“O Banco Alimentar ajuda a alimentar ideias” – Isabel Jonet

A recolha e distribuição de alimentos através de 2400 instituições, em todo o país, é a razão de ser dos 21 bancos, em Portugal, que são já muito mais do que isso.

Por ocasião da presença dos voluntários nos supermercados para a recolha de Natal, Isabel Jonet, diz que o Banco Alimentar é também o Banco de Bens Doados, o Banco de Equipamentos, a ‘ENTRAJUDA’, o projeto ‘Tempo Extra’ e a Bolsa do Voluntariado.

Foto Renascença/Joana Bourgard, Isabel Jonet

Entrevista conduzida por Ângela Roque (Renascença) e Paulo Rocha (agência ECCLESIA)

 

O Banco Alimentar Contra a Fome (BA) realiza este fim de semana mais uma campanha nacional de recolha alimentos. É importante os portugueses continuarem a colaborar e a contribuir para esta iniciativa?

O Banco Alimentar são hoje 21 bancos alimentares disseminados pelo território nacional, que não fariam sentido se os portugueses não os reconhecessem como a entidade de referência e de confiança para canalizar as suas doações de alimentos, sempre numa lógica de partilha.

Os BA não fazem peditórios, fazem campanhas de recolha de alimentos à porta dos supermercados, convidando quem vai às compras para sua casa a partilhar algo com quem não tem o mesmo nas suas casas, portanto há aqui um apelo, um convite à partilha.

A campanha deste ano tem como mote ‘Adira a esta rede social real’, até em contraponto às redes sociais em que partilhamos vídeos, fotografias de refeições, por vezes até coisas sem sentido. Este apelo é para que as pessoas adiram a uma rede social que partilha coisas que são absolutamente necessárias, que têm sentido.

Há a expectativa de que através desta abordagem e deste mote consigam chegar a um público mais diferenciado?

Os bancos alimentares dirigem-se a toda a gente, essa é a sua força e o seu aspeto diferenciador. Os bancos alimentares não dependem de nada nem de ninguém, não têm qualquer ligação política, religiosa ou até territorial. Dirigem-se a todos os portugueses, a toda a sociedade civil, sendo um produto da própria sociedade civil.

Todas as pessoas que quiseram constituir bancos alimentares – e, como disse, já há 21 no país – dirigiram-se ao BA de Lisboa, que foi o primeiro criado em Portugal, e pediram: ‘como é que eu posso abrir um banco alimentar?’. E aquilo que fazemos é ensinar a fazer um banco alimentar.

Os bancos alimentares têm de ser oriundos da sociedade civil do local onde se querem constituir e têm de ser alimentados por essa sociedade local, seja com voluntariado – e todos os corpos sociais e todos os dirigentes dos BA são obrigatoriamente voluntários -, seja com produtos, serviços ou donativos em dinheiro. Aquilo que fazemos é, em cada local, ajudar a abrir um banco alimentar que serve a região. Por exemplo, nesta campanha, todos os produtos que forem recolhidos na região de Coimbra serão distribuídos na região de Coimbra, tudo o que for recolhido na região do Algarve será distribuído na região do Algarve. Há uma grande proximidade entre quem dá e quem recebe, e os bancos alimentares têm um modelo de funcionamento que assenta em parcerias, não doam nada a ninguém diretamente.

 

Quem distribui os produtos são as instituições que os vão buscar aos bancos alimentares?

Precisamente. É uma grande cadeia logística. Seria impossível os bancos alimentares estarem a apoiar diretamente a alimentação de quase 400 mil pessoas. Aquilo que fazemos são protocolos de parceria com instituições – e são 2400 instituições que recebem os produtos, algumas diariamente.

Todos os dias há entidades que vão a um armazém do BA receber produtos e são parceiras no terreno na distribuição dos alimentos. Levam-nos sob a forma de alimentação confecionada, que é servida nos lares, nas creches, nos centros de dia, ou através de sacos de alimentos que são entregues às famílias que, uma vez por semana, de 15 em 15 dias ou até diariamente os vão buscar. Porque, para além dos produtos que são recolhidos nestas campanhas, acrescem os excedentes de produção e a missão do BA é a luta contra o desperdício de alimentos. Há 28 anos que nos dirigimos às empresas dizendo ‘não deite fora o pão que lhe sobra’ ou ‘não deite fora a fruta que tem a mais’ ou ‘não desperdice a charcutaria fresca que não conseguiu comercializar’.

