Setúbal: Homilia de D. Américo Aguiar na Missa Crismal

Foto: Diocese de Setúbal/Ricardo Perna

 Meus filhos e irmãos padres, irmãs e irmãos em Cristo, saudações fraternas a todos, todos, todos.

 

 

Facilmente a nossa mente nos levará hoje, a cada um dos padres aqui presentes, ao momento em que o nosso bispo nos impôs as suas mãos, e depois todo o presbitério presente. Faço memória agradecida do bispo que, a 8 de julho de 2001, me ordenou, o senhor D. Armindo Lopes Coelho, e faço memória especialmente agradecida dos meus antecessores D. Manuel Martins, D. Gilberto Reis e D. José Ornelas, que nesta nossa igreja mãe da diocese sadina impuseram as mãos sobre a maioria de vocês, bem como todos os irmãos que constituem ou constituíram este presbitério.

Esta celebração “Crismal”, onde benzeremos e consagraremos os Santos Óleos (Catecúmenos, Unção dos Doentes e Santo Crisma), também nos enraíza profundamente no momento em que as mãos de cada um de nós foram ungidas com Óleo Santo… com a imposição das mãos, a unção e a oração fomos introduzidos no sacerdócio de Jesus Cristo.

Este mesmo óleo da alegria chegará às irmãs e irmãos através de cada um de nós, in persona Christi.

Hoje renovamos perante Cristo a disponibilidade destas nossas mãos ungidas serem as Suas mãos… pedindo-Lhe que não deixe, nunca deixe de nos dar a Sua mão e nos guiar.

O óleo da unção, unta e perfuma… para chegar bem longe ao mais periférico dos próximos, “O Senhor dirá claramente que a sua unção é para os pobres, os presos, os doentes, e quantos estão tristes e abandonados. A unção, amados irmãos, não é para nos perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco, pois o óleo tornar-se-ia rançoso… e o coração amargo”. (Papa Francisco, Homilia da Missa Crismal de 2013).

São muitos, todos, os que aguardam, mesmo sem saberem, o momento de acolherem a alegria do anúncio da Boa Nova que lhes levamos. Cada um com o seu ritmo e a realidade das suas vidas.

«Queríamos ver Jesus» (Jo 12,21). Este pedido, feito ao apóstolo Filipe por alguns gregos que tinham ido em peregrinação a Jerusalém por ocasião da Páscoa, ecoou espiritualmente também aos nossos ouvidos ao longo deste ano jubilar. Como aqueles peregrinos de há dois mil anos, os homens do nosso tempo, talvez sem se darem conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes «falem» de Cristo, mas também que, de certa forma,  lh’O façam «ver». E não é porventura a missão da igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história, e, por conseguinte, fazer resplandecer o seu rosto também diante das gerações do novo milénio? (Papa João Paulo II, Novo Millennio Ineunte, 2001).

Serão as nossas mãos ungidas, os nossos rostos, os nossos pés, seremos nós, plenamente, na totalidade, que seremos O rosto de Cristo para todos os nossos irmãos.

Quero dar graças a Deus por cada um de vocês que no dia a dia das nossas 57 paróquias e de outras realidades eclesiais sois presença de Cristo junto dos cerca de 900.000 homens e mulheres de boa vontade a quem queremos anunciar a Boa Nova da Salvação… a quem queremos fazer chegar o perfume da alegria desta boa notícia: Cristo Vive, ama-nos e quer salvar-nos, salvar-me.

