Santarém: Homilia de D. José Traquina na celebração da Paixão do Senhor

Irmãos e irmãs

Nesta Liturgia da celebração da Paixão do Senhor, escutamos a Palavra de Deus, faremos as preces e a adoração da Cruz e receberemos a ‘Comunhão’ da sagrada reserva da missa de ontem. Fazemos assim uma aproximação entre duas realidades que se correspondem: a eucaristia e a cruz.

A Palavra de Deus centra-nos na pessoa de Jesus. O que escutámos na 1ª Leitura do profeta Isaías (52,13-53) acerca do Servo sofredor, vemo-lo concretizado em Jesus na sua paixão e morte na cruz.

A escuta longa da leitura da Paixão leva-nos a adentrar no coração de Jesus, assumido como o enviado do Pai, cumprindo a missão messiânica de tornar presente o Reino de Deus. Confirma na cruz toda a bondade demonstrada na sua dedicação às pessoas, com especial atenção aos pobres e doentes.

Como escutámos no Evangelho (Jo 18,1-19,42), “Jesus saiu com os seus discípulos”; é assim que começa a narração que escutámos. E foi para o jardim onde muitas vezes se reunira com os discípulos. Judas apresenta-se com soldados, guardas, archotes e armas. O apóstolo Pedro também tem uma arma, pretende defender Jesus mas Ele não permite: “mete a espada na bainha”.

Jesus está decidido, não se desvia do sofrimento; assume que chegou a sua Hora. Todavia, não deixa de responder às perguntas do sumo sacerdote, defendendo a sua inocência: “Falei abertamente ao mundo. Sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque Me interrogas? Pergunta aos que Me ouviram o que lhes disse: eles bem sabem aquilo de que lhes falei”.

Jesus não desiste de argumentar as suas razões. Perante uma bofetada de um guarda, interroga: “Se falei mal, mostra-me em quê. Mas se falei bem porque me bates?

No tribunal de Pilatos e coroado de espinhos é o verdadeiro rei que inverte todas as formas dos reinos deste mundo. É o rei condenado em que todos os injustiçados deste mundo encontram companhia e consolação. A paixão de Jesus revela a beleza e a grandeza da sabedoria e do coração de Jesus.

Na cruz, Jesus revela o seu perdão aos homens e absoluta confiança no Pai e dá-nos a sua Mãe como nossa Mãe! Conclui com duas breves afirmações:

Tenho sede!” Que sede é esta? Será a sede de nos encontrar na busca da realização da vida, na procura de soluções, na busca de sinais de esperança? Será sede de nos encontrar interessados num mundo mais justo? Ou sede de nos encontrar interessados em encontrar a ‘água viva’, ‘o dom de Deus’, como um dia aconteceu com a mulher samaritana.

A sede Jesus também chegou até este dia; atraiu-nos para nos fazer desejosos de estar com Ele e assumir a pertença ao seu reino e receber o dom que Ele nos pode dar com a fidelidade da sua entrega na Cruz.

“Tudo está consumado”, é a segunda e última afirmação. Tudo está consumado para que todos tenham acesso à vitória sobre o mal. Em Jesus, o demónio não venceu, foi vencido. A vontade do Pai foi respeitada. Tudo está consumado porque está inaugurada a possibilidade do homem ser libertado do mal e ser fiel a Deus. Tudo está consumado para que tenha início a nova Criação.

Morrendo na Cruz, Jesus confirma que veio ao nosso encontro e tornou-se íntimo da Humanidade e acessível a todos. A nossa atitude deve ser de gratidão e oração: Obrigado Senhor pela tua fidelidade, por tudo que fizeste por cada um de nós, pelo Pai a quem nos ensinaste a rezar, pela Mãe que nos deste e a quem nos ensinaste a confiar e pela Nova Aliança com a qual asseguras a presença connosco. Obrigado Senhor pela tua Páscoa; salva-nos do mal e suscita na humanidade o desejo da edificação da justiça e da Paz.

+ José Traquina

Sé de Santarém, 29-03-2024

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