A catequese por entregar

D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém

A catequese surgiu para transmitir a fé. Com a descrença, as confusões e a ignorância, a catequese tornou-se uma tarefa primordial para orientar no caminho da fé. Assim se pronunciou o Sínodo sobre catequese em 1977 que deu origem à Exortação Apostólica “Catechesi Tradendae”, publicada por João Paulo II em 1979 (C.T.). Traduzindo em português, seria: “da catequese a entregar”. Ou seja, nós que recebemos a fé, temos a missão de a entregar, como afirma São Paulo: “Recebi o que vos entreguei (ou “transmiti”)…1 Cor 15, 1-8). Ora, na geração atual, parece ter-se quebrado esta cadeia de transmissão ou de entrega do tesouro da fé que recebemos. Que estará a faltar? A catequese de infância tem sido objeto de uma profunda renovação com o esforço de muita gente dedicada. Também a de jovens conheceu um notável impulso sobretudo com as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Mas a catequese de adultos está ainda por renovar e por entregar, ou seja, a formação cristã de adultos está ainda por se efetuar de forma eficaz. Portanto, precisamos de cuidar desta área. Porque não chegamos aos mais novos de não for através dos adultos: pais, catequistas, educadores, membros da comunidade cristã. A eles que receberam a fé compete a missão de a entregar.

A catequese de adultos foi realçada pelo referido sínodo de 77 como prioritária: “a catequese dos adultos é a principal forma de catequese porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades e capacidade para viverem plenamente a mensagem cristã (…) O mundo é governado por adultos” C.T. 43/44). Notamos a veracidade desta afirmação na vida das nossas comunidades. Onde há um núcleo de adultos participativo e ativo, a comunidade tem vida, é dinâmica, motiva a integração e participação das outras faixas etárias. De facto, a base das comunidades cristãs é muito condicionada pelos adultos. Na verdade, a renovação da igreja, designadamente a sinodalidade, só avança se houver adultos empenhados e esclarecidos. Mas se eles não vêm? Vamos nós chamá-los, um de cada vez. Como Jesus procedeu. Se houver um pequeno núcleo, eles chamam-se uns aos outros. Neste dinamismo desempenham um papel importante os movimentos de evangelização ligados aos adultos. Desde que promovidos, apoiados e integrados na comunidade cristã.

Hoje é difícil congregar adultos, pois se encontram preenchidos e dispersos por muitas atividades e solicitações. Mas chamados um a um, acolhidos, escutados, reconhecidos e com espaço de participação, aderem. É importante que a catequese se faça em grupo onde todos participem como membros ativos e responsáveis e cresçam na amizade fraterna. E que tenha um programa organizado, direcionado para uma síntese da fé. Palestras pontuais ajudam se encaminharem para um grupo. É nestes que se cria ambiente de partilha, relação humana e diálogo fraterno e, assim, se promovem fermentos de evangelização. Sem cair na casuística, mas orientados para iluminar o presente e descobrir caminhos para um futuro. Não basta uma lição escutada. Eles também aprenderam com a vida e precisam de confrontar ideias, partilhar experiências. O que se ouve facilmente esquece. Permanece o que se assimila. O jubileu é uma boa oportunidade para esta catequese.

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