«Não havia lugar para eles na hospedaria» (Lc 2,7)

Mensagem de Natal de D. Sérgio Dinis, bispo eleito para a Diocese da Forças Armadas e das Forças Segurança em Portugal

Foto: Agência ECCLESIA/OC

São Lucas, quase de fugida, deixa-nos um detalhe profundo:
Maria deu à luz o seu Filho, repousando-O numa manjedoura,
pois não havia espaço para eles.
Um pequeno detalhe que ecoa, ano após ano,
provocando-nos sempre a mesma pergunta:
E se fosse hoje?
Haveria lugar para eles nas nossas “hospedarias”?

A ausência de lugar levou-os a um estábulo,
um espaço de silêncio e solidão.
Não havia espaço, mas talvez ainda mais cruel:
não havia tempo!
E a pergunta persiste, atravessando os séculos,
atingindo o mais fundo do coração:
Hoje há lugar? Há tempo para Deus nascer?

Quando Deus se aproxima de nós, buscando nascer,
não encontra morada.
A nossa mente está cheia de pensamentos velozes,
tão ocupada em resolver urgências do agora,
que a ideia de Deus se torna distante, quase descartável.
Não há espaço para o sopro da sua narrativa,
muito menos para a Sua presença viva.

O nosso coração, repleto de amores que podemos tocar,
carregado de sentimentos que abraçamos,
fica cego ao Amor Infinito.
E, tantas vezes, dominado pelo amor próprio,
também nele não há lugar para Deus.

Mas talvez o maior embaraço não seja a falta de espaço,
mas a tirania do tempo.
Não temos tempo para Deus!
Vivemos num mundo que corre depressa,
onde tudo é urgente – mas esquecemos que nem tudo o que é urgente é importante.
E Deus, tão urgente para o nosso ser,
foi relegado a uma importância perdida.
Sem tempo para Ele,
vivemos à deriva na superfície da vida, sem afundar
esquecemos o ser e ficamos pelo fazer.
Sem espaço nem tempo, estamos apenas cheios de nós mesmos.

Mas Deus, como outrora, ainda quer nascer em nós.
Não como um invasor,
mas como uma criança que espera docemente
por uma porta aberta,
por um coração disposto.

Deus fala no silêncio, com a suavidade de uma criança,
tocando não apenas a razão,
mas o coração, que se deixa amar.
Ainda hoje, Ele bate à porta, à espera –
mas cabe a nós abrir-lhe espaço, oferecer-lhe tempo.

Por isso, um dia, Jesus bendisse o Pai:
“Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos
e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).

Abrir a porta do coração e da razão é, afinal,
fazer acontecer o primeiro Natal –
não apenas em Belém,
mas em cada um de nós.

Votos de um Santo e Feliz Nata!

D. Sérgio Dinis

Bispo eleito para a Diocese da Forças Armadas e das Forças Segurança em Portugal

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