Vaticano: Portugal representado em congresso sobre «futuro da União Europeia»

Iniciativa dos bispos do Velho Continente conta com a participação do Papa Francisco

Cidade do Vaticano, 27 out 2017 (Ecclesia) – A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) promove entre hoje e domingo, em Roma, o congresso “Repensar a Europa: contribuição cristã para o futuro da União Europeia”.

A iniciativa decorre no Vaticano, na Sala Nova do Sínodo, com a participação do Papa Francisco e mais de 350 pessoas vindas dos vários países europeus: delegados católicos e de outras denominações cristãs, cardeais, bispos e sacerdotes, também responsáveis políticos, embaixadores e académicos

Está inserida na comemoração do 60.º aniversário da assinatura dos tratados que estiveram na origem da atual UE.

Em representação de Portugal participam o arcebispo de Braga e delegado da Conferência Episcopal Portuguesa na COMECE, D. Jorge Ortiga; também Pedro Vaz Patto, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz; o antigo ministro António Bagão Félix; e o eurodeputado José Manuel Fernandes.

Destaque ainda para a presença na comitiva da antiga deputada Maria Rosário Carneiro; do deputado João Poças Santos; do padre Manuel Augusto Ferreira, superior geral dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus; de Sofia Salgado Pinto, diretora da Faculdade de Economia e Gestão da UCP Porto; de José Veiga de Macedo, vice-presidente da Federação Europeia das Associações de Famílias Católicas; e do padre Duarte da Cunha, secretário geral do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

Em entrevista à Rádio Vaticano, o presidente da COMECE, cardeal Reinhard Marx, salienta a importância da Igreja Católica dar um sinal de “coragem” e de “confiança” ao projeto europeu, numa altura em que este enfrenta grandes desafios.

“A Europa deve continuar em sua evolução, inclusive e propriamente por causa das crises do passado. Não podemos voltar para trás. É claro que é preciso muita coragem, a Europa já não é mais aquele lugar solarengo de há anos atrás. Há menos otimismo, menos vontade de uma vida em comum; pelo contrário, os sinais indicam uma tendência para a divisão”, salienta aquele responsável.

O arcebispo alemão refere-se implicitamente a situações como o brexit, a vontade do Reino Unido em sair da UE, ou a crise de refugiados que fez repensar a questão das fronteiras no Velho Continente, e os laços entre os países.

Para o presidente da COMECE, o tempo é “de busca”, de perceber o que se quer para a Europa “no futuro, nos próximos 20 ou 50 anos”.

E nesse contexto, “a Igreja quer dar o seu contributo”, recordando que “a Europa é um projeto, um projeto ao qual não se pode renunciar”, porque nasceu de uma génese “única”.

O ideal de “povos e nações renunciarem a uma parte da sua soberania para trabalhar juntos e nunca mais fazer a guerra uns contra os outros”.

“E sobretudo colaborar para obter vantagens comuns e o bem-estar de cada povo, no respeito pelos direitos humanos, com a democracia, com a ajuda das Constituições, com o Estado de direito. E esse é um fato grandioso. Às vezes é preciso recordar isso – há uma grande tendência a esquecer”, lamenta o cardeal Reinhard Marx.

Desafios como as alterações climáticas e a pobreza, “não esquecer” os mais carenciados, a necessidade de “uma maior solidariedade e subsidiariedade em favor da Europa”, o “diálogo” à volta dos “valores fundamentais sobre os quais a Europa se baseia”, todos estes aspetos serão abordados ao longo dos três dias do congresso.

O responsável pela COMECE reconhece que contar com o Papa Francisco será uma riqueza, no sentido em que deste modo todas as mensagens sairão mais reforçadas.

“Pensemos na questão do clima, no grande conceito expresso pelo Papa, da ‘casa comum da Criação’; pensemos no fato que devermos fazer-nos presentes para todos, a fim de que os pobres estejam sempre em nosso campo visual junto à geração futura. A Europa tem nisto uma grandíssima responsabilidade, e provavelmente o Papa reiterará isso, por ocasião do Congresso”, antecipa D. Reinhard Marx.

O mesmo se pode aplicar à questão dos refugiados, que o Papa argentino já tem abordado várias vezes, para que a Europa seja “parte do futuro”, para que “não se retire para o seu mundo fechado”, alheia ao sofrimento “como um muro”.

“Uma Europa murada e alheia ao que se passa ao redor é estéril”, aponta o presidente da COMECE, que recorda ainda outro Papa, João Paulo II, que “repetiu muitas vezes que a Europa significa abertura”.

(noticia atualizada hoje às 09h28)

JCP

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