Programa de domingo inclui homenagem aos que foram perseguidos pelo KGB e às vítimas do Gueto
Kaunas, Lituânia, 23 set 2018 (Ecclesia) – O Papa Francisco alertou hoje na Lituânia para o perigo de novos totalitarismos na Europa, recordando os dramas do século XX como exemplo de que o “mal procura sempre aniquilar o bem”.
“Façamos memória daqueles tempos e peçamos ao Senhor que nos conceda o dom do discernimento para descobrir, a tempo, qualquer novo germe daquele comportamento pernicioso, qualquer aragem que atrofie o coração das gerações que, não o tendo experimentado, poderiam correr atrás daqueles cantos de sereia”, disse, no final da Missa a que presidiu, perante cerca de 100 mil pessoas, na cidade de Kaunas.
Após o regresso a Vilnius, o programa do Papa, este domingo, inclui uma passagem pela antiga sede do KGB, o Museu da Ocupação e Lutas pela Liberdade na Lituânia, e uma oração pelas Vítimas do Gueto, um memorial do Holocausto.
“Há 75 anos, esta nação assistia à definitiva destruição do Gueto de Vilna; culminava, assim, o aniquilamento de milhares de judeus, que começara dois anos antes”, recordou Francisco, no Parque Santakos de Kaunas, cidade que foi um bastião da resistência católica durante a perseguição soviética.
O Papa assinalou que, ao longo da história, aconteceu muitas vezes que um povo se julgou “superior, com mais direitos adquiridos, com maiores privilégios a preservar ou conquistar”.
O ímpio tem a pretensão de pensar que a sua força é a norma da justiça: submeter os mais frágeis, usar a força sob qualquer forma, impor um modo de pensar, uma ideologia, um discurso dominante, usar a violência ou a repressão para dobrar aqueles que, simplesmente com o seu agir honesto, simples, laborioso e solidário de todos os dias, manifestam que é possível outro mundo, outra sociedade”.
O Papa propôs como alternativa uma “globalização da solidariedade”, ao encontro dos “descartados” da sociedade.
Francisco falou depois da “colina das cruzes”, na Lituânia, um local visitado por São João Paulo II, em 1993, pouco depois do final da ocupação soviética.
“Convido-vos, enquanto rezamos o ângelus, a pedir a Maria que nos ajude a plantar a cruz do nosso serviço, da nossa dedicação onde precisam de nós, na colina onde moram os últimos, onde se requer a delicada atenção aos excluídos, às minorias, para afastar dos nossos ambientes e das nossas culturas a possibilidade de aniquilar o outro, marginalizar, continuar a descartar quem nos incomoda e perturba as nossas comodidades”, concluiu o Papa.
Francisco vai passar este domingo pelas celas da antiga prisão do KGB, local onde muitas pessoas, incluindo sacerdotes e bispos católicos, foram torturados ou executados, alguns dos quais com processos de beatificação em curso.
O pontífice vai rezar em silêncio junto de duas celas e da zona de execuções, acompanhado por antigos detidos.
O Papa visita ainda o Monumento das Vítimas do Gueto em Vilna, no 75.º aniversário da sua destruição, com um pensamento “especial para a comunidade judaica”.
“Que o Altíssimo abençoe o diálogo e o empenho comum pela justiça e a paz”, disse, no final da Missa em Kaunas, onde almoça com os membros da Conferência Episcopal da Lituânia.
A viagem ao Báltico, iniciada no sábado, prossegue até terça-feira com passagens pela Letónia e Estónia, no centenário da independência destes países.
OC