Cardeal Gianfranco Ravasi falou aos padres das dioceses do sul de Portugal
Albufeira, 30 jan 2018 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício para a Cultura (Santa Sé), D. Gianfranco Ravasi, disse hoje em Albufeira que o Cristianismo implica um diálogo que seja verdadeiro “encontro”, rejeitando qualquer tentação de se fechar.
“O Cristianismo não é uma religião de seita, que estejas protegida num oásis, fechada em si mesma”, defendeu o cardeal italiano, perante cerca de uma centena de participantes na jornada anual de formação do clero do sul de Portugal.
O conferencista convidou os presentes a ter “confiança” também no valor cultural da mensagem cristã, perante o “secularismo”, a “indiferença” na sociedade, uma atitude de “desencanto do mundo” que nega a transcendência e os valores tradicionais, tornando a verdade “refinadamente subjetiva”.
D. Gianfranco Ravasi sublinhou que é necessário “entrar no horizonte do mundo para sujar as mãos e os pés” para dar vida à “Igreja em saída” de que fala Francisco.
Segundo o presidente do Conselho Pontifício da Cultura considerou que a relação entre o Cristianismo e a sociedade deve ser marcada pelo “otimismo”, precisando que o diálogo é o método “com o qual entrar no mundo”, em “escuta e respeito pelo outro ‘logos’”.
Para dialogar, acrescentou, é preciso “aprofundar o discurso”, um diálogo também com a ciência e a técnica, ajudando a “distinguir melhor entre as vias de conhecimento”, que não se limitam à vertente científica.
“Uma das doenças do nosso tempo é a superficialidade”, advertiu.
O colaborador do Papa falou ainda na “doença” do “apateísmo”, uma mistura de apatia e ateísmo, num tempo mais inclinado para “a recusa” do que para o encontro.
O encontro de atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal tem como tema “Desafios para uma Igreja ‘Semper Renovanda’. Secularização, Diálogo, Discernimento” e conta, pelo 11.º ano consecutivo, com a organização do Instituto Superior de Teologia de Évora.
D. Gianfranco Ravasi falou hoje sobre o tema “Diálogo: a nova postura de uma Igreja em saída” e vai abordar esta quarta-feira sobre “A evangelização da Cultura: desafio e tarefa ingente”.
As jornadas de “atualização” do clero começaram na segunda-feira, com uma reflexão sobre o Concílio Vaticano II, por Juan Pablo García, religioso da Ordem Trinitária e professor da Universidade Pontifícia de Salamanca.
Na manhã de hoje, os participantes ouviram uma intervenção sobre “As múltiplas raízes da Secularização nos países de tradição religiosa cristã”, do investigador Sérgio Ribeiro Pinto, do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
João de Deus Pinheiro, antigo comissário europeu, falou depois sobre “Os desafios que a Europa e o projeto europeu nos colocam”.
Para este responsável, a Europa deve ser grata por ter “uma Igreja forte”, propondo ao mundo uma “visão de valores”.
“Aquilo que faz da Europa diferente são os valores que ela tem”, insistiu.
Esta jornada de formação do clero vai ser encerrada, na quinta-feira, com um painel dedicado a “Experiências positivas de diálogo e evangelização, numa sociedade multicultural, multirreligiosa e secularizada”.
JCP/OC
Fotos: Samuel Mendonça/Folha do Domingo