LUSOFONIAS – Papa Francisco, Dez anos em viagem…

Tony Neves, em Roma

13 de março de 2013. Fumo branco. Enorme aplauso. Sinos a tocar. Tempos depois, abre-se uma cortina e aparece um vulto à janela: Jorge Bergoglio é o novo Papa e disse ao mundo que escolheu o nome do Pobre de Assis, Francisco.

Dez anos depois, todo o mundo nota (concorde ou não!) que este Papa está a fazer uma ’revolução imparável’ na Igreja. Ninguém é igual a ninguém, mas Francisco dá toques de enorme originalidade. Nota-se uma lufada de ar fresco nos documentos pontifícios, nas escolhas de visitas, nas Assembleias Sinodais sobre a família, a Amazónia e os jovens, na ousada reforma da Cúria, nas entrevistas e outros escritos, nas linhas de combate aos abusos, na opção clara pelos migrantes, refugiados, perseguidos e outros descartados sem vez e sem voz, na sua visão sobre economia, política e sociedade contra a globalização da indiferença, nas opções de focagem pastoral, na valorização do ecumenismo e diálogo inter religioso, na simplicidade e alegria do seu ser e atuar.

São dez anos de uma respiração eclesial diferente, com uma aposta clara na sinodalidade (como sinal de abertura à inspiração do Espírito) e no combate sem tréguas a tudo quanto desfigura o rosto da Igreja. Dá uma colaboração gigante na construção de uma Igreja credível, encurtando distâncias entre o dizer e o fazer. Está a provar ao mundo que a Igreja faz falta à humanidade, tentando acreditá-la dentro e fora de portas.

Paulo VI ousou sair de Itália, João Paulo II universalizou estas Viagens Apostólicas, Bento XVI deu continuidade e o Papa Francisco já lá vai com 40 saídas ao encontro das periferias e das margens da história. As suas opções de voo dão corpo ao ‘primeirear’ de que fala na ‘Alegria do Evangelho’, o seu primeiro programa de Missão. O diálogo e a fraternidade são os grandes caminhos universais para a paz e a justiça. Só assim se podem compreender viagens ao Bahrein, ao Cazaquistão, à Tailândia, ao Iraque, ao Japão, a Marrocos, aos Emiratos Árabes Unidos, a Myanmar, ao Bangladesh, ao Egipto, à Geórgia, ao Azerbaijão, ao Sri Lanka, à Terra Santa e à Turquia. Só mesmo a aposta no diálogo entre povos, culturas e religiões pode justificar tais visitas que mostram que, para o Papa Francisco, o mundo é um espaço sem fronteiras e a fraternidade é uma palavra chave.

O Papa Francisco tem ajudado o mundo e a Igreja e olhar para a Alegria do Evangelho, a Alegria do Amor, a Alegria da Ecologia, a Alegria das bem-Aventuranças… Há uma convicção profunda de que sem justiça não há felicidade.

Na ‘Laudato Si’(2015), documento social do Papa Francisco, é apresentado o conceito de ‘ecologia integral’, pois há que amar os pobres e respeitar a natureza, a nossa casa comum. Tudo está interligado, estamos na mesma barca a enfrentar a mesma tempestade e, ou nos salvamos juntos, ou morremos todos afogados. O filme ‘A Carta’, recentemente realizado, mostra os efeitos dramáticos das alterações climáticas na vida dos mais pobres e faz um apelo a uma conversão ecológica global, combatendo a poluição, ajudando os mais frágeis e escolhendo um estilo de vida mais simples e mais fraterno.

A ‘Fratelli Tutti’ (2020) resulta da convicção profunda do Papa Francisco sobre a importância decisiva da Fraternidade Humana, depois de ter assinado o documento de Abu Dhabi.

A sua vida está repleta de gestos que apontam para o futuro. Lavar os pés a reclusas, viver em Santa Marta, deslocar-se num carro simples, rezar sozinho à chuva pelo fim da pandemia, fazer a primeira viagem a Lampedusa para chorar aqueles por quem ninguém chora, beijar os pés dos líderes desavindos do Sudão do Sul, deixar-se entrevistar, aprofundar os encontros de Assis, gritar que a guerra é sempre uma derrota para a humanidade, apostar numa educação e numa economia que não matem, chorar na oração pelas vítimas na Ucrânia…fazem dele um homem sem medo de expor o peito às balas, vindas de fora ou de dentro da Igreja.

Nas Jornadas Mundiais da Juventude 2016 (Cracóvia), o Papa pediu aos jovens que abandonassem o comodismo fácil do sofá. Disse: ‘Este tempo aceita apenas jogadores titulares em campo, não há lugar para suplentes. O mundo de hoje pede-vos para serdes protagonistas da história, porque a vida é bela desde que a queiramos viver, desde que queiramos deixar uma marca’. Estamos de braços abertos para o acolher em Lisboa!

O futuro da Igreja e da humanidade está na sinodalidade, este caminhar juntos, em atitude de escuta e diálogo aberto, na mesma direção, empurrados e inspirados pelo Espírito Santo que sopra quando quer, como quer e onde quer. Por isso, todos os tempos, lugares e pessoas são decisivos para a construção do mundo e da Igreja do amanhã.

 

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