LUSOFONIAS – Lideranças reforçadas

Tony Neves, em Roma

‘É um líder nato!’ – ouvimos, tantas vezes, dizer de alguém que tem carisma de animador, é escutado e seguido. Esta expressão é, no mínimo, perigosa. Digo isto porque a liderança, como tudo na vida, exige carisma, mas, sobretudo, resulta de competências e capacidades adquiridas, bem como de práticas testadas no quotidiano. Razão tinha Beethoven quando disse (ou dizem que ele disse!) que um génio é feito de 5% de inspiração e 95% de transpiração! Ou seja, pouco ou nada vale ter talento se não houver compromisso, trabalho duro, competências adquiridas, partilhadas e aplicadas.

Tudo isto vem a propósito do momento que estou agora a viver aqui em Roma. Tal como o Vaticano faz para os Bispos recém-nomeados, a Congregação do Espírito Santo também chama a Roma todos os Superiores Maiores eleitos durante o último ano, para participarem no ‘Encontro de Formação para Novos Superiores’.

O Programa é vasto, abordando todas as grandes áreas da liderança onde se exigem competências especiais para estes Responsáveis. Dos 62 Superiores Maiores que os Espiritanos têm, doze foram eleitos recentemente. A nota mais curiosa é que vêm dos cinco continentes, pois representam o Brasil, o Congo Brazzaville, a Espanha, Moçambique, a Oceânia, a Polónia, o Quénia, a Suíça, o Trans-Canadá, o Vietname – Índia, a Zâmbia e o Zimbabué. Ou seja, seis de África, três da Europa, dois da América, um da Ásia e outro da Oceânia!

Um dos momentos mais ricos é o da apresentação dos Superiores e da Missão que eles animam. Para não ferir suscetibilidades, uso a ordem alfabética. O P. Tomás Sanhá, nascido e criado na Guiné-Bissau, é o novo Provincial do Brasil. Tem a missão de animar 41 Espiritanos, espalhados pelo vastíssimo território brasileiro. Destacou o trabalho em favelas e noutras periferias complicadas. Do Congo Brazzaville veio o P. Pierre Bilongo, congolês com vasta experiência missionária fora de portas, pois viveu muitos anos na Ilha da Reunião. Lidera agora a sua Província natal que tem 80 membros, bastante jovens, na sua maioria a trabalhar fora do país. No Congo estão 35, em doze comunidades interculturais. Entre os compromissos, salienta-se a originalidade de trabalhar com povos baka (mais conhecidos por pigmeus), que habitam as florestas equatoriais do interior. O P. António Mosso, português, é o novo Provincial de Espanha. Além de 23 Espiritanos professos, há seis Leigos Associados. É impressionante a diversidade de origens, num país onde são mais os estrangeiros que os nacionais. A riqueza desta diversidade é o grande fator a capitalizar numa missão que abarca paróquias, trabalho com imigrantes, capelanias hospitalares e animação missionária.

O P. Alberto Tchindemba, angolano, é o Superior de Moçambique. Ali trabalham treze Espiritanos de dez países diferentes, na sua maioria muito jovens. A missão mais recente e mais ousada é a direção do Seminário de S. Agostinho, nas periferias de Maputo, que assegura a formação de mais de uma centena e meia de estudantes de Filosofia de diversas Dioceses. A Austrália e a Papuásia (que o Papa acabou de visitar) compõem o Grupo da Oceânia, agora liderado pelo P. Edward Khaemba, com 21 membros. O trabalho mais original é com os povos aborígenes. O P. Marcin Dusinski é o Provincial da Polónia com 48 Espiritanos e um trabalho paroquial intenso, aliado ao acolhimento de refugiados da Ucrânia. O Quénia, com o P. Frederick Wafula como Provincial, tem 92 membros, estando 23 fora e acolhendo 24! Investem muito na missão paroquial e educativa. A Suíça tem 32 Espiritanos, na maioria idosos, liderados pelo P. Innocent Abagoami, com trabalho pastoral em paróquias. O mesmo acontece com o Canadá anglófono, com 27 Espiritanos e 10 Leigos Associados, sendo Provincial o P. Oliver Iwuchukwu. Trabalham ainda com comunidades migrantes, refugiados e reclusos. No Grupo Vietname – Índia, a Congregação tem as portas abertas ao futuro, dada o elevado número de jovens em formação. O P. Lam Nguyen é o Superior. Da Zâmbia veio o P. Cycus Changu apresentar um país que tem 22 membros, muito jovens, empenhados na evangelização do país. Finalmente, o Zimbabwe, onde vivem 14 Espiritanos num contexto de instabilidade e pobreza, mas não cruzam os braços. Investem na educação e na pastoral paroquial – como contou o P. Florian Marzova.

Aprender a liderar mais e melhor, em sinodalidade e comunhão, eis o grande objetivo deste Encontro mundial. Basta ver os rostos felizes destes Superiores Maiores recém-eleitos para perceber que valeu a pena! A Missão sai a ganhar! Os Superiores regressam mais animados, mais competentes e mais conscientes da importância da Missão que lhes foi confiada.

Tony Neves, em Roma

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