Vêm aí os cem anos: que levamos para a festa?

António Santos Lourenço, sj

Dentro de um mês assinala-se o centenário da I Guerra Mundial. Os revivalistas imperialistas, na política, na religião, na vida social e familiar, no mundo do trabalho, vão encontrando, obviamente, pares e interlocutores por todo o lado.

Daqui a um mês, previsivelmente muitos líderes mundiais juntar-se-ão em Compiège, no norte de França, para celebrar com toda a pompa o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. Será, também previsivelmente, uma cerimónia com a beleza que as bonitas paradas militares oferecem e com a inconsistência que o peso na consciência marca. No seu habitual discurso ao Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, o Papa Francisco aludiu em Janeiro a duas advertências que a História da Primeira Guerra Mundial nos faz.

A primeira é que vencer nunca significa humilhar o adversário derrotado. Quando falamos em humilhação referimo-nos, por exemplo, à insuportável sobrecarga imposta sobre a Alemanha no pós-guerra e que atiçou movimentos nacionalistas por demais conhecidos. Claro que podemos dizer que mereciam pagar pelo que fizeram – e este é um ponto que podemos levantar: o que queremos de facto dizer, quando falamos em justiça? Penalizar? Corrigir? Vingar? E pensamos no impacto social que as penas acarretam? Quando se fala em penas, importaria não só aferir o que o condenado deve pagar para repor o mal que fez, mas também – e sobretudo – que fruto queremos efectivamente com tal pena e quais serão as consequências que isso traz. No fundo, ao aplicar a justiça, aquilo que se quer é deixar claro ao condenado que ele errou ou cortar a cadeia do mal?

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