Uma Jornada onde as gerações se cruzem

Maria Rodrigues, Diocese de Santarém

Na preparação da Jornada Mundial da Juventude, deparamo-nos, certamente não com todas, mas com quase todos os problemas que existem dentro da Igreja Católica.

A semana passada, diziam-me: “o problema é o nome do evento, se tirássemos a palavra ‘juventude’, ficava tudo mais fácil”. Alegam os jovens que os velhos não os querem na Igreja e alegam os velhos que os jovens não querem estar na Igreja. Dizem-me que, por isso, é difícil mudar, experimentar novas formas de fazer as coisas. Respondo-lhes que será preciso resistir, mas também fazer e não só dizer que se quer fazer. Não se convencem por palavras os que sempre lá estiveram, sem que outros aparecessem.

A mim, parece-me haver falta de comunicação e de relação. Os desejos de uns são incompreendidos por outros, a história dos outros é incompreendida pelos primeiros. Queremos chegar, fazer e mudar. Mudar sempre para melhor, porque, para nós, jovens, tudo podia sempre ser melhor. Não compreendemos a resistência de quem sempre lá esteve, habituado a fazer de determinada forma, a dar o seu tempo para fazer o que outros nunca quiseram fazer.

Acredito na ideia de que a mudança pertencerá sempre à juventude. Dificilmente seria de outra maneira, se a própria essência de ser jovem é o entusiasmo da mudança, é a ânsia de nunca estar parado. Mas acredito muito pouco numa mudança que não tenha em conta o que já existe. De que nos vale ser protagonistas da mudança, se não tivermos em conta todos os outros que já lá estavam antes de chegarmos? De que nos adianta ganhar o mundo inteiro, se não ganharmos o céu? Por isso tudo, parece-me que tirar a ‘juventude’ ao nome da Jornada Mundial da Juventude, dificilmente resolveria algum problema. Exercício mais difícil, e também mais necessário, é o de estar na Igreja, valendo-se dos dons de cada um.

A Jornada Mundial da Juventude só se fará com a graça de Deus e o esforço e a vontade de todos. Desenganem-se quem viva na ilusão de que conseguirá lá chegar sozinho, só com o núcleo que reuniu e escolheu. A Jornada Mundial da Juventude já começou há muito tempo nas nossas paróquias – há mais de 3 anos, para os que estão desde o início. Atrevo-me até a dizer que a verdadeira Jornada será a que fizermos juntos, nas nossas paróquias, mais do que o encontro com jovens de todo o mundo e com o Papa. O que ficará será certamente os laços que construímos, as dinâmicas pastorais que implementámos e cuidámos, as pessoas com quem sonhámos e trabalhámos juntos. Seria redutor resumir todo este caminho à semana de 1 a 6 de agosto de 2023.

Por isso mesmo, o apelo que constantemente deixamos aos jovens é o de se valerem de todos os que estão nas suas comunidades. Deixemo-nos ser instrumentos de mudança e de trabalho de Deus, mas não impeçamos que os outros também o sejam. Uma comunidade unida, que se valha da experiência dos mais velhos e da vida dos mais novos, chegará sempre mais longe, chegará sempre a uma construção edificada sobre rocha.

Maria Rodrigues
Coordenadora do Departamento de Comunicação da Pastoral Juvenil da Diocese de Santarém

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