Portugal: União das Misericórdias defende novo olhar sobre o envelhecimento

Manuel Caldas de Almeida destacou a importância do Plano de Recuperação e Resiliência e de se repensar os cuidados, formas e estruturas

 

Lisboa, 05 set 2022 (Ecclesia) – O vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas realçou a importância de refletir sobre o envelhecimento, do Governo a cada pessoa, defende a aposta no apoio domiciliário e explica a “oportunidade importante” que é o Plano de Recuperação e Resiliência.

“É necessário que os Governos olhem para isto de outra maneira, mas também é necessário que cada um olhe para o seu próprio envelhecimento, o previna, e olhe para a sua relação no mundo, com a comunidade”, disse Manuel Caldas de Almeida, em entrevista à Agência ECCLESIA.

“Não se deixe fechar, não se deixe isolar, isso é fundamental para ter uma boa velhice e para ter pessoas junto de nós quando formos velhos”, realçou, indicando que um dos problemas, “nas pessoas muito velhas, é a solidão”.

O vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) lembrou a importância de um envelhecimento ativo, e hoje as pessoas “já trabalham um bocadinho” essa etapa da vida, que “deve começar quando a pessoa nasce”, em cuidados com a alimentação, o tabaco, o exercício físico, porque está provado que “tudo faz com que haja mais anos bons na velhice”.

“Todos sabemos que haverá anos menos bons, quanto mais não seja pela grande fragilidade geriátrica, por terem uma ou mais doenças crónicas têm perdas, e podem ser resolvidas internamente, ou podem precisar de ajuda externa: Apoios domiciliários, lares, centros de dia, etc”, acrescentou.

Manuel Caldas de Almeida lembra que a UMP, já antes da pandemia Covid-19, dizia que tinha que existir “uma profunda reflexão sobre os cuidados” que se prestavam às pessoas mais velhas; a associação considera que os lares “foram desenhados para outros velhos que não são estes de agora”, pessoas autónomas que “queriam apoio de hotelaria”.

“Neste momento, fizemos um estudo profundo sobre os lares no país, 85% são pessoas com duas ou mais do que duas doenças crónicas: 50% são pessoas com demência diagnosticada, e 80% são pessoas com grandes dependências, pessoas que precisam de ajuda para tomar banho, para se vestirem, etc”, desenvolveu.

Sobre o lar do futuro, o responsável destaca, por exemplo, o trabalho na arquitetura, nos recursos humanos, nos “modos vivendi”, e é preciso “mudar o atual enquadramento, inclusive o enquadramento laboral”.

“Para nós a estrutura base é sempre o apoio domiciliário, e temos que apostar muito fortemente com novas tecnologias, novos tipos de apoios, e tornar o apoio domiciliário diferente do que é hoje”, destacou.

Segundo o vice-presidente da União das Misericórdias Portuguesas, o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) “pode ser a alavanca para a mudança no apoio domiciliário”, com digitalização, novas tecnologias em casa das pessoas, e “tornar as casas amigáveis para as pessoas com dependência”.

Também seria “muito importante” utilizar o PRR para “remodelar os lares”, e alerta para a “diferença muito grande na parte de arquitetura e até de ambiente”, conforme a altura em que foram construídos, e quando a nova s construções é “muito prudente”, indicando que “há zonas do país onde faltam”, como Lisboa, Porto e Algarve”.

Para Manuel Caldas de Almeida, que também é provedor no Alentejo e diretor de um Hospital em Lisboa, o PRR, programa de aplicação nacional, “não é a última oportunidade” mas é uma oportunidade importante.

União das Misericórdias Portuguesas é uma associação de âmbito nacional, criada em 1976 para orientar, coordenar, dinamizar e representar as Misericórdias, defendendo os seus interesses e organizando atividades de interesse comum.

 

A União das Misericórdias Portuguesas desafiou 15 pessoas, de várias origens, idades e profissões, a refletir sobre o envelhecimento, com o objetivo de “personalizar” este processo, que publicou num livro intitulado ‘Envelhecer’, com cerca de 80 páginas.

“Por um lado pedindo a essas pessoas que fizessem um pequeno texto sobre alguém que tinham acompanhado enquanto velho e acompanhado nesse processo. E uma outra reflexão sobre o seu próprio envelhecimento”, explicou Manuel Caldas de Almeida.

O vice-presidente da UMP recorda que várias pessoas falaram consigo pessoalmente e disseram: “Acho o projeto fantástico e comoveu-me quando comecei a pensar nisso, mas não tenho coragem de ir até ao fim”.

“Ou seja, percebi que para algumas pessoas pensar no próprio envelhecimento e ter que materializar o facto de que um dia iam ser velhos, ou dependentes ou frágeis, ou dementes, era demasiado difícil para as pessoas escreverem. Isto é muito importante”, desenvolveu Manuel Caldas de Almeida.

Na nova publicação da UMP, as 15 personalidades, entre elas o diretor da Agência ECCLESIA, realçam que o envelhecimento ou a longevidade “não pode ser um assunto secundário na sociedade portuguesa”.

LS/CB/PR

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