 

E tem havido mais sensibilidade ao longo do tempo para essa necessidade de não desperdiçar?

Muita! O Banco Alimentar foi pioneiro nesta ideia da luta contra o desperdício alimentar. Essa é a missão do BA, está consagrada na carta e a nível europeu é assim. Mas, há aqui uma componente de rigor na distribuição e no sentido da distribuição com amor que é feita pelos bancos alimentares através das instituições que levam os alimentos à mesa de quem precisa e que, nas soluções mais tecnológicas, apenas de combate ao desperdício, por vezes se perde.

O BA tem em si esta necessidade de recolher alimentos evitando a sua destruição e o seu desperdício, porque há quem deles precise. Há um sentido de justiça na distribuição dos alimentos, porque não é justo uma sociedade excessivamente consumista produzir para destruir. Então, a proposta do BA às empresas – e tem-se feito caminho até em termos de fiscalidade – é ‘não destrua, dê, o BA vai levar o seu produto à mesa de quem precisa e a sua empresa ainda pode ter benefícios fiscais’.

 

Falou há pouco na distribuição de bens alimentares através de 2400 instituições. Essas instituições não têm protocolos com o Estado para garantir a alimentação aos seus beneficiários e utentes? Não há aqui duplicação de apoios?

A grande maioria destas instituições tem efetivamente acordos com o Estado. Mas, por exemplo as Conferências de São Vicente de Paulo, não têm este tipo de acordos, e muitos outros grupos informais também não. E mesmo as instituições que os têm não recebem as verbas suficientes para fazer face às despesas gerais de financiamento.

Em Portugal, o Estado delegou nas Instituições Particulares de Solidariedade Social a assistência e o apoio aos mais necessitados e, em meu entender, delegou bem porque o Estado não pode ter a ambição de fazer aquilo que as instituições, que estão no terreno, fazem com muito mais proximidade, com muito mais amor, com muito mais eficácia e com muito menor custo, mas sobretudo com muito maior transparência. O Estado faz acordos de parceria com lares, centros de dia, residências de jovens e crianças, creches, etc. Por cada utente é atribuído um valor, mas que não chega nem para 60 % das despesas. Então, as instituições, para além das mensalidades dos utentes, têm que solicitar outro tipo de apoios, nomeadamente este apoio aos bancos alimentares.

 

Foto Renascença/Joana Bourgard, Isabel Jonet

Tem crescido o número de instituições que recorrem ao Banco Alimentar?

É estável, porque já abrangemos praticamente o universo das instituições.

 

Portanto, aqui não há diferença, por exemplo em relação aos anos da crise?

Não, não há. O número de instituições não tem variado. No número de pedidos, ou seja, no número de famílias que são abrangidas pelas instituições, é que se verificou um decréscimo, sobretudo devido ao decréscimo do desemprego.

 

Empregados mais pobres

Há menos desemprego e a pobreza baixou para 17,2%, em 2018. Mas, segundo os dados mais recentes do INE, conhecidos esta semana, ainda há 2 milhões e 200 mil portugueses em risco de exclusão social, que vivem com menos de 501 € por mês, ou seja, o risco de pobreza cresceu entre a população que até está empregada. Sendo economista de formação, que leitura faz destes números?

São muito preocupantes. Mais de um quinto da população portuguesa – dois milhões e 200 mil pessoas – vive com menos de 501 euros por mês, há um milhão de pessoas que não tem 250 € por mês para viver e há sobretudo uma situação muito preocupante que são as chamadas bolsas de pobreza.

Nós temos uma população muito envelhecida, muitas mulheres que não descontavam, não faziam parte dos sistemas contributivos e têm apenas as reformas da Segurança Social, que são muito baixas, e, à medida que vão ficando mais velhas, a parte que é consagrada à saúde e aos medicamentos aumenta. Portanto, temos hoje um elevado número de pessoas que dependem da assistência, dos subsídios para viver, mas dependem também das ajudas que lhes chegam. Quando essas pessoas são, como estas estatísticas revelam, trabalhadores pobres, pessoas que já tem um emprego, que trabalham muito mais do que 8 horas por dia e ainda perdem bastante tempo nos transportes, porque moram em zonas periféricas das cidades – este fenómeno é abrangente a todo o Portugal -, e que chegam ao fim do mês e não têm dinheiro suficiente para satisfazer as necessidades do seu agregado familiar, como é que estas pessoas poderão viver se não tiverem apoio de instituições, seja por via de mensalidades reduzidas nas creches, seja por via de apoio alimentar?

