Os jovens, a Igreja e o queijo

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Carminho vai atuar para o Papa. Ouvia-a, em entrevista a uma grande amiga, quando a fadista portuguesa apresentou a metáfora que inspira o título deste texto (não é uma citação literal, mas a ideia está lá): a pessoa faz música como faz queijo. A receita pode ser tradicional, ter 100 ou 1000 anos, continuar a ser executada da mesma maneira, mas o queijo que se vai servir tem de ser feito agora, caso contrário estaria apodrecido. Haverá sempre quem acuse o produtor atual de alterar a receita – alguns ainda agarrados ao texto em que foi escrita, como se não pudesse ser traduzida -, mas tudo muda constantemente: o leite, os pastos, os pastores, os consumidores, ingredientes diferentes nos cinco continentes…

Serve isto para dar algum contexto ao que se pode esperar do encontro do Papa com os participantes na JMJ: Francisco tem sido, há uma década, um líder em busca de respostas radicais para problemas sociais e da Igreja. Nem as limitações de saúde nem o impacto da pandemia, com os seus confinamentos, travaram essa vontade, como é agora visível no processo sinodal.

Aos jovens cabe dar vida a esta proposta de “portas abertas”, a Igreja como “hospital de campanha”, principalmente preocupada com as periferias sociais, económicas e existenciais. Num mundo em guerra, a braços com crises humanas e ambientais de proporções gigantescas, novas receitas serão necessárias. Com um ingrediente central, de que Francisco não se cansa de falar: a “revolução da ternura”, contra a cultura do descarte, do usa (agora) e deita fora.

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