Sínodo: Andrea Grillo apontou cinco «possíveis desenvolvimentos» na Igreja Católica para daqui a «1, 10, 50 ou 100 anos»

Equilíbrio clarividente entre primado do Papa e colegialidade, novas possibilidades de vida familiar, funções ministeriais da mulher e uma novo olhar sobre a Teologia são temas para documentos imaginados do teólogo italiano

Foto Agência ECCLESIA/JPG

Lisboa, 16 nov 2024 – O teólogo Andrea Grillo afirmou que a Igreja Católica vai ter “possíveis desenvolvimentos” que passam por um “equilíbrio clarividente” entre primado do Papa e colegialidade, novas possibilidades de vida familiar, funções ministeriais da mulher e uma nova teologia.

Numa conferência promovida pelo portal Ponto SJ, da Companhia de Jesus, o filósofo e teólogo italiano, leigo, com especialização em liturgia e pastoral, analisou a dinâmica sinodal proposta pelo Papa Francisco e apontou transformações que “podem ocorrer daqui a 1, 10, 50 ou 100 anos”, imaginando textos de introdução a possíveis documentos do magistério da Igreja.

Andrea Grillo começa por afirmar que é necessário “compreender a autoridade do sucessor de Pedro” e considera que a “estrutura de uma Igreja, cuja tradição tem mais de dois mil anos, exige um equilíbrio clarividente entre o ‘primado’ e a ‘colegialidade’”.

Foto Agência ECCLESIA/JPG

“O primeiro evita a dispersão e garante a unidade, a segunda permite uma certa diferenciação e uma pluralidade benéfica. O novo equilíbrio, que a Igreja Católica do futuro terá de experimentar, constitui um renascimento da tradição antiga e medieval, numa correção parcial das formalizações modernas, que conduziram a uma forte centralização do poder”, aponta.

O teólogo italiano, pai de dois filhos, referiu-se depois a “formas inéditas de vida em comum”, que encontra “novas possibilidades e novos desertos” na “sociedade da dignidade”, que não acontece na “sociedade de honra”, que marcou a Igreja desde o Concílio de Trento.

Segundo Andrea Grillo, no futuro, a Igreja Católica pode ser desafiada a uma “recuperação estrutural da multiplicidade de modelos familiares” e a pastoral eclesial poderá não ter a “exclusividade institucional”, mas navegar “novamente em mar aberto”.

O teólogo italiano imaginou depois o mundo como “lugar de presença do Espírito” que deve “oferecer uma reconstrução da relação entre a Igreja e o mundo capaz de mediar entre escândalo e reconhecimento”.

Após se ter referido ao papel da mulher na Igreja durante a sua conferência, Andrea Grillo imaginou um documento do magistério da Igreja “sobre as funções ministeriais da mulher”, que intitulou “Sine prohibitione”, e aponta para uma “consideração serena da mulher como ministra eclesial” que se impõe após “décadas de ‘luta em defesa da reserva masculina’”

Ao pensar os “possíveis desenvolvimentos” na Igreja Católica, o teólogo imagina um pronunciamento sobre “a função eclesial da teologia”, que “abre um novo olhar sobre a tradição teológica do catolicismo”.

Na conferência sobre o tema “Sínodo e Igreja moderna: léxico do Vaticano II e cânone tridentino. Algumas questões da tradição católica”, Andrea Grillo referiu-se à situação atual da Igreja Católica a partir de um quadro de pensamento que se enraíza no Concílio de Trento e que, apesar de incluir termos como “hospital de campanha”, “Igreja em saída” ou ir ao encontro “das margens”, ainda vive segundo um cânone marcado pelo poder e pela burocracia.

O filósofo e teólogo italiano defende que é necessário passar, na Igreja Católica, de uma “sociedade da honra” a uma “sociedade da dignidade”, apontando os cinco documentos imaginados como caminho para essa transformação.

A conferência promovida pelo Ponto SJ, que decorreu na Universidade Católica Portuguesa, foi o primeiro momento do encontro sobre o tema “Igreja e fidelidade ao Evangelho. Que problemas? Que caminhos?”, que contou com diálogo entre os participantes, por grupos, e também com o padre jesuíta José Frazão Correia e o jornalista João Miguel Tavares.

PR

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