O teu ano

Paulo Rocha

No fim de cada ano, civil, letivo ou pastoral, na conclusão de um projeto ou no terminar de muitas etapas, é irresistível não fazer o filme do que aconteceu, recordar bons e maus momentos, conquistas e fracassos, avanços e recuos. E quantas vezes acontece horas a fio, noite dentro mesmo, a revisão de todos os instantes de um feito sonhado e finalmente concretizado, de encontros desejados e realizados, tanto os que sucedem num minuto como aqueles que perduram no decorrer de um ou mais anos! E encontram no sabor do tempo, no pêndulo do tempo, a grandeza pessoal e histórica que vai depois preencher o património da memória e dar significado ao todo, seja positivo ou negativo (mesmo que aparentemente).

Assim acontecia! E já não acontece?

A digitalização de factos e pessoas faz com que este recuperar de lembranças passadas suceda num minuto e seja entregue a um conjunto de algoritmos que alegadamente substituem valores, opções e emoções. Num clique é possível descobrir como foi “o teu ano” ou aceitar o convite de quem diz: “vê as tuas memórias”.

No passar de um novo ano, deixo essa possibilidade de descobrir “o meu ano” para o âmbito instrumental. Tudo o que indica é verdadeiro e real. Mas não todo o arco do tempo, que não é possível ver num instante, mas instante a instante.

Nestes dias, qualquer “Revista do Ano” que passa nos media recupera acontecimentos de política, desporto, religião, migrações, turismo… E muitos outros. Essa “Revista do Ano” nunca é um enumerar de eventos, isoladamente. É uma análise a tudo o que aconteceu, ligado ao que está na sua origem e àquilo que tem por consequência.

“O meu ano” recupera bons e maus momentos, conquistas e fracassos, avanços e recuos, sem nunca os tomar como partes distintas, mas de um todo que é necessário ligar.

Como numa “Revista do Ano”, só com análise, ponderação, seleção, valor e emoções é possível fazer o filme d’ “O teu ano”.

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Agência ECCLESIA

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