Igreja: Mais do que reformar, é necessário contar com «energia e paixão» a História «mais incrível» dos cristãos

João Miguel Tavares encerrou conferência no contexto do sínodo e condenou a tentação de «colocar verniz teológico nas lutas de poder»

Foto Agência ECCLESIA/PR

Lisboa, 16 nov 2024 (Ecclesia) – O jornalista João Miguel tavares encerrou a conferência “Igreja e fidelidade ao Evangelho. Que problemas? Que caminhos?” e afirmou que a prioridade na Igreja é valorizar a Palavra e contar com “energia e paixão” a História “mais incrível”.

Durante a tarde deste sábado, o portal Ponto SJ, da Companhia de Jesus, promoveu uma conferência que contou a participação do teólogo italiano Andrea Grillo, para debater a aplicação das conclusões do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade.

“Não é preciso uma reforma da Igreja, mas é preciso que a Igreja ofereça um outro olhar sobre o seu tesouro”, disse João Miguel Tavares na comunicação de conclusão da conferência que decorreu na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

“Nós temos na nossa mão a mais incrível história alguma vez contada e tenho imensas dificuldades em saber porque é tão difícil partilhá-la”, afirmou.

Para o jornalista e cronista, a imagem de um Deus omnipotente, omnisciente e omnipresente “serve a muita gente, mas diz muito pouco a pessoas fora da Igreja”, e “não é a única maneira de falar de Deus”, para que aconteça a aproximação ao “fenómeno religioso”.

João Miguel Tavares lembra que o Deus omnipotente “é o  Deus dos ateus, em relação ao qual os ateus se opõem”.

“Esse Deus está tão embrenhado na sociedade, que é uma imagem que afasta, é uma imagem que faz com que muitas pessoas não se aproximem da Igreja”, acrescenta.

O jornalista considera que os cristãos guardam a “história mais extraordinária” que conhece, lembrando que essa certeza “não é ficção”.

“Nós temos na nossa mão a mais incrível história alguma vez contada… E tenho imensas dificuldades em saber porque é tão difícil partilhá-la”, lamentou.

João Miguel Tavares considera que o “funcionamento da Igreja é essencial e o bem estar institucional da Igreja é fundamental”, acrescentando que “se a Igreja se fragmentar em múltiplas comunidades,  isso não significa que o Evangelho não continua a ser vibrante”.

“As histórias que alimentam a nossa vida têm de continuar a ser propagadas com entusiasmo e a vibração”, afirmou, acrescentando que “a Palavra tem de ser transmitida com uma energia e uma paixão” que muitas vezes não encontra.

O cronista rejeitou a tentação de “colocar verniz teológico nas lutas de poder”  e defendeu uma Igreja que “seja uma guardiã da Palavra e não uma guarda”.

“A Igreja não pode ser um portão, uma grade entre o mundo e a Palavra. Em vez de estar a facilitar que a Palavra chegue ao mundo, pode ser um empecilho”, lamentou.

Antes do encerramento de João Miguel Tavares, e após a comunicação sobre o tema “Sínodo e Igreja moderna: léxico do Vaticano II e cânone tridentino. Algumas questões da tradição católica”, o teólogo Andrea Grillo respondeu a questões sobre temas que resultaram de um momento de diálogo entre os participantes.

Para o teólogo italiano, o debate sobre o papel das mulheres na Igreja rejeita a ideia de um diaconado não ordenado, coloca o debate em torno do sacramento da ordem, que acontece numa “nova fronteira da Igreja”.

Para o professor na Universidade de Santo Anselmo, em Roma, a formação laical só acontece quando inclui “profundidade histórica” e não resulta quando se transmitem princípios do catecismo, necessitando da “luz da fé e da luz da razão”, num diálogo permanente com a cultura.

Andrea Grillo referiu-se à conversão proposta em diferentes contextos, nomeadamente pelo Papa Francisco, afirmando que é necessária a “conversão pessoal, comunitária e institucional”, porque o “específico do homem não é natural, mas institucional, aprende-se” e resulta da transmissão entre gerações.

Pronunciando-se sobre “formas inéditas de vida em comum”, o pai de dois filhos apontou para a necessidade de uma “aproximação entre o ordenamento civil e canónico”, lembrando que a “sociedade da honra” que determina o ambiente na Igreja Católica depois do Concílio de Trento é rígida, e apontou para a “sociedade da dignidade” que cumpra o que determina o documento recente da Santa Sé “dignidade infinita”.

“A pastoral matrimonial e a abertura a novas formas de união, hétero e homossexual, fazem parte do repensar as estruturas da Igreja”, afirmou.

Para Andrea Grillo, a transformação em curso na Igreja acontece também com a utilização de uma nova linguagem, porque a linguagem, mais do que um instrumento, é “uma experiência” e “funciona como uma ação”.

“Se começamos a falar diversamente, com as palavras, os gestos, o modo de fazer a comunhão, o modo de pensar a relação com o poder, nós transformamos a Igreja”, afirmou.

Para o teólogo italiano é necessário “fazer do léxico uma reformulação do cânone”.

A conferência promovida pelo Ponto SJ na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, sobre o tema “Igreja e fidelidade ao Evangelho. Que problemas? Que caminhos?”, contou com a comunicação de Andrea Grillo, momentos de diálogo entre os participantes, por grupos, e também com o padre jesuíta José Frazão Correia e o jornalista João Miguel Tavares.

PR

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