Diretor nacional do organismo católico lamenta falta de «identificação» do Governo com as dificuldades que os trabalhadores deste setor atravessam
Setúbal, 30 abr 2018 (Ecclesia) – O diretor nacional do Apostolado do Mar defendeu hoje “mais dignidade” para a profissão dos pescadores, em particular no que toca à remuneração e às condições de segurança no trabalho.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, com o Dia do Trabalhador no horizonte, Armando Jorge de Oliveira apontou que “deveria haver aqui uma maior identificação por parte das pessoas que têm responsabilidades no país”, com as dificuldades que os pescadores atualmente atravessam.
“São eles que andam em cima do mar, que apanham vendavais, que apanham ventos e chuvas, e no fim muitas vezes não são remunerados pelo seu trabalho”, lamenta aquele responsável.
Recentemente nos Açores foi assinada uma Convenção Coletiva de Trabalho na Pesca entre a Direção Regional das Pescas, a Federação das Pescas dos Açores, o Sindicato Livre dos Pescadores, Marítimos e Profissionais Afins dos Açores, e o Sindicato dos Pescadores da Ilha Terceira.
O documento determina que “sempre que o valor da retribuição fixa da soldada e da caldeirada não atinja o valor do salário mínimo nos Açores, a entidade patronal garante o pagamento do diferencial, desde que o trabalhador tenha realizado 160 horas mensais de trabalho efetivo”.
Para Armando Jorge de Oliveira, “o ordenado mínimo não era muito bom, mas já era qualquer coisa”, tendo em conta o panorama atual do setor e das condições económicas de muitos pescadores, “que não têm ajudas nem de associações nem de nada”.
O diretor nacional do Apostolado do Mar considera fundamental a aposta num diálogo sério entre o Governo e “os sindicatos”.
Uma reflexão na qual a Igreja Católica também está disponível a participar, para “ver o que se pode fazer”, não só ao nível das condições de trabalho e de segurança, mas também da mais-valia que os pescadores devem retirar o seu esforço e suor.
“Devia de haver uma verificação em alta dos preços de venda do pescado, que depois é colocado nas lotas e nos espaços comerciais, para compensar o esforço destes homens”, apontou Armando Jorge Oliveira.
Este domingo, o Apostolado do Mar promoveu na Diocese de Setúbal o seu encontro nacional, com a participação de cerca de 370 pescadores e suas famílias, provenientes de zonas como Viana do Castelo, Caxinas, Nazaré, Peniche, Sesimbra e Fuseta, além das paróquias da Anunciada e São Sebastião, da região sadina.
Na Eucaristia do evento, D. José Ornelas, bispo de Setúbal, alertou para a importância de se salvaguardar os oceanos.
“Que, no mar e em terra, saibamos tratar com justiça e coração, o mar que pode unir este planeta, para criarmos para todos condições de vida, de humanidade e de esperança, escutando a voz do Senhor que conduz a barca da vida de cada um de nós, das nossas famílias, da Igreja e da história”, disse aquele responsável católico.
Na sua homilia, D. José Ornelas alertou ainda para a necessidade de cuidar melhor da segurança dos pescadores, no mar e nos barcos.
Os últimos dias ficaram marcados por casos envolvendo pescadores em risco; o mais mediático disse respeito a um naufrágio ocorrido ao largo da Ilha Terceira, nos Açores, que colocou em causa a vida de sete pescadores da embarcação ‘Pérola do Bom Jesus’.
Os tripulantes acabariam por ser resgatados na madrugada deste sábado.
Jorge Armando de Oliveira salientou que se tratam de situações às quais o Apostolado do Mar tem estado “atento”, para ver “no que pode ajudar”.
Quando às próximas atividades deste setor pastoral da Igreja Católica em Portugal, mais ligado ao Mar, no próximo dia 12 de junho vai decorrer um encontro de responsáveis em Fátima, para avaliar o encontro nacional e traçar linhas de ação para o futuro.
JCP