O nome do radicalismo católico: santidade

Octávio Carmo

Alegrai-vos e exultai. Se olharmos à nossa volta, parecem poucos os motivos para a alegria, numa sociedade sem tempo e sem paz. Mas é à alegria, à realização plena de si que o Papa aponta com a sua nova exortação apostólica, ‘Gaudete et Exsultate’, na qual propõe um modelo cristão de felicidade como alternativa ao consumismo, ao cansaço, à pressa e à indiferença face ao rosto do outro, por um mundo mais humano.

Após uma primeira leitura, desde logo nasceu em mim a ideia de estar perante um “manual de espiritualidade” para o Cristianismo do século XXI. Retomando o património de fé, recuperando as palavras de Jesus Cristo e olhando para o futuro, a fim de propor um caminho espiritual que mantenha a relevância da proposta católica num mundo em profunda transformação e, muitas vezes, em autodestruição.

Deus, escreve o Papa, é o Outro. Não o radicalmente diferente e inalcançável, mas Aquele que nos obriga a sair de nós mesmos para nos transformarmos, numa resposta radical ao individualismo, reconhecendo-o nos que mais sofrem, no corpo e no espírito.

Francisco diz que o critério de avaliação da vida é, antes de mais nada, o que se faz pelos outros. Sem surpresa, retoma o capítulo 25 do Evangelho de São Mateus para recordar aos católicos a regra de comportamento, com base na qual todos serão julgados: «Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (25, 35-36).

Compreende-se, por isso, que a exortação apostólica rejeite uma ideia de santidade dissociada da atenção a quem sofre. A todos e em todos os momentos da vida – colocando em pé de igualdade os bebés por nascer e os pobres que já nasceram, nas preocupações das comunidades católicas.

‘Gaudete et Exsultate’ é um alerta muito importante para quem vive ou concebe um catolicismo “elitista”, distante, cético, amargo e pessimista. Os batizados são chamados a ser santos uns com os outros, pelos outros e com o mundo, não apesar dele.

Para quem não é crente, a terceira exortação apostólica também traz lições importantes e um caminho de felicidade: se passarmos menos tempo preocupados no que temos ou queremos ter, em falar mal dos outros, em procurar o sucesso a todo o custo, poderemos prescindir do muito de que não precisamos para criar espaço, dentro de cada um, para o que realmente interessa e faz a diferença. Em linguagem católica, essa felicidade que ninguém pode tirar tem um nome, o do único radicalismo que esta fé promove: santidade.

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