1º de Maio – Trabalho entre a realização e a tortura

Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos

Mais um Dia Internacional do Trabalhador celebrado em plena era digital, em que para uns o trabalho é realização pessoal e liberdade de pensamento e para outros é uma constante tortura. Há dias num encontro de trabalhadores, na apresentação dos presentes, uma pessoa apresentou-se desta forma: “acabadinha de me reformar, graças a Deus!” No final outras pessoas comentaram o porquê daquela expressão e disseram: “Nem imaginamos o que ela passou enquanto trabalhou, a reforma acabou por ser uma libertação”, mas não devia ser, acrescentaram. Um caso que ajuda a compreender milhares de situações de infelicidade no trabalho, que em vez de realizar e libertar, escraviza e desumaniza.

A celebração deste dia é consequência de uma data histórica que remonta a maio de 1886, com a realização da primeira grande manifestação com mais de meio milhar de trabalhadores pelas ruas de Chicago, e de uma greve geral nos Estados Unidos, que originou uma carga policial e a morte de muitos manifestantes. Três anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago.

Tal como Jesus que morreu por todos nós para nos salvar da crueldade, também um grupo de homens e mulheres morreram e continuam a morrer, para que os seus companheiros de trabalho possam viver a dignidade em toda a sua plenitude. Mas haverá outra forma mais bela de ser cristão do que dar a vida pelos outros? E quem são os outros de que falamos? Falamos dos trabalhadores que laboram sem horário; dos jovens abnegados que só lhes oferecem trabalho precário; das mulheres vítimas de assédio moral e sexual; dos que vendem a sua força de trabalho a baixo preço; dos que não podem fazer greve porque o dinheiro não chega para alimentar a família; dos que estão impedidos de se sindicalizarem com medo de represálias patronais; dos que são impedidos de pensar, indicando-lhes um conjunto de botões para digitar, na máquina que executa o serviço pensado por outros; falamos dos trabalhadores que continuam a ser pobres apesar de terem trabalho. Falamos ainda dos muitos milhares de trabalhadores a quem lhes foi retirado o direito de ter um contrato coletivo de trabalho negociado entre as partes, só porque uma parte não está disposta a negociar.

 

A quantidade, qualidade e dignidade do trabalho são desafios atuais e futuros. Ao excluir a pessoa humana, colocando no centro o consumo e o lucro, o sistema económico desmoronar-se-á porque deixará de ter pessoas para consumir. A maximização do lucro enfraquece a dignidade daqueles que geram trabalho e torna-os descartáveis “nesta economia que mata”, como nos diz o Papa Francisco. Ao mesmo tempo levanta-nos desafios: dignidade do trabalhador não significa ser destinatário de uma mera transferência monetária, mas sobretudo fazer parte do circuito de reciprocidade no dar e receber, nos direitos e deveres. A LOC/MTC continuará a desenvolver um trabalho contra o medo e pela afirmação da pessoa no mundo do trabalho como filha de Deus, com toda a dignidade que esse estatuto lhe confere.

 

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