Novos Estatutos do Santuário de Fátima e questão dos abusos de menores entre os temas abordados na conferência de imprensa final
Fátima, 15 nov 2018 (Ecclesia) – A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou hoje em Fátima a sua preocupação com notícias acerca do “tráfico de pessoas, escravatura e exploração humana”, inclusive no país.
O comunicado final da Assembleia Plenária da CEP, que se iniciou esta segunda-feira, apela a uma “maior atenção das autoridades e da sociedade a este problema”.
O presidente da CEP insistiu nesta ideia, em declarações aos jornalistas.
“Não podemos deixar de fazer este apelo, para que, quer como sociedade, na qual nos integramos, quer as autoridades do Estado, estejam muito atentos a este problema”, observou D. Manuel Clemente.
Durante a assembleia, a Conferência dos Institutos Religiosos apresentou a publicação do ‘Manual para ações de prevenção do tráfico de pessoas e de assistência às vítimas Talitha kum – Levanta-te’.
O comunicado final evoca ainda o centenário do Armistício da I Guerra Mundial, pedindo uma “paz assente sempre na defesa da dignidade humana, na procura do bem comum, na solidariedade efetiva entre os povos, na caridade e na justiça, valores evangélicos inerentes à mensagem cristã”.
A esse respeito, foi evocada a celebração, no próximo domingo, do Dia dos Seminários e do Dia Mundial dos Pobres.
“Esta coincidência reforça a associação do dom da Vocação Sacerdotal ao cuidado pelos pobres, uma dimensão essencial da identidade e missão da Igreja”, pode ler-se.
D. Manuel Clemente sublinhou, em resposta aos jornalistas, que tanto a “ação sociocaritativa da Igreja, como as outras ações, todas funcionam em conjunto”.
O cardeal-patriarca foi questionado sobre problemas ligados à Casa do Gaiato ou outras obras do padre Américo, admitindo um “desentendimento” entre a proposta original e a visão do Estado, em particular da Segurança Social.
O presidente da CEP refere que a proposta do padre Américo “contava muito com a participação dos próprios”, dos jovens, das crianças, dos doentes.
“É uma metodologia que teve grandes méritos”, mas que não é hoje “a maneira de responder a essas necessidades”, acrescentou.
A assembleia da CEP avaliou ainda o impacto do recente Sínodo dos Bispos, realizado em outubro, no Vaticano, elencando os “próximos passos que a Igreja é chamada a seguir: avançar em estilo sinodal; tomar os jovens como sujeitos ativos da missão e protagonistas na vida eclesial; elaborar um Diretório de pastoral juvenil em chave nacional a nível nacional”.
O cardeal-patriarca de Lisboa admitiu a necessidade de “maior protagonismo dos jovens, no que lhes diz diretamente respeito”, com uma “voz mais ativa” nos organismos episcopais mais ligados às realidades juvenis.
A próxima assembleia plenária vai propor “orientações pastorais” sobre o Matrimónio, assinalando a “novidade da proposta matrimonial cristã”.
A Assembleia aprovou os novos Estatutos do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que serão enviados à Santa Sé, e debateu uma proposta comum de taxas, tributos e emolumentos para todas as dioceses.
D. Manuel Clemente realçou que os bispos sentiram a necessidade de caminhar para “tabelas comuns”, relativas ao “contributo” para as despesas do culto e sustentação do claro, algo que se faz habitualmente “por ocasião” dos Sacramentos.
A nova proposta pode admitir um ajuste na contribuição solicitada, a fazer “da maneira mais justa possível” nas comunidades católicas e com “transparência”, como forma de responder aos custos associados à vida “no meio urbano” e às deslocações, em concreto.
“Tudo isto hoje é muito mais caro do que foi noutros tempos”, observou o presidente da CEP.
O patriarca de Lisboa manifestou preocupação com as “fake news”, que considerou um “problema grave” para a Igreja e a sociedade, pedindo que exista uma distância “crítica” por parte dos indivíduos e dos grupos.
OC
Abordar abusos sexuais sem generalizaçõesEm resposta a uma pergunta sobre a ação da Conferência Episcopal relativamente ao tema dos abusos sexuais, o cardeal-patriarca de Lisboa recordou que existem diretivas desde 2012, que vão ser seguidas “se surgirem casos”. D. Manuel Clemente considerou que estes devem ser analisados “pessoalmente e sem generalizações”. “Neste campo, tudo é mau, mas nem tudo é igual”, observou. O cardeal-patriarca acrescentou, que “para já”, não está em cima da mesa um estudo nacional sobre os casos, mais aprofundado, admitindo que isso seja possível, “se for necessário”. “O tema já foi tratado e continua a ser acompanhado por todos nós”, sustentou. O presidente da CEP observou que, mesmo casos “arquivados” pela Justiça civil continuam a decorrer nas instâncias canónicas, no Vaticano. As diretrizes para casos de abuso sexual de menores, divididas em 51 pontos, responderam a uma exigência feita pela Congregação da Doutrina da Fé, organismo da Santa Sé. |