad Limina” a Roma. No discurso final, João Paulo II disse aos prelados lusitanos que “a par de con-soladoras atestações desta recuperação de consciência e das muitas indicações concretas de vitalidade e empenho eclesial, não faltam algumas referências pormenorizadas a lacunas, perigos e dificuldades que aí se apresentam à Igreja que está a caminho e prossegue a sua peregrinação”. Tópicos onde prevalecem os motivos de “optimismo e esperança, pois a Igreja em Portugal dá a impressão de uma firmeza relativa, com segurança de consciência e capacidade de intervenção, sem complexos, não obstante as dificuldades subsistam”. 20 anos depois deste discurso, Bento XVI sublinha aos bispos que neste longo peregrinar, “a confissão mais frequente nos lábios dos cristãos foi a falta de participação na vida comunitária, propondo-se encontrar novas formas de integração na comunidade. A palavra de ordem era, e é, construir caminhos de comunhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos co-responsáveis pelo crescimento da Igreja”. Ir ao essencial Reganhar energias e ir ao essencial foram o fulcro dos dois discursos papais. Eles apontam os caminhos verdejantes da igreja. Tanto João Paulo II como Bento XVI apontam os factores históricos para as dificuldades existentes. O Papa do Leste refere que “parecem provir não apenas de factores transitórios, mas prevalentemente de factores históricos e estruturais, ligados à sorte do povo e do país em geral, a braços com fenómenos de ajustamento às consequências de viragem repentina no seu rumo histórico, portadora de mutações profundas”. Por sua vez, o Papa alemão realça que a Igreja Portuguesa tem vontade de “servir o homem consignada pela Igreja e o Estado numa nova Concordata”. Assinada em Maio de 2004, existem alguns problemas na regulamentação de pontos deste documento. O crescimento do número de estudantes e docentes no ensino secundário, superior e universitário, em Portugal, é outra realidade, em si “mesma consoladora, por vós assinalada como urgência para a atenção da Igreja, pelo que isso representa no presente e no futuro cristão e na vida social do País” – frisou João Paulo II em 1987. E acrescenta: “É uma multidão exposta e sacudida pelo vento, talvez de “doutrinas múltiplas e estranhas”, onde o ensino se professa neutro religiosamente”. Para que este fermento possa levedar, Bento XVI apelou, recentemente, aos bispos portugueses talvez “valha a pena verificardes “a eficácia dos percursos de iniciação actuais, para que o cristão seja ajudado, pela acção edu-cativa das nossas comunidades, a maturar cada vez mais até chegar a assumir na sua vida uma orientação autenticamente eucarística, de tal modo que seja capaz de dar razão da própria esperança de maneira adequada ao nosso tempo” (Exort. Ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis,18). Alimentar a fé Quanto a outros campos de trabalho pastoral, João Paulo II sublinhou que a fé do Povo de Deus precisa de facto de “ser vivificada e alimentada continuamente na obediência ao Evangelho; precisa de ser animada pela “novidade” de Jesus Cristo”. Por sua vez, o Papa alemão acrescenta que a evangelização da pessoa e das comunidades humanas depende, “absolutamente, da existência ou não deste encontro com Jesus Cristo”. O primeiro encontro pode “revestir-se duma pluralidade de formas, como o demonstram inúmeras vidas de Santos (a apresentação destas faz parte da evan-gelização, que deve ser acompanhada por modelos de pensamento e de conduta), mas a iniciação cristã da pessoa passa, normalmente, pela Igreja: a presente economia divina da salvação requer a Igreja”. João Paulo II escreve que são destes “homens novos” que “há-de surgir uma sociedade nova, no clima da solidariedade e da fraternidade, iluminada pelo sol da caridade e continuamente purificada e refrescada pela brisa suave da prática das bem-aventuranças”.