Roteiro pelo património religioso do norte de Portugal revela dinamismo cultural
O excecional valor cultural do património religioso justifica uma visita prolongada, em particular neste tempo de férias para muitas pessoas. Se estiver no Norte de Portugal, lembre-se que a região acolhe um terço das Catedrais do país: Braga, Bragança, Lamego, Miranda do Douro, Porto, Vila Real e Viana do Castelo.
A Operação Rota das Catedrais, que nasceu em 2009, através de um Acordo de Cooperação celebrado entre o Ministério da Cultura e a Conferência Episcopal Portuguesa, tem ajudado a promover intervenções infraestruturais de qualificação e valorização no Património imóvel, móvel e integrado, bem como uma ação de promoção e gestão transversal a todos os espaços.
A coordenação e acompanhamento técnico é da competência da Direção Regional de Cultura do Norte, dirigida por António Ponte.
São Gonçalo de Amarante
A reportagem da ECCLESIA foi até ao norte do país conhecer o trabalho desenvolvido pela Direção Regional de Cultura, em várias operações de valorização do património, e visitou a igreja de São Gonçalo de Amarante.
O edifício começou a ser restaurado em agosto de 2013, numa obra que demorou nove meses a ser concluída. Uma igreja histórica, junto à famosa ponte sobre o Tâmega, que ainda hoje apresenta as marcas das invasões francesas de 1809.
A Igreja de São Gonçalo é o monumento mais visitado de Amarante e, além da sua importância histórica, é um local de referência para os devotos da região.
No interior da igreja, o pároco de Amarante fala sobre o que significa este espaço como símbolo de uma paróquia viva.
Padre José Manuel Ferreira, Pároco de Amarante
A Diocese de Lamego é uma das mais históricas de Portugal, sendo possível recuar até, pelo menos, ao século VI. Em 1882 chegou a ser decidido a sua extinção, mas a oposição unânime do clero, povo e município levou o Governo a desistir do seu propósito.
A Sé de Lamego foi fundada em 1129. É uma catedral gótica, mantém a torre quadrada original, mas o resto da arquitetura reflete as modificações feitas nos séculos XVI e XVIII.
Padre José Ferreira, pároco da Sé de Lamego
A Diocese de Lamego é uma das mais históricas de Portugal, sendo possível recuar até, pelo menos, ao século VI. Em 1882 chegou a ser decidido a sua extinção, mas a oposição unânime do clero, povo e município levou o Governo a desistir do seu propósito
O Concelho de Tarouca, na Diocese de Lamego, é o território onde se iniciou a presença da Ordem de Cister em Portugal. Os monges Monges Brancos tiveram a proteção de D. Afonso Henriques e da aristocracia portucalense, desempenhando um papel relevante no processo de afirmação do Reino de Portugal como entidade política autónoma.
Conhecer o património é, por isso, conhecer a história e compreender melhor o presente. A Direção Regional da Cultura do Norte quer instalar uma Rede de Monumentos no vale do Varosa, abrangendo os concelhos de Tarouca e de Lamego, numa estratégia integrada a nível regional.
Elvira Coelho, diretora do Serviço de Bens Culturais da Direção Regional da Cultura do Norte
Pelo seu carácter e valor muito particulares e capital simbólico, os espaços patrimoniais disseminados pela Região Norte reúnem todas as condições para se assumirem como âncora de uma renovada oferta de experiências culturais e criativas únicas, dinamizando a economia, envolvendo as comunidades e valorizando de forma sustentável a sua paisagem natural e cultural.
Miranda do Douro, a cidade, nasceu para dar origem à Diocese transmontana e à sua primeira Catedral. Uma marca de identidade que permanece até hoje, evocando uma longa história que nem sempre ficou bem resolvida, quando a sede diocesana passou para Bragança.
Celina Pinto, Diretora do Museu da Terra de Miranda
Padre Manuel Coutinho, pároco da Sé de Vila Real
A Sé de Vila Real, a antiga igreja de São Domingos, é um raro e valioso exemplo transmontano da arquitetura gótica. Impressionam ainda hoje a extrema robustez dos seus muros ou a escassa iluminação do interior são elementos conotados com o Românico que se prolongaram ao longo de toda a Baixa Idade Média no Norte do reino.
Muito tempo passou antes que o templo dominicano albergasse a sede da Diocese de Vila Real, criada em 1922. Hoje a história convive com um projeto inovador, nos quais se destacam os trabalhos em vidro do pintor João Vieira, uma composição inspirada no prólogo do Evangelho Segundo São João e nos outros três evangelistas. Um diálogo com a arte reforçado pelo novo órgão de tubos.
São exemplos de uma nova dinâmica de turismo cultural na região Norte. Em causa está a salvaguarda e proteção do património, mas também a sua dinamização, divulgação e consequente fruição por parte do público.