Saúde: Pandemia fez «aumentar» acompanhamento espiritual no IPO, junto dos pacientes, familiares e profissionais de saúde

Padre Custódio Langane, capelão hospitalar há três anos, descobriu, junto das crianças, estar «no lugar certo» para «dar vida»

Foto: IPO, DR

Lisboa, 08 fev 2022 (Ecclesia) – O padre Custódio Langane, capelão hospitalar do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, disse hoje que o seu trabalho em tempo de pandemia de Covid-19 aumentou, também porque teve a possibilidade de estar sempre junto dos doentes.

“Eu tive uma bênção em estar no IPO. Sempre estive, mesmo durante o tempo de pandemia, porque os profissionais de saúde sempre me abriam as portas; entrei em todas as enfermarias e quartos. Nunca senti dificuldades em ir ao encontro dos doentes, sempre encontrei as portas abertas”, explica o capelão à Agência ECCLESIA.

O maior impacto que o responsável afirma foi sentido junto dos pacientes, que lamentavam a ausência da família e das visitas.

“No primeiro ano da pandemia não houve visitas. Eu podia ver os doentes que se sentiam abandonados pela família que não podia entrar no IPO. As pessoas percebiam que não era a família que não queria estar ali, mas o desconhecido e o cuidado impunha que assim fosse”, recorda.

Com as famílias ausentes dos quartos no IPO, foi o padre Custódio “a ligação” com os familiares.

“Com as pessoas idosas que não tinham como falar com os familiares, eu ligava e fazia chamadas vídeo, e as pessoas ficavam alegres e felizes por verem a família, os netos. Isto ajudou muito, mas no fundo as pessoas sentiram um vazio enorme quando não havia visitas”, explica.

Com o regresso das visitas ao hospital, “com muito controlo, cuidado, com os testes negativos e as pessoas vacinadas”, a normalidade vai regressando.

“Senti que a minha presença foi tão importante para os doentes como para os profissionais de saúde que sofreram muito com a pandemia. A covid-19 era uma ameaça”, regista.

Daí que os pedidos de acompanhamento tenham aumentado, também, entre os profissionais de saúde, que o procuravam para falar de “medos, das angústias e das suas buscas” e sobre quem o capelão reconhece o “esforço, serviço e trabalho”.

A cada mês, o padre Custódio Langane preside a uma celebração eucarística no IPO, “vivida e celebrada” com os profissionais de saúde, onde o sacerdote partilha a mensagem dos doentes: “Estamos muito felizes com o trabalho que os profissionais de saúde fazem e pelo serviço que nos prestam”, assinala.

Há três anos como capelão naquele estabelecimento de saúde, o padre, natural de Moçambique, recorda o “medo” sentido quando entrou pela primeira vez.

“Se calhar já tinha teoria, tinha lido muita coisa para me preparar, mas lembro-me que entrei com muito medo. Medo de como me aproximar das pessoas na doença e no sofrimento, do que lhes queria dizer, do que me esperava e do que as pessoas esperavam de mim”, recorda.

Esta angústia dissipou-se quando no primeiro dia entrou no serviço de Pediatria e foi recebido pelo sorriso das crianças que lhe mostraram estar no sítio certo.

“As crianças foram uma escola de vida. Mesmo com sofrimento e dor, afinal havia alegria. Ali percebi que a minha missão era essa, transmitir a alegria, dar sentido à vida. Mesmo com a máscara um doente disse-me: «O padre sorri com os olhos». Podemos sorrir com os olhos, com a nossa forma estar com o doente”, conta.

Com as restrições que a pandemia impôs e ainda impõe nos estabelecimento de saúde, o padre Custódio Langane não se furta nos abraços.

As crianças não ligam às impossibilidades dos abraços. Quando não estão com os sintomas dos tratamentos dão-me um abraço e eu não recuso. As crianças são muito acolhedoras. Os adultos receiam mais. Muitos estendem-me a mão e eu hesito, com receio de poder transmitir alguma coisa aos doentes, mas vou gerindo consoante a reação: se as pessoas hoje me estendem a mão eu aperto, porque aquele contacto é terapêutico”.

O capelão do IPO fala de uma casa “de muito sofrimento, com pessoas que sofrem muito”, mas onde também se vive “o amor e a partilha”.

“Somos fruto de afetos. Estamos ali a servir com amor e o amor cura, dá sentido à vida. A pessoa sente-se valorizada, acolhida. E os doentes reconhecem que quem serve no IPO, serve com muito amor”, indica.

O Papa Francisco publicou uma mensagem para o Dia Mundial do Doente, que se assinala no dia 11 de fevereiro, onde defende um acesso universal a serviços de saúde, recordando milhões de pessoas excluídas socialmente nos cinco continentes.

“Há ainda um longo caminho a percorrer para garantir a todos os doentes, mesmo nos lugares e situações de maior pobreza e marginalização, os cuidados de saúde de que necessitam e, também, o devido acompanhamento pastoral”, adverte.

LS

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