LUSOFONIAS – Missão de fazer mais que dizer

Tony Neves, em Lisboa

‘Sereis minhas testemunhas’, ‘até aos confins da Terra’ e ‘recebereis a força do Espírito Santo’. São estas as três expressões-chave da Missão segundo o livro dos Actos dos Apóstolos (Act 1,8) que o Papa Francisco quer que resumam a vida missionária, sendo dela os três alicerces.

Nem sempre o Papa publica com tanta antecedência a Mensagem para o Dia Mundial das Missões, a celebrar em Outubro. Mas, este ano já está cá fora. É forte, provocadora e profunda, como sempre. Lembra que a Igreja é, por natureza missionária e que a identidade da Igreja é evangelizar. Nada de novo. Recorda ainda que não há lugar para franco-atiradores, porque a missão tem de se realizar em comunhão profunda com a comunidade eclesial, pois Cristo mandou os primeiros discípulos ‘dois a dois’.

A essência da missão está no testemunho. As palavras podem ajudar, mas nada pode substituir a vida. É por isso que a testemunha mais radical do Evangelho é a pessoa mártir, pois deu-se até à última gota do seu sangue, deu a vida por Cristo e por todos.

O Papa Francisco percebe bem que as palavras, por mais bonitas e eloquentes que sejam, não mudam nada. E, para reforçar esta sua convicção, foi buscar a famosa expressão do Papa Paulo VI gravada num dos documentos missionários importantes da história, a ‘Evangelli Nuntiandi’: ‘as pessoas de hoje escutam melhor as testemunhas que os mestres…ou, então, se escutam os mestres é porque eles também são testemunhas’ (EN 41).

E está dado o mote: o anúncio verbal de Cristo só faz sentido e é eficaz quando acompanhado pelo exemplo de vida cristã. Proclamação e testemunho são os dois pulmões com que deve respirar cada comunidade para ser missionária.

A Missão tem outra dimensão fundamental: a universalidade. Daí a importância do ‘até aos confins do mundo’. Ou seja, ninguém pode ser excluído da possibilidade de escutar o Evangelho e de sentir o testemunho vivo e feliz de pessoas cristãs. Aqui entra outra dimensão: a Igreja é uma família sem fronteiras, onde todos têm lugar, aberta a quantos queiram entrar e viver de acordo com os valores gravados nas páginas dos Evangelhos. Por isso, o Papa pede aos cristãos mais hospitalidade a quem chega de fora que vem enriquecer a comunidades já existentes: ‘experimentamos cada vez como a presença dos fiéis de várias nacionalidades enriquece o rosto das Paróquias, tornando-as mais universais, mais católicas. Consequentemente, o cuidado pastoral dos migrantes é uma actividade missionária que não deve ser descurada, pois poderá ajudar também os fiéis locais a redescobrir a alegria da fé cristã que receberam’.

Uma missão sem fronteiras obriga a partir sempre, até porque – como recorda o Papa Francisco – ‘existem áreas geográficas onde não chegaram os missionários testemunhas de Cristo com a Boa Nova do Seu amor’. Daí que a Igreja seja uma família em saída, ‘rumo aos novos horizontes geográficos, sociais, existenciais, rumo aos lugares e situações humanos ‘de confim’, para dar testemunho de Cristo e do seu amor a todas pessoas de cada povo, cultura e estado social’. Parar não é um verbo missionário. O Papa diz que ‘a Igreja terá sempre de ir mais longe, mais além das suas próprias fronteiras, para testemunhar a todos o amor de Cristo’.

Aqui entra em jogo o ‘protagonista da Missão’, ou seja, o Espírito Santo que ‘dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma’. Ele fortalece, ilumina e guia. Os discípulos, antes do Pentecostes, eram ‘fracos, medrosos e fechados’. Com a chegada do Espírito, tudo mudou: a sabedoria e a coragem passaram a ser a imagem de marca destes discípulos.

A Missão também se reforça com a ação de certas instituições, que nasceram inspiradas pelo Espírito. A Propaganda Fide (hoje Evangelização dos Povos) nasceu há 400 anos. A Associação para a Propagação da Fé foi criada há 200 anos. As Obras Missionárias Pontifícias foram reconhecidas há 100 anos. Com tanto jubileu, o Papa diz que sonha ‘com uma Igreja toda missionária e uma nova estação da acção missionária das comunidades cristãs’.

 

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