Américo Monteiro afirma que a pandemia destapou a situação dos trabalhadores, alerta para a necessidade de avaliar as condições para o teletrabalho e diz que o salário mínimo «abrange cada vez mais trabalhadores»
Lisboa, 01 mai 2021 (Ecclesia) – O coordenador nacional da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos disse que o teletrabalho tem de ter em conta “as condições físicas e psíquicas do trabalhador” e afirmou que a precariedade existe “num grau muito superior”.
“A questão da precariedade existia num grau muito superior àquilo que normalmente admitíamos”, afirmou Américo Monteiro na entrevista Renascença/Ecclesia.
Para ao coordenador nacional da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC), a pandemia mostrou que há um grande número de trabalhadores precários quando a crise sanitária obrigou ao confinamento de muitos empregados “sem qualquer apoio, porque não tinham trabalho fixo com direitos”.
Américo Monteiro referiu-se concretamente à saúde, considerando que esse não pode ser um setor precário por ser “fundamental para um país equilibrado”, garantindo a assistência a toda a população.
“Ficamos preocupados quando num setor como o da saúde, cada vez que o pico da pandemia decresce há trabalhadores que são dispensados, porque já não são necessários com tanta premência”, afirmou.
Na entrevista semanal da Renascença e da Agência ECCLESIA, Américo Monteiro defendeu o teletrabalho por razões sanitárias, alertando para a necessidade de garantir “condições dignas”, sem “sobrecarregar e criar complicações à vida do trabalhador”.
“Receio que estejamos focados naquilo que causa despesa ao trabalhador, nas condições de trabalho físicas, em casa. Mas, eu acho que a questão do teletrabalho é muito mais do que isso: é a falta de sociabilidade, a questão de se levar os problemas do trabalho para casa e também as condições físicas e psíquicas do trabalhador”, alertou.
Para Américo Monteiro, o teletrabalho não deveria permitir mais do que seis horas diante do computador, tem de salvaguardar “a saúde e a segurança no trabalho”, a privacidade e garantir o “direito a desligar do trabalho”.
O coordenador nacional da LOC/MTC alertou para o “decréscimo” das condições no trabalho, o “medo” projetado pelas empresas, prevendo “problemas mais graves a curto e médio prazo”, nomeadamente pelo alargamento do salário mínimo.
“O salário mínimo até tem crescido a um ritmo razoável para o nível que teve em determinada altura, mas a contratação coletiva e a qualificação dos profissionais não avança ao mesmo nível. Nas empresas o salário mínimo abrange cada vez mais trabalhadores, mais grupos de qualificação superiores”, sublinhou.
Américo Monteiro referiu-se tamabém ao “Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho”, considerando que “está um pouco aquém” do esperado e receia que se abram portas “que não vêm valorizar o trabalho e os trabalhadores, nem dar-lhes melhores condições de vida, de rendimento, motivação”.
“É um desafio que se põe com alguma premência: a continuidade da reflexão daquilo que se quis dar por concluído. É necessário ir mais ao fundo dessas questões”, disse o coordenador da LOC.
A respeito da Cimeira Social Europeia, que vai decorrer no Porto no dia 7 de maio, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia, Américo Monteiro admitiu que possam surgir “uma ou outra medida interessante”, mas “não tanto como era necessário nesta Europa, ao nível da migração, das condições do trabalho”.
Américo Monteiro é coordenador da Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos em Portugal desde junho de 2019, disse que “nunca os trabalhadores precisaram tanto de organizações como a LOC/MTC” por causa da pandemia e referiu que vai viver o 1º de Maio integrado “nas festas, nas manifestações e concentrações dos trabalhadores, sem distinção, que se organizam pelo país”.
“É um tempo de festa, de desafio e de consciencialização daquilo porque ainda falta lutar”, afirmou Américo Monteiro à Renascença e à Agência ECCLESIA.
A entrevista semanal da Renascença e da Agência Ecclesia é emitida este domingo na Renascença, após as 10h00; por se referir ao tema do 1º de Maio, a publicação nos sítios da internet da Renascença e Ecclesia acontece este sábado, dia 1 de maio, e não na manhã de domingo, como em cada semana.
(Entrevista conduzida por Ângela Roque, da Renascença, e Paulo Rocha, da Agência Ecclesia)
PR