LUSOFONIAS – Calor luso numa Suíça nevada

Tony Neves, no Valais – Suíça

É sempre uma alegria voltar à Suíça e reencontrar comunidades portuguesas que ali vivem, trabalham e também celebram a sua Fé. Desta feita, a minha viagem teve como destino final Sion, naquele bonito Valais, povoado de extensas plantações de maçãs e pêssegos, bem como de vinhas a trepar pelas colinas, fazendo-me lembrar o Alto Douro Vinhateiro. Mas, claro, não saí de Roma por causa de paisagens de encher os olhos, mas para ir ao encontro de comunidades lusófonas que se congregam para aprofundar e celebrar a sua Fé.

A viagem – confesso – foi um pouco atribulada porque, logo que começamos a sobrevoar os Alpes, o que eu via pela janela era fantástico (picos já brancos de neve!), mas as tremuras do avião foram fortes demais! Cheguei bem a Genebra e encontrei o sorriso do P. Vilas Boas e isso foi o mais importante a registar!

De comboio fomos até Sierre que é onde vive o responsável pastoral das Comunidades Portuguesa do Valais. O sábado começou cedo e fomos até à Capela de Chateauneuf, em Sion, onde nos aguardavam os jovens. Ali tivemos uma simpática e feliz manhã de reflexão, debate, oração e confraternização sobre a Sinodalidade, o Jubileu, a Missão e um balanço das Jornadas Mundiais da Juventude, realizadas há um ano, em Lisboa.

Como a queda de neve abrandou no pico do Grand Saint Bernard, pudemos fazer uns 70 kms até este lugar emblemático onde se encontra o Hospício de S. Bernard, situado nos Alpes, a 2500 metros de altitude, na fronteira, construído num local de passagem obrigatória para quem outrora circulava entre a Itália e a Suíça. Depois de mais de uma hora a subir a pique e às curvas, atingimos uma área onde nevava e chegamos a uns grandes edifícios plantados na montanha, lugar de peregrinação e recolhimento hoje, mas espaço de salvamento e apoio a migrantes e comerciantes, desde o longínquo século XI! Quando S. Bernardo fundou a sua família de monges e ali se instalou, o objetivo era ‘acolher o próximo’ que arriscava a vida naquelas neves, sobretudo em dias de tempestade. No século XX, foi construído o grande túnel que já não obriga a subir ao Grand S. Bernard e, por isso, os grandes edifícios funcionam hoje como lugares de oração, silêncio, paz, encontro com a natureza e desportos de montanha.

Quando chegamos e saímos dos carros, um gelo percorreu a minha coluna vertebral e entupiu-me o nariz! Sorte é que entramos logo no edifício aquecido. Lá, vimos o filme ‘Presença no caminho das pessoas’, que conta mil anos de história ao serviço do acolhimento a quem ali passava e de evangelização a quem procurava este convento de montanha. Depois,  visitamos o museu e descemos à cripta para continuarmos o nosso dia de reflexão e partilha. Finalmente, saímos à rua para visitar o Museu dos Cães S. Bernardo, podendo interagir com uma dúzia que ali vivem ainda. Foi neste Hospício que estes cães se desenvolveram (o lendário Barry nasceu ali em 1800!), e que a raça foi purificada. Enormes, possantes, com um faro extraordinário e um pelo que os protegia das neves, estes cães foram utilizados para acompanhar os monges como batedores nos caminhos na neve e na procura e apoio às pessoas perdidas. Hoje, no museu, são cães ternurentos, à espera de quem os acaricie!

Os valores desta comunidade de vida consagrada são a oração, o acolhimento e a hospitalidade’. ‘Hoje, aqui, Cristo é adorado e alimentado’ – eis uma das frases gravadas nas paredes deste Hospício!

Fazia-se tarde e a neve caía quando decidimos descer a Sion, na mesma estrada estreita, serpenteada e quase a pique, a que só valeram os pneus de neve  dos carros. Respiramos mais fundo quando chegamos a casa. E lá se foi – e muito bem – o nosso sábado.

O Domingo estava programado para a comunidade adulta. A mesma sala da Capela de Chateauneuf, nas periferias de Sion, acolheu um simpático grupo de pessoas, quase todas em família, para um manhã de reflexão, um almoço de picnic e a missa da Comunidade. Foi um tempo alegre, profundo e de partilha muito franca sobre o momento que a Igreja vive e a Missão que a todos diz respeito e deve comprometer.

Ainda conseguimos visitar os centros históricos de Sion e Sierre e tudo terminou com um jantar que prestou homenagem a uma senhora que, durante décadas, assegurou a decoração floral daquela Capela. Também aqui fiquei fascinado com a cumplicidade que existe entre diversas famílias e o sentido de gratidão que se percebe em momentos como este.

A Comunidade decidiu apoiar o projeto missionário da plantação de cacau e café que os Espiritanos desenvolvem na Bolívia. A Missão continua por terras da Suíça.

Tony Neves, no Valais – Suíça

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