Proteção de Menores: Prazo para pedidos de compensação «não é uma parede rígida que fecha o processo», afirma coordenadora do Grupo Vita

Rute Agulhas disse que têm «56 pedidos de compensação financeira», referindo que «cerca de 117 pessoas» contataram a pedir para «ser escutadas, a pedir apoio psicológico»

Foto: Lusa

Lisboa, 18 nov 2024 (Ecclesia) – A coordenadora do Grupo VITA, que acompanha situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis na Igreja Católica, afirmou hoje que a cultura do cuidado se “está a espalhar”, salientando que o prazo para pedidos de compensação “não é uma barreira que fecha o processo”.

“Se no dia 1 de abril, neste caso pensando que o prazo foi alargado, ou se em maio, ou em junho, alguém contactar e disser ‘eu também gostaria, mas eu não consegui pedir na altura’, por grandíssimas razões, porque sabemos que isto é um processo difícil, todos estes processos também vão ser tidos em conta”, disse a psicóloga Rute Agulhas, em declarações à Agência ECCLESIA, esta segunda-feira, Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração e o Abuso Sexual (18 novembro).

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) anunciou o alargamento, até 31 de março de 2025, do prazo para pedidos de compensação financeira de vítimas de abusos sexuais por membros do clero ou em instituições eclesiais, no final da sua Assembleia Plenária, no dia 14 de novembro.

O Grupo VITA assinala que “esta mensagem pública”, de que o prazo aumentou, “também conforta algumas pessoas” que têm “mais tempo para decidir, porque muitas pessoas oscilam”, “sentem-se um bocadinho mais confortáveis, menos pressionadas pelo tempo”, e “é muito importante passar esta mensagem de que o prazo não é uma barreira, uma parede rígida que fecha o processo”.

“Continuamos a ser contactados por vítimas, temos até o momento cerca de 117 pessoas que contactaram para ser ouvidas, para ser escutadas, a pedir apoio psicológico. Temos 56 pedidos de compensação financeira”, adiantou.

Rute Agulhas explica que há pessoas que dizem um dia ‘eu não quero compensação’, mas, no dia seguinte, ou na semana a seguir, ‘eu afinal quero’, como existe o contrário, e exemplificou que “uma senhora, na quarta-feira passada, disse que não queria”, mas mudou de ideias, e tinha enviado um email, antes da entrevista, “há cinco minutos, a dizer ‘afinal quero’”.

A coordenadora do Grupo VITA explica que ver o prazo para o pedido de compensações “como algo estanque e rígido é uma ideia errada”, e destaca que “um número do regulamento, diz isso”; no número 3 do ‘Regulamento: Compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais’, lê-se que “os que vierem a ter lugar depois deste período serão tratados à luz do procedimento estabelecido então, como mais conveniente, pela Conferência Episcopal Portuguesa ou pelos Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostólica”.

A coordenadora do Grupo VITA, que acompanha situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis na Igreja Católica, realça percebe que a CEP precisou de “criar um prazo”, até para a primeira comissão de instrução se organizar, da qual o VITA também faz parte.

“Para termos uma ideia, qual é o conjunto de processos que vamos ter, quanto tempo é que vamos precisar para ouvir estas pessoas, temos que nos organizar porque é a comissão de instrução que vai ter com as vítimas, portanto somos nós que nos deslocamos, tem que haver aqui de facto uma estratégia”, explicou.

O Grupo Vita, criado pela Conferência Episcopal Portuguesa, na Assembleia Plenária de abril de 2023, está a percorrer as várias dioceses católicas de Portugal em ações de formação aos agentes pastorais e outros profissionais, e Rute Agulhas considera que a cultura do cuidado se “está a espalhar, está a haver cada vez mais adesão” e recetividade às sessões.

Em 2025, vão ser lançados “dois programas de prevenção primária” que estão a desenvolver “especificamente para o contexto da Igreja Católica em Portugal”: O programa Girassol, para crianças dos 6 aos 9 anos de idade, e o jogo digital ‘Lighthouse Game’, “para crianças dos 10 aos 14 anos”.

CB/PR

 

Igreja/Abusos: Bispos alargam prazo para pedidos de compensação e projetam responder até final de 2025 (c/vídeo)

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