Sínodo 2018: Três perspetivas sobre três temas debatidos no Sínodo dos Bispos

O mundo digital, as escolhas e a educação vistos por quem está ligado a cada um deles, profissional ou pessoalmente

Lisboa, 26 out 2018 (Ecclesia) – Mundo digital, escolhas dos jovens e educação das novas gerações são três temas em debate no Sínodo dos Bispos, que termina este domingo, e foram analisados por quem se liga a cada um deles, profissional ou pessoalmente.

No mundo digital

 

“Gosto de sentir que há um equilíbrio entre estes mundos: eles são nativos digitais e sem estarem ligados, para eles nada faz sentido”.

Nelson Pimenta é pai de dois adolescentes e diretor digital do grupo Renascença e gosta de ver um equilíbrio entre  o mundo real e o digital.

“Gosto de sentir que há um equilíbrio entre estes mundos: eles são nativos digitais e sem estarem ligados, para eles nada faz sentido”, defende.

O pai de família recorda mesmo um episódio passado entre o seu irmão mais novo, que sempre viveu no estrangeiro e se sentia “longe” dos sobrinhos e sem possibilidade de dialogar.

“Com o meu filho mais novo era difícil a relação tio-sobrinho e disse-lhe que os jogos iam ser a solução. Ele comprou uma ‘Playstation’ e, desde aí, tem um discurso de aproximação e conseguimos saltar e agora falar de tudo”, conta.

Nelson Pimenta defende ainda que enquanto houver equilíbrio entre a vida familiar, a atenção aos pais, amigos e à escola, tudo funciona.

“Mesmo quando a ‘Playstation’ serve para combinar ir andar de bicicleta ou jogar à bola”, graceja.

O diretor digital do grupo Renascença sente ainda um privilégio ter de trabalhar para camadas mais jovens, todos eles nativos digitais.

“Ter esse bom feedback dos jovens, leva-me a confirmar o futuro do digital e sinto que há muito a fazer ainda na relação empresa/cliente mas também empresa/colaborador”, afirma.

“Há um fator que sinto como principal para mim que é a velocidade com que as decisões se tomam. Não há o mesmo nível de atenção, os jovens têm as agendas cheias, mas cada vez mais uma agenda precipitada, e eles habituaram-se a lidar com muita informação, nós é que temos de nos adaptar”, finaliza.

 

Saber escolher

Marta Arrais é professora e pertence à Juventude Hospitaleira, um grupo que lhe proporcionou muitas experiências de vida, em trabalhos junto de pessoas com deficiência e doença mental, que lhe deu a “oportunidade de conhecer o ser humano de outras perspetivas”.

“Os jovens precisam de experimentar e pensar sobre o que estão a experimentar porque é-lhes dado tudo feito e isso não prepara para a vida nem para ser feliz”, afirma.

“A Igreja tem de olhar para os jovens, que não são os mesmos e precisam de ser cativados, para oferecer experiências de vidas boas”, defende em declarações à Agência ECCLESIA.

Olhando as escolhas ao longo do seu percurso de vida, a professora de Inglês consegue apontar vários momentos que a fizeram decidir e melhorar a pessoa que hoje é.

“Na adolescência, que nem sempre é uma fase fácil, eu vivia num meio pequeno e ia à catequese. Cresci e fui também eu dar catequese e, nessa experiência de partilhar com as crianças aquilo que sabia, tive a sensação que isso me ia fazer feliz”, recorda.

Marta foi percebendo a sua vocação para professora, também por alguns conselhos e marcas de professores que “a ajudaram a crescer”.

“Queria ser uma marca na vida dos outros e quando começamos ‘nisto’ de querer dar de nós e de ter uma vida com sentido procuramos outras formas para fazer isso”, explica.

Olhando para a Igreja, nesta realidade sinodal em reflexão sobre os jovens, Marta Arrais aponta que a Igreja se tem de adaptar aos jovens de hoje, “que têm muitas coisas ao seu dispor e estão mergulhados numa série de redes que oferecem possibilidades distantes do essencial”.

 

 

Os jovens precisam de experimentar e pensar sobre o que estão a experimentar porque é-lhes dado tudo feito e isso não prepara para a vida nem para ser feliz

 

Uma educação sólida

 

Os jovens têm sede de espiritualidade e procuram-na em todo o lado. Há um desejo enorme de Deus, de preenchimento de um vazio, mas alguns até vão parar à Igreja por outras motivações

Margarida Costa Pereira é psicóloga e desde a adolescência tem ligação aos grupos de jovens orientados pela Fraternidade Verbum Dei, no Campo Grande, em Lisboa.

Na sua educação destaca as origens, a família, mas também a vivência da espiritualidade.

“Desde os 14 anos até hoje que tenho esta ligação, que fez de mim uma pessoa consciente de quem sou e me fez questionar sobre a minha função aqui, neste mundo, e perceber a minha vocação”, explica.

No seu trabalho do dia a dia, como psicóloga clínica sente que há uma “crise de juventude mas também de humanidade”.

“Estamos numa crise de juventude mas também humana. Há muitas lacunas: a escola, pela sua fragilidade, não consegue dar respostas e os jovens estão inscritos num contexto ‘escola-casa’, muito fechados mas com abertura às redes sociais e tecnologia fechando-se a este mundo real”, afirma.

A jovem de 31 anos contou mesmo casos de alienação que lhe chegam como “famílias que vivem juntas mas que estão sozinhos, pais e filhos sozinhos, sem canais de comunicação genuína”.

Como justificação, a psicóloga aponta a falta de tempo e a dificuldade de aceder à espiritualidade.

“Não há disponibilidade e há dificuldade de aceder à espiritualidade pela quantidade de estímulos, visuais e dos media, e acabamos por ficar cheios e há poucos espaços de contacto de diálogo e encontro, mesmo nas famílias”, refere.

Margarida Costa Pereira pertenceu aos Grupos de Jovens e foi também animadora o que lhe deu uma perspetiva diferente da “procura que os jovens sentem, o vazio que os invade e que não sabem explicar”.

“Os jovens têm sede de espiritualidade e procuram-na em todo o lado. Há um desejo enorme de Deus, de preenchimento de um vazio, mas alguns até vão parar à Igreja por outras motivações”, refere.

“Na minha opinião a Igreja tem de procurar falar aos contextos de vida dos jovens e acolher a diversidade. Ou seja: não negar a complexidade das realidades, as dificuldades, mesmo as questões de sexualidade ou dependências, e poder acolher todos no âmbito da Igreja.”, conclui.

A análise aos temas em debate no Sínodo dos Bispos, que termina este domingo, dia 28, em Roma, foi tema dos programas Ecclesia, emitidos na Antena 1 esta semana, a partir das 22h45.

SN/PR

 

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