Quaresma: Da trivialidade rotineira à radicalidade – D. Rui Valério convida a gestos de memória, cordialidade e serviço

Diocese de Lisboa destina renúncia quaresmal às obras na Casa Sacerdotal do patriarcado e ao apoio de crianças e jovens vítimas da guerra na diocese de Pemba, em Moçambique

Foto: Patriarcado de Lisboa/Duarte de Mourão Nunes

Lisboa, 12 fev 2024 (Ecclesia) – O patriarca de Lisboa convidou os cristãos a percorrer o caminho quaresmal a partir das dimensões da “recordação, cordialidade e serviço”, afirmando que o “tempo de deserto” abre à “escuta do essencial”.

“A Quaresma é o tempo favorável de aproximação e preparação para a Páscoa, o verdadeiro âmago do mistério da fé. Por inerência, um tempo de deserto que, no entanto, é tempo que se faz espaço, torna-se também lugar, fonte configuradora de novas atitudes. (…) Ninguém regressa do deserto indiferente”, escreve D. Rui Valério na mensagem da Quaresma.

“O deserto oferece-nos o silêncio que nos abre à escuta do essencial”, sublinha ainda: “É aí que apreendemos o valor do outro, enquanto irmão, e da sua indispensável presença na nossa vida, pois só sobreviveremos se assumirmos a nossa condição de pessoas que vivem em comunidade”, acrescenta.

O responsável da diocese de Lisboa convida a uma “tríplice face” orientadora da “caminhada quaresmal: recordação, cordialidade e serviço”.

Recordar significa fazer voltar ao coração, regressar com o coração”, escreveu, evocando a memória que a contemplação da cruz faz evocar: “Quando contemplamos o seu rosto, recordando os seus gestos, fazemos memória viva da sua bondade, que é gratuita e incondicional. E comove-nos! Na força desta memória, que traz de volta ao coração a ação do Senhor, reencontramos também a multidão imensa por quem o Senhor deu a sua vida”.

D. Rui Valério indicou que a cordialidade “exprime a ação que é realizada a partir do coração”, ganhando gestos de não julgamento, de indignação perante vítimas da guerra e da injustiça, de amor e respeito integral do outro, de paciência, de responsabilidade e compromisso com a verdade, de abertura e diálogo com todos, de centrar a ação pastoral no amor, de promoção de paz.

O responsável afirmou ainda que o serviço significa o compromisso com a “libertação de todas as escravidões” e a construção de “um verdadeiro projeto de vida”.

A diocese de Lisboa vai destinar a renúncia quaresmal para a Casa sacerdotal do patriarcado de Lisboa e para a diocese de Pemba, apoiando crianças e jovens vítimas da guerra.

“Apoiar as obras na Casa Sacerdotal do Patriarcado de Lisboa para construir alojamentos para jovens; e apoiar obras na Escola-Orfanato das Irmãs de São José de Chambery, na Diocese de Pemba, na cidade de Mocímba da Praia e Cabo Delgado, em Moçambique, para acolher crianças e jovens vulneráveis, vítimas da guerra, e abrir furos para captação de água e, dessa forma, resolver o consumo de águas envenenadas”, pode ler-se.

“Não são os nossos esforços ascéticos, nem as nossas obras, mas a preponderância da Vida enquanto Luz que vence os abismos da escuridão”, refletiu ainda o patriarca de Lisboa, convidando a um afastamento da “mentalidade do repetitivo”.

“Venho propor à Diocese de Lisboa que, neste tempo quaresmal, percorrendo o caminho da conversão, se deixe levar pelo turbilhão da radicalidade a nível da vida espiritual; se deixe arrastar pela medida alta da santidade, que é ir até aos limites do amor, da esperança e da fé. Movidos pelo sopro de Deus, desejemos afastar-nos não tanto do ritmo das coisas, mas da mentalidade do repetitivo, do rotineiro, em suma, da trivialidade”, convidou.

A Quaresma é um tempo litúrgico, de 40 dias (a contagem exclui os domingos), de preparação para a Páscoa, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, com início na Quarta-feira de Cinzas (14 de fevereiro, este ano).

LS

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