Carlos Borges, Agência Ecclesia
«A porta da esperança foi escancarada para o mundo» – Papa Francisco (24 dez 2024)
Esta foto é de 2014, foi tirada durante a realização de um projeto comunitário no Barreiro – o ‘Dia B’ – que mobilizava pessoas e instituições, populares e anónimos, voluntários e profissionais, promovido pelo município. Não sei se havia alguma porta de particular destaque neste ‘Largo da Esperança’, mas, neste ano que termina há várias especiais e não foram apenas abertas, mas, segundo o Papa Francisco, e foi ele que deu a ordem: “Foi escancarada para o mundo”.
Temos uma grande responsabilidade, mas não é nada de novo na Igreja Católica, nem como batizados, levar e ser esperança no mundo. E temos a vantagem de ter todo o conhecimento de 2024 anos de história D.C., e antes disso, claro. Não é só a moda que é cíclica, se olharmos bem para os últimos anos, recuando +- 100 anos, encontramos pandemia, guerras, dificuldades económicas… Mas os homens, os que mandam nas nações e no mundo, e os que querem mandar, não parecem ter aprendido muito com a história e continuam a fazer e a desfazer da vida das pessoas como se estivessem sentados a uma mesa com o jogo de tabuleiro ‘RISK’.
No dia 24 de dezembro, véspera do dia de Natal 2024, o Papa Francisco acrescentava que era “a noite em que Deus diz a cada um: há esperança também para ti”. E um dia depois ao Natal, lá foi ele levar essa mensagem à Prisão romana de Rebibbia, e daquele a todos os estabelecimentos prisionais do mundo, em cadeia, e abriu a segunda porta santa deste 27.º jubileu ordinário da história da Igreja Católica, num gesto inédito.
“É um belo gesto abrir as portas, mas, mais importante, o que significa é abrir o coração, o coração aberto faz a fraternidade. O coração fechado, duro, não ajuda a viver”, disse o Papa, na homilia dessa celebração, na capela da cadeia de Rebibbia. Também neste dia Francisco insistiu na palavra mais do que abrir, escancarar, e sublinhou a mensagem do coração, certamente não vale passar apenas por ‘portas santas’ e desse gesto físico não existir nenhuma transformação.
A nossa “esperança” é muito mais do que um teste de otimismo/pessimismo de quem olha para um copo meio de algo (cada um escolhe o conteúdo), ou uma música dos Monty Python (Always Look On The Bright Side Of Life).
A esperança cristã, a segunda das três virtudes teologais, com a fé e a caridade, “confiante nas promessas de Cristo e na força do Espírito Santo, leva ao desejo seguro de possuir a Deus como bem supremo e último fim, fonte da felicidade perfeita e eterna na visão beatífica”, explica a Enciclopédia Católica Popular.
Gosto de pensar que essa “porta da esperança escancarada para o mundo” é para “todos” (x3), aqueles famosos do Papa Francisco em Lisboa: “Todos, todos, todos”. Sem corrermos para a sacristia ou para os gabinetes a colocamos logo um “mas”, um sinal vermelho, um limitador de velocidade ou de entradas, ainda mais limitador do que um contador de museu. “Todos, todos, todos”, mas, não é tudo, tudo, tudo, como se a Igreja tivesse de perder o centro da sua mensagem, o anúncio, Jesus Cristo ressuscitado, e a sua identidade, por tentar estar aberta a todos (x3).
Esta esperança (cristã) é muito, mas mesmo muito mais do que simplesmente ser otimismo e acreditar no impossível, e aquela porta da esperança foi mais que aberta na noite da véspera de Natal. O Papa tem repetido que foi “escancarada”.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: adjetivo “escancarado” – “1. Completamente aberto (ex.: janela escancarada); 2. Que se vê ou se percebe facilmente; que é completamente perceptível = claro, evidente”; verbo transitivo ‘escancarar’: “1. Abrir de par em par; 2. Abrir inteiramente”.
As Portas Santas do Jubileu 2025 continuam a ser escancaradas em Roma; e, neste domingo, dia 29 de dezembro, quando celebramos a festa da ‘Família de Nazaré’, de alguma forma em algumas dioceses, com o início do Ano Santo nas Igrejas particulares.
2024 passou a correr, há anos que passam muito rápido. Parece que foi ontem que estava a escrever, neste mesmo lugar e neste computador o artigo de dezembro de 2023. A lembrar que o ano estava a poucas horas de terminar, a contagem decrescente continua. E este artigo já vai muito grande, e grande, de bom, são os meus votos para todo@s em 2025. Que eu consiga também passar das palavras às ações e “esperançar” as pessoas, o mundo, levar alguém a passar a porta santa. Somos ‘peregrinos da esperança’, é o imperativo, e a “esperança que não desilude”, não esquecer. (‘Spes non confundit’ – bula de proclamação do 27.º jubileu).
Diz que o bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão, ou algo do género, do outro lado do mundo. Vamos a isso, mais esperança, mais respeito pelos DH, mais dignidade humana, mais liberdade religiosa. Para todos. Bom ano de 2025.