Vaticano: Cardeal Pietro Parolin alerta para «perigo de escalada da guerra» e recorda que a paz também se constrói «com meios artesanais»

Secretário de Estado do Vaticano vem a Portugal para presidir à Peregrinação Internacional Aniversária no Santuário de Fátima, a 12 e 13 de maio

Foto: Santuário de Fátima (Arquivo)

Lisboa, 10 mai 2023 (Ecclesia) – O cardeal secretário de Estado do Vaticano alertou para “o perigo de escalada da guerra” na Ucrânia e disse que os esforços diplomáticos “são necessários”, lembrando que, como afirma o Papa Francisco , “a paz constrói-se com meios artesanais”.

“O Papa Francisco sempre disse que a paz se constrói com métodos artesanais, não é com métodos e golpes de efeitos impressionantes. Estes são os meios que Nossa Senhora nos pediu e que devemos continuar a adotar”, afirmou o cardeal Pietro Parolin, numa entrevista à Renascença, divulgada hoje.

“Claro que são necessários esforços diplomáticos. E também nós, como Santa Sé, sob a orientação do Papa Francisco, estamos a tentar dar todo o nosso contributo e desencadear todos os esforços para se encontrar uma solução política e diplomática para esta crise, que está realmente a destruir um país. Mas, ao mesmo tempo, não devemos esquecer as armas autênticas que Nossa Senhora nos indicou: rezar e fazer penitência. Por isso, considero que este é um momento oportuno para estar em Fátima. É mais uma razão para lá estar”, acrescentou.

O cardeal secretário de Estado do Vaticano vai presidir à peregrinação internacional aniversária de maio, nos dias 12 e 13, e assinala o regresso a este local onde esteve em 2016 e em 2017, por ocasião da canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto.

O responsável alerta para o perigo de escalada da guerra na Ucrânia e afirma que estará na Cova da Iria numa “peregrinação de paz”, sendo a paz uma das mensagens “fundamentais” de Fátima.

Foto: Santuário de Fátima (Arquivo)

D. Pietro Parolin afirma a necessidade de se “reconstruir um mínimo de confiança entre países”

“Hoje já não há confiança mútua. Só existe medo, medo dos outros, não é? O tema que o Papa Francisco desenvolveu na sua encíclica «Fratelli Tutti» passa por redescobrir as razões da fraternidade, reconstituir um mundo verdadeiramente fraterno, onde as pessoas vivam como em família, por isso, esta será uma das principais intenções”, avança.

O Secretário de Estado do Vaticano estará em Portugal a 80 dias no início da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que vai decorrer em Lisboa entre os dias 1 e 6 de agosto, atividade em que recai muita “expetativa”, em especial depois da pandemia.

“Acredito que a JMJ ainda é uma ferramenta muito eficaz de pastoral juvenil. Tivemos um sínodo sobre os jovens, onde procurámos refletir sobre qual é a melhor maneira de anunciar o Evangelho aos jovens, e as duas palavras-chave que foram identificadas pelo sínodo são justamente a de ouvi-los e acompanhá-los; escuta e acompanhamento dos jovens. Parece-me que a Jornada Mundial da Juventude se insere nesta linha e, sobretudo, é também uma oportunidade para vivermos juntos uma forte experiência de fé, de que os jovens tanto necessitam neste momento”, assinala.

Questionado sobre o impacto que os abusos sexuais a menores por parte de membros do clero poderá ter na realização da JMJ, o cardeal Parolin afirma ter a expetativa de que a celebração da JMJ “possa ser um momento de reforço do compromisso da Igreja”, que, assinala, adquire um “compromisso sério”.

“Talvez seja difícil acreditar plenamente, mas devo repeti-lo: por parte da Igreja, existe um sério empenho em evitar os erros do passado, sobretudo na gestão destes casos por parte das autoridades e um empenho para prevenir tais situações. O importante é que a Igreja se dote, ou esteja a dotar-se, de mecanismos que permitam identificar imediatamente tais fenómenos e poder geri-los de maneira correta, sobretudo, permitindo às vítimas alcançar justiça”, sublinha.

Na entrevista, o Secretário de Estado aborda ainda a “mudança de época” que o mundo atravessa e os desafios que a Igreja enfrenta para os acompanhar, foca a importância do Sínodo sobre a sinodalidade, cujo processo decorre até outubro de 2024, e faz uma “avaliação positiva” sobre as relações entre Portugal e a Santa Sé.

LS

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