Igreja/Luto: O acompanhamento deve «escutar sem julgar», evitar «frases feitas» e conselhos que «não são pedidos» – Sandra Chaves Costa (c/ vídeo)

Coordenadora do Gabinete de Escuta enumera pistas para quem quer acompanhar com compaixão alguém próximo que está a atravessar uma situação de perda

Lisboa, 30 out 2024 (Ecclesia) – A coordenadora do Gabinete de Escuta, serviço de acompanhamento apoiado pelo Patriarcado de Lisboa, afirmou que quando falham as palavras em situações de acompanhamento de luto, mais vale “não preencher os espaços de silêncio com frases feitas”.

“É muito melhor adotar uma postura de silêncio, que é muito mais eloquente. Então, quando acompanhado por um olhar carinhoso ou um gesto amável, adequado necessariamente, digamos que o silêncio se transforma numa palavra muito elucidativa, daquilo que queremos transmitir, de que estamos cá para apoiar”, disse Sandra Chaves Costa, em entrevista ao programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2.

A Igreja Católica celebra a solenidade litúrgica de Todos os Santos no dia 1 de novembro e a a comemoração de todos os fiéis defuntos a 2 de novembro e, nesse âmbito, o programa ECCLESIA partilha ao longo desta semana experiências de acompanhamento em situações de luto e de fragilidade.

Num acompanhamento com compaixão, há muitas atitudes que devem ser aprendidas, indicou a entrevistada, enquanto outras deveriam ser esquecidas, porque “não só não ajudam como dificultam este momento de luto que as pessoas estão a passar”.

“Escutar sem julgar, sem ter a pressa de dizer de dizer alguma coisa, sem paternalismos, sem interromper, de forma que a outra pessoa se sinta verdadeiramente acolhida e compreendida” foi um das pistas deixadas por Sandra Chaves Costa para quem quer acompanhar com compaixão alguém próximo numa situação de perda.

Por outro lado, a coordenadora do Gabinete de Escuta aponta que “frases feitas” como “os meus pêsames” e “os meus sentimentos” são comportamentos a evitar, uma vez que tendem a normalizar a “situação e não a valorizar aquela dor individual que a pessoa está a sentir”.

“É bom que não se diga à pessoa o que é que ela tem de ser ou que papel é que tem de desempenhar. É de riscar conselhos como agora tens de ser o homem da casa ou a vida é para andar para a frente. Isso não adianta de nada, não ajuda”, salienta.

A responsável destaca que “é também importante saber não dar conselhos, principalmente quando não são pedidos” e não partilhar a própria dor ou experiências quando tal não é solicitado, porque, de certa forma, a pessoa enlutada vai pensar que não é natural aquilo que está a sentir.

Sandra Chaves Costa coordena o Gabinete de Escuta, que consiste num centro de acompanhamento de pessoas em situações de crise e/ou sofrimento, visando a melhoria da situação ou o seu crescimento pessoal através de um apoio diferenciado, em Lisboa.

“As situações de luto que nos chegam são cerca de 20% das pessoas, cerca de um quarto das pessoas chega-nos a dizer que nos procuram, porque estão a viver uma perda. Perda essa que pode não ser só por morte”, ressalta a entrevistada, indicando exemplos como o final de uma relação ou a perda de um emprego.

A coordenador explica que o Gabinete de Escuta é cada vez mais procurado por jovens, algo que não acontecia anteriormente, e que a média etária que o serviço acolhe está nos cerca de 43 anos.

“Cerca de um quinto das pessoas que nos procuram são jovens entre os 18 e os 25 anos”, dá conta, desenvolvendo que casos estão relacionados com situações de ansiedade e sintomas depressivos, muito decorrente do pós-Covid 19 e da situação atual, como o medo do alastramento da guerra e preocupações com a dificuldade de acesso à habitação.

Segundo Sandra Chaves Costa, o Gabinete de Escuta pauta a sua ação por uma “atitude empática, de escuta ativa, de validação daquilo que as pessoas estão a viver naquele momento, respeitando, obviamente, o espaço e o tempo que elas demoram”.

“Aqui é um espaço seguro para que elas possam sentir toda a tristeza que estão a sentir. Ou porque têm filhos mais pequenos e não os querem, de certa maneira, contagiar com a dor que estão a viver, não percebendo que elas próprias sentirem essa fragilidade ou darem aso a essa fragilidade, permitem e validam e, no fundo, legitimam que os seus próprios filhos também possam sentir essa tristeza e possam expressar essa tristeza”, referiu.

PR/LJ

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