Proteção de Menores: Grupo VITA está a desenvolver «dois programas de prevenção primária» para contextos da Igreja Católica em Portugal

Professores de Educação Moral e Religiosa Católica,  catequistas, escuteiros e grupos de jovens estão entre os destinatários

Lisboa, 18 nov 2024 (Ecclesia) – A coordenadora do Grupo VITA disse hoje, numa iniciativa no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, que estão a desenvolver “dois programas de prevenção primária” para a Igreja Católica, que querem apresentar até abril de 2025.

“É o ‘Programa Girassol’, para crianças dos 6 aos 9 anos de idade, e é um jogo digital, que se chama ‘Lighthouse Game’ (lighthouse de farol) para crianças dos 10 aos 14 anos, que estão em fase de conclusão”, explicou Rute Agulhas, em declarações à Agência ECCLESIA, esta segunda-feira, Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual (18 novembro).

Segundo a coordenadora do Grupo VITA, que acompanha situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis na Igreja Católica em Portugal, os “dois programas de prevenção primária” vão ser apresentados publicamente “provavelmente, em março, no máximo abril de 2025”, e começam imediatamente “a dar formação a quem os vai utilizar”.

“Quem os vai utilizar são, acima de tudo, professores de Educação Moral e Religiosa Católica, são os catequistas, eventualmente os escuteiros, grupos de jovens. Portanto, são passíveis de ser aplicados em diferentes contextos da Igreja, são pensados e desenhados para o contexto da Igreja Católica em Portugal, naturalmente baseados em todas as evidências e toda a literatura que existe no que diz respeito à prevenção da violência sexual, envolvendo crianças, pais, cuidadores, comunidade um pouco mais alargada”, desenvolveu.

Rute Agulhas adianta que começam com a “formação a todos estes agentes, que são alguns milhares em Portugal”, para que se comecem a implementar estes programas, e o objetivo depois “é ir avaliando o seu impacto, avaliar a sua eficácia” e perceber o que é que muda em termos de conhecimentos, “mas também em termos de competências, em todos os participantes”.

“Nós sabemos da literatura, que as crianças, mas não só, os adultos também, professores, catequistas, pais, que são envolvidos nestes programas de prevenção primária aumentam os seus conhecimentos, tornam-se mais atentos, mais alerta, sabem melhor como adotar alguns comportamentos de prevenção”, desenvolveu, destacando que, efetivamente, aumenta também a probabilidade das crianças pedirem ajuda e revelarem uma situação abusiva, que pode acontecer na Igreja ou fora da Igreja, como “revelar junto do seu professor de Educação Moral e Religiosa Católica abuso que é vítima em casa, ou ao catequista o abuso que é vítima na escola”.

A psicóloga realça que “a responsabilidade da prevenção” compete aos adultos, “criar uma cultura de cuidado” e pensando na Igreja existe o manual que o Grupo VITA publicou “há quase um ano”, para além das ações de formação e capacitação que têm realizado e já chegaram a “2700 pessoas de norte a sul”, formação online e “muita formação presencial”, nas dioceses – Portalegre-Castelo Branco, Évora, Vila Real, Funchal, e têm agendado Viseu, Aveiro e Setúbal – a professores, catequistas, congregações e institutos religiosos.

“No Funchal, falei numa igreja para 500 catequistas, a igreja do Campanário, gigante, e disse: ‘há 10 anos isto era sequer imaginável, ou há 20, alguém estar numa igreja a falar para catequistas sobre violência sexual, um tema tão tabu’; em Évora, num dos sábados, estavam 200 pessoas, este último sábado em Castelo Branco, em Alcains, estavam 120 pessoas. As pessoas que vão porque entendem que é um tema que é importante”, explicou.

Rute Agulhas salienta que “estes agentes da Igreja se sentem um bocadinho observados”, mas tenta sempre mostrar que estão ali para pensarem em conjunto como é que podem tornar cada contexto “mais seguro, como é que podem estar mais atentos, mais alerta”, e se identificarem alguma situação, um suspeito, ou uma revelação por parte de uma criança ou de um jovem, ou de um adulto vulnerável, saibam o que fazer e o que não fazer”.

CB/PR

 

Foto: Lusa

18 de novembro é o Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual, data criada pelo Conselho da Europa em 2015, este ano com o tema ‘Tecnologias emergentes: ameaças e oportunidades para a proteção das crianças contra a exploração sexual e o abuso sexual’.

Rute Agulhas salientou que a importância destes dias é exatamente também “obrigar, de alguma forma, a sociedade e os países a parar”, para pensar qual é o caminho que têm feito e o que é que ainda falta fazer no “combate da criminalidade sexual contra crianças e jovens, mas também à prevenção”.

Segundo a psicóloga “os números que são conhecidos são um pouco assustadores”, as estimativas recentes da UNICEF indicam que “uma em cada cinco crianças será vítima de alguma criminalidade sexual, uma em cada cinco, nas crianças do género feminino, uma em cada sete para as crianças do sexo masculino”, mas “muitos países reportam pouco a violência contra rapazes”.

“Não temos em Portugal um verdadeiro estudo de prevalência que era preciso ser feito, mas vamos conhecendo os novos casos, a incidência do fenómeno”, referiu

Rute Agulhas que, na manhã desta segunda-feira esteve no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, disse que Carlos Farinha, diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, contabilizou que há “duas mil novas vítimas de criminalidade sexual de crianças e jovens por ano em média”.

“Na minha opinião, enquanto psicóloga, enquanto coordenadora do Grupo VITA, não estou a falar só de Igreja, é de facto importante reforçar as estratégias também de articulação interinstitucional, de maior colaboração, no fundo para estarmos de facto todos mais articulados. Melhorar a comunicação entre as diversas entidades, sensibilizar e consciencializar, é muito importante criar canais de denúncia também mais fáceis, mais acessíveis, promover ações de facto junto da comunidade, das crianças, dos pais, dos professores, de todos os técnicos, formar, capacitar”, desenvolveu a coordenadora do Grupo VITA, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa.

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