Mensagem de Natal do Cardeal-Patriarca de Lisboa

Feliz Natal, Santo Natal, Boas Festas… são palavras que compartilhamos nesta quadra e vos dirijo também nesta noite.

São palavras que sempre regressam e nunca perdem o vigor que as preenche. Há, de facto, um “espírito de Natal”, como um ar novo e tonificante que se respira. Assim chegue a todos os que por ele anseiam e lhes preencha as carências que tenham.

Quando os antigos cristãos colocaram nesta altura a celebração do nascimento de Jesus Cristo, acertaram naturalmente com o tempo em que os dias recomeçam a crescer. Daqui a um mês já se dirá “janeiro fora, cresce uma hora…” E é muito interessante verificar que, um pouco por todo o lado, renascem esperanças e reforçam-se motivações

Será bom, no entanto, e necessário até, recordar o porquê de tudo isto. E o seu porquê é um acontecimento, um facto real e decisivo. Há dois milénios nasceu uma criança, a quem foi posto o nome de Jesus, completado depois com o de Cristo. Nasceu em Belém de Judá, pequena terra e lugar discreto. É exatamente por isso que hoje celebramos o Natal, o seu Natal.

Primeira lição a tirar é a de que as coisas realmente grandes e determinantes acontecem na verdade que têm e transportam, sem precisarem de ostentação. Aliás, quando Jesus cresceu e pregou as “bem-aventuranças”, começou pelos pequenos e pobres, que intimamente o sejam.

Reparemos, porém, que a notícia do seu nascimento traz também uma nota de contraste, algo dramática até. Diz que foi deitado numa manjedoura, por não haver lugar na hospedaria… E nem os presépios bonitos que hoje lhe façamos podem encobrir que assim foi.

“Não teve lugar na hospedaria”: Aconteceu com ele, como continua a acontecer com muitos. Nas sociedades que integramos e nas cidades que habitamos continua a não haver “hospedaria” para todos. Por razões económicas ou outras que se acrescentem, continuam a faltar condições para que todos possam nascer e crescer, como para viver o seu percurso natural completo, com o envolvimento solidário que merecem. Significa saúde e trabalho, repouso e habitação condigna. Significa respeito e companhia. Significa ninguém ficar de fora dum mundo de todos para todos.

Os cristãos acreditam que Jesus continua a alargar o seu Natal em cada ser humano com quem se identifica. Muita desta crença tornou-se convicção generalizada, reforçando a dignidade humana e os seus direitos, como há setenta anos se proclamaram em declaração universal.

Proporcionemos, então, a cada um dos nossos contemporâneos, a “hospedaria” em que Jesus não teve lugar ao nascer. Transformemos o seu presépio na grande hospedaria do mundo!

+ Manuel Clemente

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Agência ECCLESIA

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