«Vai ser um 31»: Um «bispo vermelho» ou de vermelho… no sapatinho

Carlos Borges, Agência ECCLESIA

Foto Agência ECCLESIA/CB

Às vezes, as prendas falham os aniversários, o Natal e outras datas importantes…. A menos de dois meses para o Natal, a Diocese de Setúbal recebeu a “prenda” que esperava já antes da quadra natalícia de 2022, e colocou fim ao período de sede vacante em que nos encontrávamos, desde 28 de janeiro do ano passado. No dia 21 de setembro, o Papa Francisco nomeou D. Américo Aguiar como novo bispo de Setúbal, uma nomeação que se concretizou com a “tomada de posse canónica”, realizada na quinta-feira, e com a solene celebração da Eucaristia, deste domingo, respetivamente dias 26 e 29 de outubro. A menos de dois meses para o Natal.

“Não trago programas, não trago decisões, não trago decretos. Trago a mim próprio e o coração totalmente disponível para irmos até ao fim do mundo, se for preciso. Vamos juntos, para resolver, para salvar um que seja. Se chegar ao fim da minha presença em Setúbal, daqui a 30 anos, e tiver salvo uma pessoa, está resolvido.”

O IV bispo de Setúbal é de Leça do Balio (Matosinhos), ou seja, é conterrâneo do primeiro bispo da diocese sadina, D. Manuel Martins, que o novo prelado diocesano tantas vezes evoca e recorda.

“O meu querido número um, o ‘special one’, o D. Manuel Martins, tanto aqui de deu, se entregou, e 48 anos depois está tudo resolvido? Não está, não está. É culpa do Governo? Não é, era mais fácil, não é, era mais fácil, não é, é nossa, é de todos: Se 48 anos depois continuamos a ter os mesmos problemas, significa que não fomos capazes, todos, de fazer cada um aquilo que verdadeiramente lhe competia” – D. Américo, homilia da Missa da tomada de posse.

O I bispo de Setúbal (1975-1998), que morreu aos 90 anos, em setembro de 2017, ficou conhecido como “bispo vermelho” pela sua atenção aos problemas sociais, pela voz de defesa, e dedicação às pessoas.

“Há 48 anos, não sei quando é que foi o dia, mas no verão de 1975, era anunciado o primeiro bispo de Setúbal. E era um jovem de 48 anos, eu agora tenho 49. Um jovem de Leça do Balio, de onde também eu sou. Um jovem que era Vigário-Geral do Porto, que eu fui. Um jovem que foi responsável da Irmandade dos Clérigos, que eu também fui. Um jovem que ganhou a fama de ‘bispo vermelho’, que agora também sou em razão das vestes cardinalícias”, disse D. Américo Aguiar, em entrevista conjunta às agências Ecclesia e Lusa, sobre a nomeação.

Nem tudo são problemas sociais mas eles continuam e são muitos em muitas zonas de muitos municípios da Península de Setúbal. São vários os descartados em “bairros”, dos mais aos menos conhecidos, que são falados na comunicação social, neste território dormitório da capital, onde a Igreja Católica tem mais ou menos presença.

Gostei de ouvir o bispo da minha diocese falar da “má vizinhança” de Lisboa, um alerta antigo de alguns partidos políticos, ignorado há muitos, muitos anos, causada pelas NUTS, antes fossem nozes. NUTS = Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos.

“O que é certo é que, pelo facto de Setúbal ter sido integrada dentro dos critérios económicos e financeiros da capital, foi prejudicada nas últimas décadas por não ter acesso a fundos comunitários. São milhões e milhões que não chegaram à Península de Setúbal em razão dessa ‘má vizinhança’. A partir de 2027, a NUT é destacada, e Setúbal vai ter possibilidade de respirar e de usufruir de fundos comunitários…” – D. Américo Aguiar, aos jornalistas, após a tomada de posse como bispo de Setúbal, na quinta-feira.

Se o novo bispo de Setúbal vai ser “vermelho” – por estar atento aos problemas sociais, a defender os trabalhadores, os mais pobres, marginalizados e descriminados, os tais das periferias geográficas e/ou existenciais – ou pelas cores cardinalícias, o mais importante é que independentemente dos anos na diocese, eles sejam dedicados às pessoas, a ’todos, todos, todos’ que, segundo o próprio, “não se traduz por ‘tudo, tudo, tudo’”, e ao Evangelho.

“Muitas vezes ouve-se dizer: ‘Mas este sacerdote fala demasiado de pobreza, este bispo fala de pobreza, este cristão, esta freira falam de pobreza…’ Mas se tirarmos a pobreza do Evangelho, nada perceberemos nada da mensagem de Jesus” – Papa Francisco

Carlos Borges

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