Portanto, estes dados são muito preocupantes, sobretudo porque mostram que, apesar da melhoria da situação económica, há uma pobreza que é estrutural, em Portugal, que não estamos a conseguir combater. E é urgente que se encarem medidas que permitam fazer com que pelo menos as próximas gerações possam ter a esperança de ver alterada a sua situação real de vida. Isto só se faz por via da economia, gerando riqueza, e só se faz tendo mais qualificação no trabalho.

 

Até que ponto – e esta é uma crítica que vemos muitas vezes ser feita – este regime de apoios leva ao comodismo de quem fica subsídio-dependente?

Eu não posso estar mais de acordo em relação a esse tipo de apreciações, até porque, se nós só damos, não induzimos qualquer tipo de responsabilidade nem qualquer tipo de mudança.

Todos nós gostamos que as coisas nos cheguem às mãos sem esforço e, no caso das pessoas mais carenciadas, há por vezes esta tentação. Aquilo que me parece – e é por isso que o Banco Alimentar não entrega diretamente nada às pessoas – é que há aqui um canal de excelência em Portugal, que é o canal das instituições de solidariedade social, que tem um trabalho a fazer com cada uma das famílias para que se autonomize e se responsabilize.

Mas, volto a dizer, em Portugal há um milhão de idosos com menos 250 € por mês e estes idosos não se vão poder nunca autonomizar. Pelo contrário, cada ano que passa vão precisar de mais ajuda. Portanto soluções como o Complemento Solidário para Idosos são muito bem-vindas. Haverá outras medidas semelhantes que serão bem-vindas, mas muitas destas famílias precisam de ajuda, as instituições, ou outras fórmulas que sejam criadas, farão com que estas famílias se responsabilizem pela sua vida. Mas não se tenham ilusões: isto não se consegue fazer do dia para a noite.

 

As instituições têm essas situações identificadas. Isso garante ao Banco Alimentar que os produtos que recolhe chegam, de facto, a quem mais precisa?

As instituições são os distribuidores dos alimentos que as pessoas doam às famílias. Aquilo que nós fazemos é acompanhar as instituições, por via até de outra instituição que criámos, que se chama ‘ENTRAJUDA’, e o que fazemos é garantir que estas instituições levam os produtos, mas também prestam outro tipo de auxílio, que é mais estruturante às famílias.

 

O Banco Alimentar confia nas instituições para essa transformação das famílias e das pessoas?

O Banco Alimentar confia e ajuda as instituições a criar programas que possam promover estas autonomias em cada uma das famílias, equipando-as até com outro tipo de bens, que não sejam só alimentares. Que possam, por exemplo, gerar mudança na habitação.

A habitação hoje, nas grandes cidades, é um problema. Temos muitos trabalhadores pobres que, de repente, têm uma fatia muito grande do seu rendimento disponível para a renda de casa que aumentou muito. Há uma ajuda que deve ser integrada, se queremos que estas pessoas possam dar a volta à sua vida.

 

Prevê que os pedidos de ajuda possam vir a crescer, face a estas necessidades e dificuldades?

Hoje assiste-se, de novo, a um fenómeno de sobre-endividamento das famílias.

Na altura da crise houve dois grandes fatores que afetaram muito as famílias portuguesas: o desemprego e o sobre-endividamento. O que vejo, hoje, é que se temos uma taxa de desemprego muito baixa, voltámos a ter níveis de sobre-endividamento muito consideráveis. E há esta preocupação de que as famílias não pensem que a situação económica é melhor – com certeza, é visível – , mas que está tudo tão bem, para sempre, que nada mudará. Seria bom que fosse assim, mas o que tendencialmente observamos é que continua a haver um grande número de pessoas – e estes dados estatísticos confirmam-no –  que não são completamente autónomas para satisfazer as suas necessidades diárias.

 

 

Voluntariamente

Falemos do voluntariado, em que assenta o funcionamento do Banco Alimentar. Está aí o segredo para o sucesso deste projeto? Funciona só nestes dias de campanha ou ao longo de todo o ano?

