LUSOFONIAS – ‘Que Belo Horizonte!’

Tony Neves, em Belo Horizonte

Gritou assim João Paulo II quando, em 1982, chegou à atual Praça do Papa, junto à Serra do Curral del Rey, para presidir à Eucaristia com centenas de milhar de fiéis. Foi esse também o meu grito de espanto quando ali cheguei ao ver a paisagem de sonho que se desenhava diante de mim, com a cidade capital de Minas Gerais ali aos pés da colina. Para completar esta paisagem de sonho, subimos ao Mirante do Mangabeiras. De um lado, a cidade que tem mais de 2,5 milhões de habitantes; do outro, o belíssimo e conservado Parque Nacional.

Mas rebobinemos o filme desta viagem e voltemos ao princípio. Deixei Lisboa com um frio de rachar e aterrei, 10 h depois, em S. Paulo com um calor de esturricar. Nada que não estivesse nos meus planos. Se faltava roupa na Portela, sobrava em Guarulhos. A viagem do aeroporto à Casa Provincial deu para rever a bela e agitada S. Paulo, mas também ajudou a perceber que aumentam os moradores de rua, embora a aproximação das eleições municipais leve os Governadores e Prefeitos a investir na publicidade das obras feitas ou em curso. É complicado gerir uma cidade com 20  ilhões de habitantes, num Estado com mais de 45 milhões!

Bem cedo, no dia seguinte, fiz-me à estrada com o P. Leonardo Silva, Provincial, rumando a Contagem, cidade satélite de Belo Horizonte, numa viagem de 575 kms pela Rodovia Fernão Dias. Depois de Guarulhos, entramos em floresta de mata Atlântica, com favelas em quase todos os morros. Subimos o parque estadual  da Cantareira, floresta onde morreu o grupo musical Mamonas Assassinas, num muito mediatizado acidente aéreo.

O transporte no Brasil é essencialmente rodoviário, o que enche as estradas do país de grandes camiões. A ferrovia foi abandonada há anos. As motos, sobretudo nas cidades, fazem muito trabalho de transporte e os condutores são de uma indisciplina impossível de catalogar, pondo em risco as suas vidas e provocando inúmeros acidentes…

Passamos em Três Corações, a 280 kms de Belo Horizonte, terra natal do rei Pelé, famosa pelo café. É enorme a estátua do futebolista, plantada à margem da auto-estrada. Ali paramos no Restaurante Trem da Roça (passe a publicidade!). ‘Comida boa aquece o corpo e a alma’ – diz num dos cartazes!.  Abacaxi com hortelã foi a bebida que acompanhou um self-service com mandioca, farofa, feijão preto, galinha caipira, moelas, torresmos e carnes de toda a espécie, tudo cozinhado no meio do povo, a lenha sempre a arder.

Uma paisagem de sonho volta a encher os olhos quando se desce para Belo Horizonte, em Brumadinho, lá onde o rebentamento da barragem matou há anos centenas de pessoas.

Chegamos, ao fim de oito horas, a Contagem, cidade satélite de Belo Horizonte, onde os Espiritanos chegaram há muitos anos e ali se mantêm com a Paróquia do Divino Espírito Santo e a Casa de Formação que já foi Noviciado, Centro Vocacional e voltará a ser Noviciado no próximo ano. Eis a razão da minha visita. Os Padres  Selço Eissing, João Chiuzo, Vidal Cunha, Flávio Gonzaga e D. Mário  Neto acolheram-nos de braços abertos com o tradicional pão de queijo e a ‘ameaça’ de uma feijoada para o almoço do dia seguinte, o sábado, também com a presença dos PP. Zena Araújo e Francisco Luckmann, responsáveis pela Paróquia da Glória, nas periferias de Belo Horizonte.

Multipliquei reuniões com todos, vi instalações e pude, na tarde de sábado, visitar o centro histórico de Belo Horizonte, a Praça do Papa e o Mirante do Mangobeira, com vistas soberbas sobre a cidade e o parque natural.

Momento marcante foi a visita à Paróquia da Glória, fundada pelos Espiritanos há 71 anos e ainda hoje animada por membros desta Congregação Missionária. É uma periferia pobre, a crescer, com 45 mil habitantes e desafios pastorais enormes.

Aqui, em Minas Gerais, os Espiritanos escreveram e continuam a escrever páginas desafiantes de missão, sobretudo na fundação e animação de comunidades em periferias complicadas destas cidades enormes, a abarrotar de povo, com alegrias e problemas à mistura.

Preparo-me para mais 8 horas de estrada, pois é-me exigido o regresso a S. Paulo para rumar ao Cruzeiro do Sul, no Estado amazonense do Acre, lá onde os Espiritanos chegaram há mais de cem anos e ali permanecem. Preparem-se para viajar comigo.

Desejo um Santo e Feliz Natal, com o Menino Deus a nascer nos corações e a gerar paz num mundo tão violento, como bem expressa a situação da terra onde Ele nasceu e cresceu.

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