«Memórias que contam»: O escritor chileno que queria contar a vida a crianças e a velhos (c/vídeo)

Luís Sepúlveda faleceu em abril de 2020, depois de ter estado em Portugal no Festival literário «Correntes d’Escritas» que este ano lhe presta homenagem

Foto: Joana Bourgard/RR

Lisboa, 26 fev 2021 (Ecclesia) – O escritor chileno Luís Sepúlveda, falecido em abril de 2020 com Covid-19, vai ser homenageado na edição do Festival literário Correntes d’Escritas, que hoje começou na Póvoa do Varzim, numa evocação de um “grande contador de histórias”.

“Olhar para a sua obra é perceber que, mais do que um grande escritor era um grande contador de histórias e muito democrático, porque ele tanto escreve «A História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar» para uma criança de 11 anos, como para um adulto que dá os primeiros passos na leitura com um livro emblemático como «Patagónia Express», ou para um leitor muito experimentado, que gosta de uma boa prosa como «O velho que lia romances de amor», – um dos livros que mais me marcou – e é uma grande homenagem ao livro e à leitura”, explica à Agência ECCLESIA Maria João Costa, jornalista da Rádio Renascença e editora do programa de cultura «Ensaio Geral».

O Festival literário, que acontece desde o ano de 2000, presta uma “justa homenagem”, dedicando a sua revista anual e também uma exposição à vida e obra do escritor chileno que há um ano atrás esteve em Portugal a participar no encontro que viu nasceu e no qual se viu envolvido desde a primeira hora.

Maria João Costa relembra que foi a organização do Festival, pertencente à autarquia da Póvoa do Varzim, que se deslocou a Gijon, nas Astúrias, onde o escritor chileno vivia, para perceber como se organizava um Festival naquele local.

“Na altura ele pediu aos organizadores para encontrarem uma vila com um porto de mar, foi esta a expressão, para organizar um festival literário em Portugal. Foi isso que esta organização fez e trouxe para a Póvoa esta ideia de festival, que dura há mais de 20 anos e ao qual o Luís Sepúlveda nunca faltou, e a sua mulher, Carmen Yáñez, também ela poeta, e sempre estiveram presentes em todas as edições deste festival, que é o mais importante do mundo literário em Portugal”, destaca.

A jornalista da Rádio Renascença teve ocasião de entrevistar Luís Sepúlveda diversas ocasiões e perceber que pela sua obra perpassam inquietações que o acompanhavam como “a defesa da vida, dos direitos humanos, a defesa das questões ambientais”, temas “transversais a várias gerações” e também a atenção aos animais.

“Vemos na sua obra muitos livros de fábulas, onde os animais ganham forma e vida e contam histórias. Ele dizia que os livros eram importantíssimos para desenvolver a imaginação, só com ela é que podemos pensar um futuro diferente. Isso é talvez uma das mensagens mais importantes: deixarmo-nos guiar pela imaginação através dos livros dele”, conta.

O escritor chileno, que chegou a procurar comprar casa em Portugal, tinha uma relação especial com o nosso país onde se deslocava regularmente para “encontrar amigos”.

Apesar de distante da pergunta “espiritual ou de uma procura”, Maria João Costa destaca a defesa por valores da humanidade que encontra na escrita e nas posições de Luís Sepúlveda, falando de preocupações coincidentes com as que o Papa Francisco manifesta.

“O Luís tinha valores que me parecem ser da humanidade: a defesa dos direitos do homem, da dignidade de quem trabalha, e isso eram temas muito próximos.

Há questões que vão ao encontro do que o Papa Francisco tem referido como um tema importante, que é a questão ambiental, era uma preocupação muito grande, tendo-se envolvido na defesa do planeta, na questão da Amazónia e dos índios”, sublinha.

Ao longo da Quaresma a Agência ECCLESIA publica «Memórias que Contam», procurando evocar rostos e histórias de quem faleceu vítima de Covid-19.

LS

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