Fátima: «A parte que mais custa é quando chegamos ao Santuário», afirma Manuel Pais, que organiza peregrinações há 21 anos

Bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, visitou Centro de Apoio de Colmeias e considera que «encontrar samaritanos ao longo do caminho torna possível caminhar»

Leiria, 11 mai 2023 (Ecclesia) – Manuel Pais, de São João de Lourosa (Diocese de Viseu), organiza peregrinações a Fátima há 21 anos, afirma que quando chegam ao santuário “é muita emoção”, “a parte que mais custa”, que Pedro Vaz vai viver pela primeira vez.

“Pelo que me dizem, vai ser uma experiência que até as lágrimas vão vir aos olhos, vamos ver”, disse Pedro Vaz, esta quarta-feira, em declarações à Agência ECCLESIA.

No Centro de Apoio aos Peregrinos de Colmeias, em Leira, o entrevistado, que está a ter pela “primeira vez esta experiência” de peregrinar a Fátima, explica que quis viver esta experiência depois de ser “incentivado” por um grupo de colegas que vai ao Santuário “todos os anos”.

“É uma experiência, por vezes, um bocado dura, mas com a entreajuda de todos, conseguimos chegar ao nosso destino. Vindo com um grupo com as carrinhas de assistência torna mais simples em certas etapas”, acrescentou.

Manuel Pais, que promove estas peregrinações “há 21 anos” e só faltou nos anos de pandemia Covid-19, está a acompanhar um grupo de 32 pessoas, saíram na segunda-feira de madrugada, dia 8 de maio, de Póvoa de Moscoso, em São João de Lourosa, na Diocese de Viseu, com seis carrinhas de apoio.

“Quem acompanha faz muito sacrifício, porque é preciso dar água, socorrer uma pessoa, massajar as pessoas, é o nosso trabalho; não temos tido grandes problemas, até trazemos uma enfermeira, são casos pequenos e resolvemos”, desenvolveu o responsável.

Manuel Pais recorda que, em 2022, também ficou com o grupo de peregrinos no Centro de Apoio de Colmeias, onde pernoitaram de quarta-feira para esta quinta-feira, antes de regressarem ao caminho de madrugada.

“Vim pedir para ficar outra vez, arranjar uns banhinhos para ele se sentirem bem. Vamos cozinhar, fazer o jantar para todos e amanhã, às 4 da manhã, lá vamos nós”, acrescentou.

São cerca de 30 quilómetros que separam estes peregrinos da Cova da Iria, e, segundo Manuel Pais, quando chegam ao santuário mariano “é a parte que mais custa”: “Abraçamo-nos uns aos outros, um chora por aqui, outro chora por ali, é muita emoção”.

O bispo da Diocese de Leiria-Fátima esteve, esta quarta-feira, com os peregrinos neste centro de apoio, onde afirmou que “é muito importante” este contacto porque “é conhecer a realidade das pessoas, os sonhos e as dores que trazem para estas viagens”.

“Isto não é só um caminho fatigante mas é também uma fadiga que traz tranquilidade a outros espaços da vida. E isso nota-se bem nestas pessoas, como estão sensíveis a pequenas gestos e, sobretudo, em pontos de cuidar como este”, desenvolveu D. José Ornelas, em declarações à Agência ECCLESIA.

O responsável diocesano, que presidiu à Eucaristia, destacou a ajuda dos voluntários aos peregrinos que “vêm com vontade de caminhar”, referindo que “nasce da boa vontade e é por isso que tem sentido”.

“O encontrar samaritanos ao longo do caminho torna possível caminhar, há pessoas com os pés inchados, com inflamações, a serem cuidados, e por gente competente. Isso é um bem imenso que, juntamente com esta viagem, as pessoas não vão esquecer e isso faz parte do peregrinar”, acrescentou D. José Ornelas.

O responsável pelo Centro de Apoio aos Peregrinos de Colmeias, do Movimento Mensagem de Fátima, contabiliza que, desde o 25 de abril, já receberam “quase 380 pessoas”.

“São dias muito intensos mas é uma alegria muito grande. Dá trabalho mas temos muitos voluntários e os grupos já marcam de ano a ano e passam a palavra, isto quer dizer que quase todos os fins de semana estamos aqui com peregrinos”, explicou Faustino Ferreira.

Ligado a Fátima há 34 anos, sobretudo na assistência aos peregrinos, recordou, deste “historial muito grande”, que “a maior parte” dos peregrinos iam “descalços, com um saco à cabeça”, em 1987, mas foi “evoluindo, evoluindo, evoluindo”, e, depois das mochilas às costas, “que é muito prejudicial para a saúde do peregrino”, agora, nestes últimos anos, existem carros de apoio que são “o melhor que podia ter acontecido”.

“Eles chegavam sempre muito maltratados aos nossos postos, o andar depende dos tempos, se faz sol, calor, se chove, eles têm muitas dificuldades nas bolhas mas nós estamos preparados para dar o apoio necessário para que consigam chega ao santuário de Fátima. Na parte lombar, desde que deixaram as mochilas, também é melhor, já não se queixam tanto da coluna, das costas, vêm mais contentes, mais disponíveis, é outro mundo”, desenvolveu Faustino Ferreira.

Rita Seixas é uma das voluntárias neste centro, a estudante de enfermagem explica que fazem “essencialmente tratamento às feridas nos pés, porque já são longos quilómetros”, também fazem massagens aos pés, lavam-nos “com água quente”, que são “miminhos simples que dão conforto para o caminho”.

“Numa etapa mais final, é sempre bom ter um sítio onde parar, onde repousar. As pessoas ficam contentes, ficam alegres, por terem esta presença e a nós não nos custa nada, é sempre um tempo que dedicamos aos outros”, salienta a aluna do 4º ano de enfermagem do Politécnico de Leiria.

À Agência ECCLESIA, Rita Seixas sublinha que “não custa nada dar um bocadinho aos outros”, se todos o fizerem, como gostariam de receber, “o mundo há de ficar melhor”, e, neste voluntariado específico, também desenvolve “muitas competências profissionais”, e, “claramente, numa vertente mais pessoal é sempre bom”.

Os Postos de Apoio ao Peregrino a Pé, do Movimento da Mensagem de Fátima e de outros grupos/movimentos, como a Ordem de Malta e a Cruz Vermelha Portuguesa, estão identificados com uma bandeira azul, existe uma plataforma online com estes postos e serviços ao longo dos diversos percursos, com mapas digitais, e na rede Telegram, um serviço de mensagens instantâneas online, existe o Grupo ‘Peregrinos Digitais’ para partilha de informações.

OC/CB

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