Os bancos alimentares funcionam ao longo de todo o ano com recurso a trabalho voluntário, mas também com parcerias com empresas que cedem voluntariamente os bens que produzem ou os serviços que prestam. Temos muitas, muitas pessoas voluntárias no dia-a-dia e, nestas campanhas, esse voluntariado é muito visível, porque é muito jovem e alegre! E é esta alegria do voluntariado, esta certeza de que cada um de nós pode fazer parte de um país que queremos mais justo, solidário e fraterno, que tem sido apanágio dos bancos alimentares.

Todos os dias propomos às pessoas e até às empresas que estão a negociar com os seus colaboradores contratos de reforma ou pré-reforma que proponham o voluntariado como intervenção de cidadania ativa. Nós encaramos o voluntariado, não como forma de passar o tempo ou entretém, ou apenas porque é giro ou moda. Hoje todos os jovens querem ser voluntários e não tenho dúvidas em afirmar que o BA mudou o voluntariado jovem ao ir para as escolas, há 27 anos, com este apelo para que as pessoas participem  dando algum do seu tempo com alegria. Mas, também me parece que o voluntariado tem de ser comprometido e pode ser mais orientado e mais proposto para que se torne quase parte da cultura em Portugal, e sobretudo para que possa ser quantificado.

Em Portugal temos muito voluntariado informal, de vizinhança, de paróquia, nas famílias e esse voluntariado não é contado.

Foto Renascença/Joana Bourgard, Isabel Jonet

E era importante que fosse porquê?

Temos uma tradição cristã que o que se dá não se conta e, sobretudo, não se mede. Dá-se, porque se dá. Ora, quando se encara o voluntariado como algo mais, como participação de cidadania ativa, é importante quantificá-lo e valorizá-lo, até para poder dar exemplos a outras pessoas de que este tipo de participação gera coesão nacional.

O que temos feito, no âmbito da ‘ENTRAJUDA’ é criar plataformas de voluntariado, e criámos a Bolsa do Voluntariado (bolsadovoluntariado.pt), que é o maior site português de voluntariado, com 58 mil voluntários inscritos, duas mil instituições à procura de voluntários, onde se oferece a oportunidade de um voluntário ser voluntário numa determinada necessidade específica que uma instituição tem. Esta instituição não tem de ser ligada ao setor social: pode ser ligada aos animais, à cultura, às artes.

Hoje, temos canais tecnológicos, todos temos um telemóvel, com  ligação à internet, vemos muitas pessoas nas redes sociais a partilhar ideias, então porque não partilhar o nosso tempo ou, com os nossos amigos, um momento que gere esta solidariedade? Temos exemplos de coisas extraordinárias, como despedidas de solteiro num dia de voluntariado no Banco Alimentar. Ainda esta semana, um jovem que fazia 30 anos, em vez de ir beber copos com os amigos, foram fazer duas horas de voluntariado no Banco de Bens Doados e depois foram festejar.

 

É outra forma de aderir a esta ‘rede social’ que é mote da campanha?

É algo que é diferente, é encarar o voluntariado como algo que me diz respeito a mim e não é apenas dar ao outro.

 

Em sua opinião ainda há muito para fazer a esse nível?

Há muito para fazer.

 

Embora ao nível das empresas já haja mais responsabilidade social…

Eu não sou muito adepta do voluntariado empresarial, porque o voluntariado é algo que não se pede, dá-se, e portanto tem de haver uma vontade de dar – cada um tem a motivação para dar o que quer e onde quer. Mas, sobretudo as empresas não têm de saber onde é que eu gasto o meu tempo livre. As empresas podem ser entidades que propõem programas, iniciativas , mas cada um só tem de dar na medida daquilo que tem vontade.

Temos também hoje uma resposta, muito interessante, para pessoas que chegam ao fim da sua vida ativa e têm 60, 62, 65 anos mas que ainda têm 20 ou 30 anos de vida à sua frente.

 

É o projeto ‘Tempo Extra’?

É o ‘Tempo Extra’. Não estamos a propor que as pessoas deem aos outros um tempo extra. Estamos a propor que deem a si próprias um tempo extra, à sua vida ativa, contribuindo para um envelhecimento ativo e para uma vida que pode continuar a ter sentido de um ponto de vista de relação e de contribuição útil para uma sociedade. Isto constrói, não destrói.

 

E tem tido adesão?

