Sínodo 2024: Igreja propõe experiência de diálogo e escuta como alternativa a modelos dominantes de exclusão e violência

Documento final apresenta sinodalidade como «profecia social»

Foto: Lusa/EPA

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 26 out 2024 (Ecclesia) – O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado hoje no Vaticano, apresenta a sua experiência de diálogo e escuta como alternativa a modelos dominantes de exclusão e violência, no mundo atual.

“A vontade de escutar todos, especialmente os pobres, contrasta fortemente com um mundo em que a concentração do poder exclui os pobres, os marginalizados, as minorias e a terra, nossa casa comum”, refere o texto, divulgado após o final da última reunião geral desta sessão sinal, com participantes dos cinco continentes e presidida pelo Papa.

Os participantes falam da sinodalidade como “profecia social”, numa época “marcada pelo aumento das desigualdades, pela crescente desilusão com os modelos tradicionais de governação, pelo desencanto com o funcionamento da democracia, pelo aumento das tendências autocráticas e ditatoriais, pelo predomínio do modelo de mercado sem ter em conta a vulnerabilidade das pessoas e da criação, e pela tentação de resolver os conflitos através da força e não do diálogo”.

“Praticado com humildade, o estilo sinodal pode fazer da Igreja uma voz profética no mundo de hoje”, acrescentam.

O texto desafia os católicos a “desenvolver uma cultura capaz de profecia crítica face ao pensamento dominante”, bem como a desafiar “um comunitarismo social exagerado que sufoca as pessoas e não lhes permite serem sujeitos do seu próprio desenvolvimento”.

Tanto a sinodalidade como a ecologia integral assumem a perspetiva das relações e insistem na necessidade de cuidar dos vínculos: é por isso que se correspondem e se complementam no modo de viver a missão da Igreja no mundo contemporâneo”.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

Os participantes evocam, no documento conclusivo, “os rostos das crianças aterrorizadas pela guerra, o choro das mães, os sonhos desfeitos de tantos jovens, os refugiados que enfrentam viagens terríveis, as vítimas das alterações climáticas e da injustiça social”.

“Nos dias em que estivemos reunidos nesta Assembleia, muitas, demasiadas guerras continuaram a causar morte e destruição, um desejo de vingança e uma perda de consciência”, pode ler-se.

O texto assume preocupação com problemas como “desigualdades entre homens e mulheres, racismo, divisão de castas, discriminação de pessoas com deficiência, violação dos direitos das minorias de todos os géneros, falta de vontade de acolher os migrantes”.

“O fechamento mais radical e dramático é o da própria vida humana, que leva a descartar as crianças, desde o ventre materno, e os idosos”, assinalam, numa referência ao aborto e à eutanásia.

Reconhecemos as capacidades apostólicas das pessoas com deficiência que se sentem chamadas e enviadas como agentes ativos de evangelização. Queremos valorizar a contribuição que vem da imensa riqueza de humanidade que trazem consigo”.

Francisco promulgou o documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).

O texto sublinha o valor do percurso sinodal “num tempo dominado pela crise da” e por uma “conceção individualista da felicidade e da salvação”.

Vários números abordam a importância do ecumenismo, convidando à “valorização dos contextos, culturas e diversidades, e das relações entre eles”.

“O ecumenismo é, antes de mais, uma questão de renovação espiritual. Exige processos de arrependimento e de cura da memória das feridas do passado”, indica o documento, antes de evocar os cristãos de várias Igrejas e comunidades que, em várias regiões do mundo, “dão a vida pela fé em Jesus Cristo”.

O documento regista ainda a “tristeza pela falta de participação de tantos membros do povo de Deus neste caminho de renovação eclesial e o cansaço generalizado em viver plenamente uma sã relacionalidade entre homens e mulheres, entre gerações e entre pessoas e grupos de diferentes identidades culturais e condições sociais, especialmente os pobres e excluídos”.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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