Viseu: Capelas São Macário de Cima e São Macário de Baixo apresentam lenda de eremita que se dedicou à oração após «grande pecado»

Padre Pedro Leitão, pároco do Sul e São Martinho das Moitas, faz contextualização histórica das duas ermidas, situadas em São Pedro do Sul

Viseu, 08 ago 2024 (Ecclesia) – A Diocese de Viseu abrange no território as capelas de São Macário de Cima e São Macário de Baixo, que contam a história de um eremita que se refugiou na serra, após matar o pai, por acidente.

De acordo com o padre Pedro Leitão, pároco do Sul e São Martinho das Moitas, São Macário abrigou-se na serra, em São Pedro do Sul, onde se alimentava de frutos silvestres e, segundo a lenda, ali ficou até morrer, para de certa forma “ter a conversão da sua vida e do seu grande pecado”.

“Veio como sinal de penitência e depois era visto também como um santo. As pessoas vinham ter com ele, até porque ele seria um pouco esotérico, no sentido de alguém que vive assim sozinho no alto do monte, as pessoas vinham receber alguns conselhos de São Macário, e por isso era um personagem que toda a gente gostava”, explica.

Apenas 200 metros separam as duas capelas, sendo que a mais antiga é a de São Macário de Cima (já existia em 1675), que é constituída por uma muralha que servia “para proteger do vento” e do “gelo” que ali se fazia sentir, conta o pároco.

O padre Pedro Leitão relata que os romeiros realizavam a penitência de subir o monte e chegando ao cimo da serra, distribuíam moedas pelos pobres.

“O jejum já estava a ser feito e o esforço da caminhada, porque eram caminhos tortuosos para chegarem cá acima, e depois ainda faziam a esmola aos pobres e necessitados e depois a oração”, adianta.

A Capela de São Macário de Cima é constituída por uma imagem do eremita que, segundo o pároco, é muito venerada pelos paroquianos.

“Há um grande amor que as pessoas aqui na paróquia têm pelo São Macário e, por isso, quando é a altura da festa, no último fim de semana de julho e no último sábado de agosto, chamado sábado derradeiro, há uma grande participação das pessoas para ajudar, para perceber se está tudo bem, e até o cuidado aos peregrinos”, refere.

A simbiose entre a natureza e o património é uma realidade que quem reside na região ou visita o património pode experimentar.

“A comunhão com a natureza, o cuidado da casa de todos, realmente esta preocupação com a ecologia está muito patente, também aqui na serra, porque há essa ligação direta, até o cuidado para não sujar, para não poluir, e há sempre esse cuidado”, destaca o padre Pedro Leitão.

Segundo o sacerdote, havia uma rivalidade “feroz” entre a capela de São Macário de Cima e a capela de São Macário de Baixo, que até há 50 anos ainda existia, baseada em quem mais peregrinos recebia.

“Para São Martinho das Moitas, o São Macário de cima é que é o verdadeiro, para as pessoas de Sul, o São Macário de baixo é que é o verdadeiro”, dá conta o pároco, que explica que esta é uma questão que é agora encarada com algum “humor”.

Sobre a história da capela mais nova, o padre Pedro Leitão conta que esta ermida foi mandada edificar em 1979 pelo padre João de Melo Abreu.

Em causa estava uma contenda com o pároco de São Martinho das Moitas, com ambos a reivindicarem as esmolas deixadas pelos muitos devotos.

Esta capela é composta por uma gruta que tem uma passagem que exige aos visitantes que se baixem para conseguirem passar.

“Temos aqui uma grande tradição, que no dia da festa, que é o último fim de semana de julho, vem muita gente, há uma fila imensa para passarem na gruta”, refere o pároco.

“Diz-se também que quem passa que fica melhor da cabeça”, conta, uma vez São Macário era também conhecido por ser protetor das doenças da cabeça.

“Muita gente traz as cabeças de cera […] para de facto pedir essa proteção e ajuda e auxílio para as doenças mentais”, revela.

A ermida mais a sul, onde Macário dormia é, segundo o padre Pedro Leitão, um sítio mais “acolhedor” e mais “fresco”, envolvido com “mais árvores”.

O sacerdote salienta que é notória a “emoção das pessoas” na visita às duas capelas, “seja através das lágrimas, seja através da oração compenetrada, seja pelo silêncio”.

“Quando é aqui a celebração da Eucaristia, estes montes estão cheios de gente e há um silêncio. Há um silêncio orante, há um silêncio de presença, há um silêncio que mostra a Deus”, indica.

As capelas de São Macário de Cima e de São Macário de Baixo foram hoje apresentadas, no Programa ECCLESIA, que a cada quinta-feira do mês de agosto propõe destinos como propostas de visita.

LFS/LJ

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