Sim, temos muitas empresas que aderiram, muitas empresas que propõem aos seus colaboradores esta possibilidade de darem voluntariado qualificado. Temos voluntários que têm competências especiais que as colocam ao serviço desta rede, gerando mudança e criando muito impacto social.

 

Portugal inspirador contra a fome

O Banco Alimentar Contra a Fome, o projeto em si, é um banco de projetos em torno da ajuda a quem precisa e, no caso da Isabel Jonet, para além de dirigir o BA de Lisboa e também a Federação dos BA em Portugal, entre 2012 e 2017 esteve à frente da Federação Europeia dos Bancos Alimentares. Portugal esteve e está na linha da frente? Está a exportar a ideia?

Sim. Nós até temos uma fórmula engraçada e dizemos que o Banco Alimentar ajuda a alimentar ideias. Para além da ENTRAJUDA, que é uma emanação do Banco Alimentar, ajudámos a abrir Bancos Alimentares em diferentes países, na Grécia, Angola e Cabo Verde, também na África do Sul, que foi muito gratificante.

Hoje é tudo mais fácil com as novas tecnologias, não é preciso ir, podemos falar pelo computador, quase podemos estar nos locais e podemos partilhar muita informação e documentação.

Mas, diria que para mim – até porque sou fundadora, com uma equipa extraordinária de voluntários qualificados, que têm feito um caminho incrível neste sector social – talvez a ‘ENTRAJUDA’ seja o projeto mais estruturante que pôde ser criado. Porque o que propõe é uma mudança na gestão e organização das instituições.

Tenho muito contacto com freiras e padres, que são os presidentes dos centros sociais e paroquiais – em Portugal temos uma rede social muito ligada à Igreja católica – e penso, para mim: porque é que as freiras que são extraordinárias hão de estar a fazer documentos para a contabilidade ou a prestar contas para a Segurança Social, quando podiam estar a consagrar tempo e amor a pessoas com deficiência acamadas ou a crianças que precisam de colo, e estão a gastar as suas pestanas a fazer contabilidade, que não sabem nem têm de saber, quando há voluntários qualificados que sabem contabilidade e as querem ajudar?

Há aqui uma possibilidade de encontro. Eu acredito em redes sociais que são verdadeiras e acredito que nós todos fazemos parte uns dos outros e quando nos conhecemos e conseguimos encontrar-nos, geramos mais valor. Às vezes andamos desencontrados. Cabe a cada um de nós promover estes encontros.

 

Falámos do Banco Alimentar, da ‘ENTRAJUDA’, do projeto ‘Tempo Extra’, da Bolsa do Voluntariado, também gostaria de ter falado do Banco de Bens Doados ou do Banco de Equipamentos. São vários projetos a que tem estado ligada ao longo dos anos. Onde é que se inspira e o que é que a motiva?

Eu digo sempre que pessoas desassossegadas não têm vidas sossegadas e quando caminhamos neste setor com tantas necessidades e carências, mas onde vemos que, às vezes, basta estender uma mão para receber um sorriso, vamos encadeando estas coisas todas umas nas outras, porque fazem sentido. E todos estes projetos fazem sentido de uma forma integrada, mas sempre unidos por uma ideia que é a luta contra o desperdício.

O que está na base destes projetos é a luta contra o desperdício: de alimentos, de bens e de tempo, a luta contra o desperdício de amor. O que procuramos é que nada se perca, porque não há direito de fazermos perder, sobretudo, este amor que falta hoje muito na sociedade em que vivemos, onde tudo pode ser otimizado fazendo com que as pessoas tenham mais tempo para os outros, mas também mais tempo para si próprias.

Nós vivemos muito mais tempo e podemos viver melhor se aproveitarmos melhor este tempo. Acho que tenho sido abençoada com esta certeza de que encontro sempre à minha volta pessoas espetaculares, todas motivadas também por esta vontade de contribuir e participar.

 

O Dia Mundial do Voluntariado assinala-se na próxima semana, dia 5 de dezembro. Continua a trabalhar no Banco Alimentar como voluntária?

Eu sou voluntária. Nunca ganhei nenhum dinheiro nem qualquer contrapartida pelo tempo e trabalho que dedico, seja no Banco Alimentar, seja na ‘ENTRAJUDA’. Foi uma opção de vida que fiz e que fiz conscientemente com a minha família desde 1994.

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