Sínodo: Arquidiocese de Braga convida comunidades a eleger e desenvolver prioridades, como proposta ao tradicional plano pastoral anual

Itinerário para 10 anos vai permitir «flexibilidade, responsabilidade e participação sinodal» num processo de transformação sinodal, acolhedor e com linguagem mais simples na Igreja  

Foto: Arquidiocese de Braga

Braga, 14 jun 2024 (Ecclesia) – Vânia Pereira, da equipa sinodal da arquidiocese de Braga, disse que a diocese procura que as práticas da sinodalidade marquem já a escuta, o planeamento e a organização não apenas nos planos gerais mas na vida das comunidades.

A partir de um “itinerário” a que a arquidiocese chamou «Caminho de Páscoa», cada comunidade, “numa lógica de abertura, de flexibilidade, em que cada um tem a responsabilidade de perceber quais são as prioridades, os pontos fortes e pontos fracos de cada realidade”, opta por determinados caminhos na sua planificação pastoral.

“A arquidiocese deixou de ter um plano pastoral traçado a cada ano, com um documento fechado, em que cada comunidade deve seguir, mas opta por um itinerário pastoral em aberto, com seis trilhos, que foram resultando de todos os documentos que fomos produzindo, que consideramos primordiais para criar uma Igreja sinodal, uma Igreja acolhedora, onde cada comunidade, cada realidade, pode escolher livremente esses seis trilhos e trabalhar aqueles que acha prioritários”, explica.

A arquidiocese, desde o início do processo sinodal, tem organizado Assembleias Sinodais – em junho de 2022, em setembro de 2023 e a próxima este sábado – procurando que estes encontros sejam abertos a todos com metodologias que privilegiem a participação alargada.

“A prática das Assembleias Sinodais abertas a todos, para que toda a arquidiocese, todas as comunidades, congregações religiosas, enfim, todas as realidades eclesiais existentes na arquidiocese e até todas as pessoas, nomeadamente os não-crentes, se possam pronunciar sobre aquilo que sentem que deve ser o caminho a seguir na vida da Igreja mas com mesas de trabalho em grupo, onde todos possam deixar a sua partilha”, sublinha.

Vânia Pereira fala num “privilégio” mas também na “responsabilidade” de viver este tempo em que cada pessoa é convidada a ser “viva voz no seio da Igreja”.

“É algo inédito e há um entusiasmo inicial que se sente desde o primeiro momento, mas também as dificuldades inerentes: como é que isto se faz, que passos têm que ser dados”, indica.

A equipa que acompanha o processo sinodal na arquidiocese de Braga optou por criar subsídios, promover encontros de formação para “facilitar e a dar pistas para o caminho” procurando “espicaçar o desejo de participação em todas as comunidades”.

De uma primeira fase mais entusiasmada, Vânia Pereira dá conta de uma quebra de participação na segunda fase de auscultação, correspondendo às respostas à fase continental do processo, desencadeado após a assembleia decorrida em outubro de 2023, no Vaticano.

Com uma realidade “muito vasta e de grande heterogeneidade”, as comunidades da arquidiocese de Braga refletiram sobre “uma Igreja demasiado clerical, com as decisões nas mãos dos sacerdotes”, indicaram a “necessidade de formação, não só de leigos mas também de clérigos e não só uma formação técnica, mas também uma formação humana” e reconheceram o desafio da “linguagem”.

“Para que a Igreja seja efetivamente mais acolhedora, capaz de integrar, de acompanhar, uma Igreja mais fiel ao amor que o Evangelho anuncia, mais fiel ao rosto de Jesus Cristo, necessita de adotar uma linguagem mais assertiva, mais capaz de chegar a todos, a diversos públicos e de facto de se tornar contagiante, atrativa”, reconhece.

Vânia Pereira identifica “realidades mais sinodais do que outras”, mas indica “uma lufada de ar fresco que o sínodo trouxe”.

“Há muitas barreiras para vencer, e depois tendencialmente caímos sempre neste erro de pensar que o importante do sínodo é enviarmos a nossa partilha, a nossa síntese, e cumprimos este pedido que nos foi dirigido, e depois disso viramos à página e continuamos a fazer como sempre fizemos, e a ser a Igreja dentro dos mesmos modelos que sempre fomos, quando aqui o mais importante, mais do que produzir documentos, sínteses, é de facto mudarmos este sistema operativo. Não faz sentido que depois de tudo isto a Igreja continue a ser pouco sinodal em muitas das suas circunstâncias, em muitas das suas ações”, sublinha.

A conversa com Vânia Pereira pode ser acompanhada no programa ECCLESIA esta sábado na antena 1 pelas 06h00.

OC/LS

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