Cada um de vocês, meus filhos e irmãos, depara-se todos os dias com as realidades mais frágeis da vida dos nossos irmãos. Os que tiveram a graça de renascer pelo batismo, acompanhamo-los na Eucaristia, no Crisma, na Unção dos Doentes, no Matrimónio, na Reconciliação, na Ordem… nas quedas e nas retomas da caminhada… “reparai, quando alguém tem de levantar-se ou ajudar alguém a levantar-se, que gesto faz? Olha-a de cima para baixo. Trata-se da única ocasião, do único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo: quando queremos ajudá-la a levantar-se” (Papa Francisco, Vigília da JMJ LISBOA 2023). É esta imagem que irmãs e irmãos sadinos têm gravada nos seus corações quando a mão que lhes é apresentada é uma mão ungida, é a mão do próprio Jesus Cristo disponibilizada por cada um destes nossos padres.

Ele me enviou, ouvimos na proclamação de Jesus. Ele envia-me, envia-nos dizemos nós.

No último encontro do clero que realizamos no nosso Seminário de S. Paulo, tive a oportunidade de, mais uma vez, vos oferecer um livro. Uma reflexão do teólogo espanhol, António Ávila, intitulado “O Cansaço do Clero” … nas suas páginas vamos percorrendo realidades próximas ou longínquas… que nos devem, que me devem fazer parar, refletir e rezar. Seja o infelizmente cada vez mais famoso Burnout (Desgaste Profissional), sejam outros quadros de cansaço, esgotamento e dependências.

Cristo está interessado em fazer sentir a proximidade de Deus, precisamente nos lugares e situações onde as pessoas vivem, lutam, esperam, às vezes colecionando nas suas mãos fracassos e insucessos, precisamente como aqueles pescadores que não tinham pescado nada durante a noite. Jesus olha com ternura para Simão e os seus companheiros que, cansados e angustiados, lavam as suas redes, realizando um gesto repetitivo, automático, mas também cansado e resignado: não havia mais nada a fazer senão voltar para casa de mãos vazias (Papa Francisco, Vésperas, JMJ LISBOA 2023).

É deste cansaço e destas mãos que somos também feitos… mas as nossas mãos foram ungidas e perfumadas, pela imposição das mãos e pela oração fomos e somos enviados para o ANÚNCIO ALEGRE E FELIZ DA BOA NOTICIA de CRISTO VIVO.

Meus padres, sejamos rede de segurança uns para os outros, tecida por ELE, ungida e perfumada… os últimos tempos não têm sido fáceis, mas o Espirito do Senhor está sobre nós..

Peço-vos que rezemos e demos graças a Deus pelo Monsenhor Lobato, pela vida ministerial dada à sua diocese sadina.

Peço-vos que rezemos e demos graças a Deus pelo D. Fernando Paiva, pela vida ministerial dada a Setúbal e pelo seu ministério episcopal em Beja.

Peço-vos que rezemos e demos graças a Deus pelos padres Miguel Alves e Sezinando Alberto pelas bodas de prata sacerdotais que Deus lhes dá a graça de viverem.

Peço-vos que rezemos e demos graças a Deus pelos nossos padres idosos ou doentes, assumindo aqui perante todos que a diocese não lhes faltará em tudo o que for necessário nas suas vidas, quanto a alojamento, cuidados de saúde, carinho, dedicação e acompanhamento… não é nenhum favor, é obrigação da diocese. Obrigado, meus padres anciãos. Deus vos abençoe e proteja sempre e Maria vos cuide.

Peço-vos que rezemos e demos graças a Deus pelo recentemente falecido Padre Rodrigo, pelo seu ministério presbiteral ao serviço de Setúbal, e por todos os padres, diáconos e agentes pastorais falecidos, pelo nosso bispo D. Manuel Martins, por todos, para que no céu intercedam por este seu amado povo sadino.

Jesus assumiu a nossa carne. Demos-lhe nós a nossa, para que deste modo possa vir ao mundo e transformá-lo (Papa Bento XVI, Missa Crismal 2006).

Este é o tempo de nos darmos por inteiro ao povo que nos está confiado e de nos darmos uns aos outros como irmãos.

Que Nossa Senhora da Graça rogue por nós.

 

Sé de Setúbal, 28 de março de 2024

Cardeal D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal

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