Leiria-Fátima: A vela

A vela foi uma surpresa para Camila. Contou-me que lhe fora oferecida por uma amiga açoriana e que era obra dessa mesma amiga, pois costumava decorar velas para batizados e crismas, e até círios pascais.

Camila, colocou-a junto ao presépio.

– É o local certo para uma peça tão bonita. Se os Anjos desceram do Céu para dar glória a Deus que acabara de vir ao mundo, também os homens assim devem fazer e, com eles, os animais e toda a criação, mas através dos homens. A eles compete dar ao que é inanimado a oportunidade glorificar o Senhor. É esse o objetivo da arte humana, seja ela manifestada em forma de música, pintura, ourivesaria, escultura, poesia… ou numa vela açoriana que, neste caso, representa para mim a “arte” humana da amizade.

Com esta explicação e comentário de Camila, dediquei mais atenção à decoração da vela. De um lado estava representada uma árvore com frutos brilhantes; do outro lado havia uma Cruz rodeada por quatro borboletas de asas transparentes, feitas com escamas de peixe, um dos materiais típicos do artesanato dos ilhéus. Sim, também os peixes dão glória ao Deus menino, através da arte da amiga de Camila.

Continuei a ouvir Camila falar sobre a vela e as amizades que ela guardava escondidas: as da sua amiga por ela e, sobretudo, por Jesus. Confesso que me impressionou a sua conversa. Relacionava-a com o que acontecera em Belém, há mais de vinte séculos. Nessa altura, tal como agora em tantos ambientes, ignorava-se que o Redentor do mundo já tinha chegado para salvar todos os homens. Os primeiros a chegar ao Presépio foram uns pastores, gente humilde que foi capaz de sair do conforto do seu descanso para levar os bens necessários à sobrevivência de um recém-nascido e seus pais.

Na vinda para casa, ainda impressionada com este diálogo, entrei numa igreja, como se fosse um desses pastores que se sentiu chamado pelos anjos – no meu caso, foi por esta amiga. Porém, eu não levava presentes comigo; ia de mãos vazias e voltava cheia… de paz e alegria. Parei pelo caminho, antes de voltar a casa, para comprar uma vela para o nosso Presépio. Sentia essa urgência “imperiosa” de acender uma luz que me recordasse a Luz que acabara de me abrir os olhos: tinha de “mudar” de vida e pensar mais neste mistério. Qual pode ser o meu contributo para tornar este mundo melhor? Poderei, também eu, fazer uma vela para a oferecer a uma amiga?

Isabel Vasco Costa

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