Violência doméstica… quando elas são “os agressores” …

Maria Isabel Ribeiro, Diocese de Bragança-Miranda

Quase todos os dias somos confrontados, através dos meios de comunicação social, com notícias tristes e trágicas sobre crimes de violência doméstica. Conhecemos de memória o perfil do agressor. Homem, próximo da vítima, normalmente, o companheiro, com falta de empatia, baixa autoestima, ciumento, … .

São tão frequentes e numerosos os casos que, quando se fala no tema, naturalmente, a opinião pública associa-o, prontamente, às vítimas mulheres. Contudo, e não desvalorizando o facto da maioria das vítimas serem mulheres, mais de 80% dos crimes de violência doméstica envolvem vítimas do género feminino, não podemos esquecer que há outras vítimas que sofrem, ao serem, frequentemente, expostas a situações cruéis de assédio, abusos, manipulação, degradação, controlo, críticas, humilhação e desvalorização humana.

Há homens que são vítimas de violência às mãos de mulheres. Uma realidade oculta que ocorre a “portas fechadas” e que só é visível e conhecida por quem a vivencia. Por pudor, pedir ajuda está fora de questão! Se, para as mulheres, é complexo, para os homens, a vergonha de eles próprios serem as vítimas, impede-os de procurar qualquer tipo de auxílio. Afinal de contas, está em causa a sua masculinidade!

A Sociedade desvaloriza este tipo de crime. Pode lá ser, um homem ser vítima de violência às mãos de uma mulher?! Mas, sim. Os homens, também, são vítimas de violência doméstica. Desvalorizar estes flagícios, não lhes dando a visibilidade e o destaque merecidos ajuda a perpetuar o crime de violência doméstica. Não se pode ignorar que, tal como acontece, quando os homens são os agressores, as mulheres agressoras, também cometem crimes de violência doméstica contra os seus filhos.

De acordo com a Rede Nacional de Apoio a Vítimas de Violência Doméstica, em Portugal, entre julho e setembro de 2023, foram acolhidas 1478 pessoas, entre as quais, 48,6% eram crianças, registando-se um crescimento de 3,8% de crianças acolhidas comparativamente a 2022. Já a Associação de apoio à Vítima de Violência Doméstica reporta que, nos últimos três anos, apoiou 31.117 pessoas. Além disso, «Durante este mesmo período estão em causa perto de 65 mil crimes, que em 2023 chegaram a um máximo de 22.375.», tornando-se a violência cada vez mais violenta.» (Entrevista de Daniel Cotrim a Marta Gonçalves em Expresso, 2024-03-0:Mais de 31 mil vítimas de violência doméstica em três anos – Expresso).

Segundo o entrevistado, as denúncias de violência vão aumentando e vão chegando mais cedo mas as estruturas policiais, sociais e judiciais continuam lentas levando muitas as vezes as vítimas ao desânimo.

Porém, devemos persistir, por obrigação moral, cívica, de solidariedade e de intropatia e denunciar qualquer incidente de violência doméstica de que tenhamos conhecimento e socorrer todas as pessoas em situação de vulnerabilidade, particularmente, as crianças.

Maria Isabel Ribeiro
Comissão Diocesana Justiça e Paz – Bragança-Miranda

 

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