Sínodo 2024: Participantes aprovam todos os pontos do documento final

Trabalhos iniciados em 2021, com consulta global a milhões de pessoas, chegam ao fim com propostas que apontam à transformação das comunidades católicas

 

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 26 out 2024 (Ecclesia) – Os participantes na XVI Assembleia do Sínodo aprovaram hoje todos os 155 pontos do documento final, que o Papa assume como texto conclusivo.

O anúncio aconteceu no final das duas reuniões de leitura e aprovação do documento, que encerra três anos de trabalho, após uma consulta global lançada pelo Papa, procurando propor um novo modelo para a Igreja.

“O Sínodo não acabou, o Sínodo começa. A partir da votação que vamos fazer, o Sínodo começa agora”, diz à Agência ECCLESIA D. Gabriel Mbilingi, arcebispo de Lubango, em Angola.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

D. Gabriel Mbilingi fez parte do Conselho Ordinário da Secretaria-Geral do Sínodo desde outubro de 2018, tendo acompanhado todo o processo que levou à escolha e realização de uma assembleia dedicada ao tema da sinodalidade, um “tempo de aprendizagem”.

“Até agora era a nível da reflexão, mas agora passa à prática. A sinodalidade nunca mais será posta de lado”, afirma.

“Espero que, efetivamente, agora toda a Igreja possa caminhar num processo em que todos participam”, acrescenta o arcebispo angolano.

Acho que foi bom que o Papa Francisco quisesse refletir sobre o nosso ser Igreja. Ser Igreja significa que todos os batizados são chamados a proclamar, a levar uma experiência de anúncio do Evangelho a todas as pessoas”.

O arcebispo do Lubango valoriza a experiência da Igreja em África, marcada pelas “pequenas comunidades” e com liderança dos catequistas, leigos e leigas com um ministério próprio.

“Não os podemos dispensar. Os catequistas são aquilo que é a dinâmica da sinodalidade, na medida em que são os responsáveis não só da educação, da transmissão da catequese, mas, sobretudo, líderes das pequenas comunidades”, precisa D. Gabriel Mbilingi.

“A experiência que temos no nosso continente é que não podemos prescindir da sinodalidade, onde os leigos têm um papel muito, muito importante”, insiste.

O responsável fala ainda de outro dos “ganhos mais importantes” do Sínodo, que ajudou a valorizar o papel das Conferências Episcopais, a nível nacional e continental.

“Terão, de certeza, um papel maior a desenvolver, não só do ponto de vista doutrinal, mas em muitos outros aspetos pastorais que nós conhecemos. Do meu ponto de vista, este é um dos ganhos maiores, para além do papel dos leigos, da sua participação na vida da Igreja, em termos de anúncio”, refere.

Aquilo que nós perspetivamos para o pós-Sínodo é mesmo que cada um tome consciência de que não é desprezado, não é menos importante, não é inútil para a missão da Igreja”.

Fora do documento final ficam os temas confiados aos dez grupos de estudo criados pelo Papa em fevereiro deste ano, após a primeira sessão sinodal,  que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo.

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal – desenvolvendo questões ligadas à pobreza, missão no ambiente digital, ministérios (incluindo a participação das mulheres na Igreja e a pesquisa sobre o acesso das mulheres ao diaconato), relações com as Igrejas Orientais, Vida Consagrada e movimentos eclesiais, formação dos sacerdotes, ministério dos bispos, papel dos núncios, ecumenismo e questões doutrinais, pastorais e éticas “controversas”.

A assembleia teve várias intervenções e momentos de debate sobre a admissão das mulheres ao ministério diaconal, particularmente junto do prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, que insistiu na ideia de que a questão precisa de “amadurecimento.

Esta sessão tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

Os participantes incluem um elenco de 68 “testemunhas do processo sinodal”, nos cinco continentes, entre eles 39 mulheres – 25 leigas e 14 religiosas.

O Papa designou nove presidentes-delegados da Assembleia, incluindo a consagrada japonesa Momoko Nishimura, membro do Grupo de Trabalho Sinodal da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), e a religiosa mexicana Maria de los Dolores Palencia.

Francisco escolheu também um grupo de 57 membros de nomeação pontifícia, entre os quais cinco religiosas e uma leiga.

Em 2021, o Papa tinha nomeado a religiosa francesa Nathalie Becquart como subsecretária do Sínodo dos Bispos, que se tornou a primeira mulher com direito de voto na assembleia sinodal.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

Notícia atualizada às 19h28

Os participantes nesta Assembleia Sinodal incluíram os chefes dos Dicastérios da Cúria Romana, patriarcas e representantes das Igrejas Orientais Católicas, representantes de Conferências e organismos episcopais, os membros do Conselho Ordinário do Sínodo dos Bispos e os seus dois subsecretários, bem como dez representantes da União dos Superiores Gerais dos Institutos de Vida Consagrada, dos quais cinco são religiosas, também com direito a voto.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Os trabalhos altenaram entre sessões plenárias (congregações gerais) e debates em grupo linguísticos (círculos menores), no Auditório Paulo VI, do Vaticano.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

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