Vaticano: Papa defende comunicação sem «preconceitos», convidando a «escutar com o coração»

Discurso de Natal à Cúria Romana alerta para o perigo de ser «lobos vorazes», incapazes de acolher os outros

Foto: Vatican Media
(imagem de arquivo)

Cidade do Vaticano, 21 dez 2023 (Ecclesia) – O Papa disse hoje aos membros da Cúria Romana que é preciso acolher o outro sem “preconceitos” e com o “coração”, alertando para a incapacidade de escuta que se vive no mundo contemporâneo.

“Escutar com o coração é muito mais do que ouvir uma mensagem ou trocar informações; trata-se duma escuta interior capaz de intercetar os desejos e as necessidades do outro, duma relação que nos convida a superar os esquemas e vencer os preconceitos com que, às vezes, enclausuramos a vida daqueles que nos rodeiam”, assinalou Francisco, durante o encontro anual para a troca de votos natalícios, com os seus mais diretos colaboradores.

Falando na Sala das Bênçãos do Palácio Apostólico, o Papa sustentou que, “também na Cúria há necessidade de aprender a arte da escuta”.

“Escutemo-nos mais, sem preconceitos, com abertura e sinceridade; com o coração de joelhos. Escutemo-nos, procurando compreender bem o que diz o irmão, captar as suas necessidades e de algum modo a sua própria vida, que se esconde por detrás daquelas palavras, sem julgar”, apelou.

Francisco alertou para o risco de ser “lobos vorazes”, na comunicação, sem “espaço de silêncio entre a escuta e a resposta”.

“Procuramos de imediato devorar as palavras do outro, sem verdadeiramente as escutar, e logo lhe atiramos à cara as nossas impressões e os nossos juízos”, lamentou.

O Papa convidou a superar o “pingue-pongue” da comunicação moderna, deixando um conselho: “Primeiro ouve-se, em seguida no silêncio acolhe-se, reflete-se, interpreta-se, e só depois podemos dar uma resposta”.

A intervenção partiu de três verbos, “escutar, discernir, caminhar”, como orientação para a vida de fé e o trabalho desenvolvido no Vaticano.

“Antes dos nossos deveres quotidianos e das nossas atividades, sobretudo, antes das funções que desempenhamos, é preciso descobrir o valor das relações e procurar despojá-las dos formalismos, animá-las de espírito evangélico, começando por nos escutarmos uns aos outros… com o coração e de joelhos”, indicou Francisco.

O Papa apresentou a escuta recíproca como o “início dum caminho”, apresentando o exemplo da Virgem Maria.

“Escutar de joelhos é o melhor modo para escutar de verdade, pois significa que estamos diante do outro, não na posição de quem pensa que sabe tudo, de quem já interpretou as coisas ainda antes de as ouvir, de alguém que olha de cima para baixo”, observou.

Escutar é diferente de ouvir. Quando caminhamos pelas ruas das nossas cidades, podemos ouvir muitas vozes e ruídos, mas geralmente não os escutamos nem interiorizamos, pelo que não permanecem dentro de nós”.

A saudação inicial esteve a cargo do decano do Colégio Cardinalício, D. Giovanni Battista Re, o qual evocou um ano “particularmente duro”, devido às guerras e aos “sofrimentos desumanos” de muitas pessoas, em todo o mundo.

O Papa começou por evocar este tempo “tristemente pelas violências da guerra”, pelos “riscos “das alterações climáticas, “pela pobreza, pelo sofrimento, pela fome”.

“Consola descobrir mesmo nestes lugares de dor, como aliás em todos os espaços da nossa frágil humanidade, que Deus se torna presente neste berço, na manjedoura que escolhe hoje para nascer e levar a todos o amor do Pai; e fá-lo com o estilo de Deus: proximidade, compaixão, ternura”, acrescentou.

Francisco destacou a importância de celebrar o “mistério do Natal”, com o seu “anúncio inesperado” da presença de Deus no meio da humanidade, com a qual “rompeu para sempre as trevas do mundo”.

“Votos dum Santo Natal para vós e também para os vossos entes queridos! E, diante do presépio, fazei uma oração por mim”, concluiu.

Após o encontro com os membros da Cúria Romana, o Papa felicita também todos os colaboradores da Santa Sé, no Auditório Paulo VI.

OC

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