«Laudate Deum»: «Nas linhas e entrelinhas, o Papa está a dizer-nos que temos muito para fazer» – Frei Hermínio Araújo

Religioso  franciscano assinala que nova exortação é um «murro na mesa dos pobres e dos mais vulneráveis» e também «muito dirigido à Igreja»

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Torres Vedras, 04 out 2023 (Ecclesia) – Frei Hermínio Araújo disse que o Papa Francisco, “nas linhas e entrelinhas” da Exortação ‘Laudate Deum’, diz que há “muito para fazer” pela ecologia integral, num documento “muito para além” da COP28.

“Ele diz que alguns não levam isto a sério, arranjam estratégias, motivos e pseudociência para dizer que não estamos num problema climático mas estamos, há consequências disso e temos de ser voz dos que não têm voz”, disse o religioso franciscano à Agência ECCLESIA.

O Vaticano publicou hoje um novo documento do Papa, a exortação ‘Laudate Deum»’ (Louvai a Deus), sobre o tema da ecologia integral, que visa dar continuidade à reflexão da encíclica ‘Laudato Si’ (2015).

Segundo frei Hermínio Araújo, este é um “murro na mesa”, expressão do seu confrade salvadorenho frei Daniel Blanco, que é o responsável pela Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC) na Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores.

“E é um murro na mesa por parte dos pobres e dos mais vulneráveis. É este conceito de ecologia integral para tentarmos ultrapassar uma vez por todas uma visão ecológica que alguns quase que se sentem na obrigação de não acreditar nela”, desenvolveu.

Para o entrevistado, o Papa Francisco é “uma das principais vozes” dos pobres e dos mais vulneráveis, e “em defesa de todas estas situações”, não apenas das pessoas mas dos seres que são “vítimas das alterações climáticas e de muitos outros problemas ambientais”.

Frei Hermínio Araújo explica, a partir da Exortação ‘Laudate Deum’, que “quem está em causa” são “os paradigmas tecnocráticos, os diversos poderes económicos”, destaca a parte “muito interessante” onde o Papa refere-se à “questão das diversas políticas, este conceito do multilateralismo”, e às conferências do clima.

“Este é um documento para a próxima conferência do clima, não há dúvida nenhuma. Oito anos depois da ‘Laudato Si’ é um murro na mesa: Estamos às portas de uma nova Conferência do Clima, ‘como é que é’”, acrescenta.

A nova exortação de Francisco, para “todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”, tem seis capítulos, o quinto é a pergunta: “O que se espera da COP28 no Dubai?”; a 28ª conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas vai realizar-se de 30 de novembro a 12 de dezembro, na Expo City, nos Emirados Árabes Unidos.

“Nas linhas e entrelinhas, o Papa está a dizer-nos que temos muito para fazer: É até à COP e muito para além da COP, mesmo que possa a vir a ser um sucesso”, acrescentou o franciscano, sublinhando que Francisco, o pontífice, refere também que a “Igreja Católica não está a levar a sério esta problemática”.

“É uma caminhada que está demasiado lenta dentro da Igreja Católica, na minha perspetiva. Este murro na mesa muito dirigido à Igreja, temos que abrir os olhos e ver que estamos numa situação muito delicada, e temos que levar estas coisas muito a sério, o que não tem acontecido”, explicou frei Hermínio Araújo.

O documento foi, simbolicamente, divulgado neste dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis e encerramento do ‘Tempo da Criação’ 2023, que mobilizou Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo, este ano com o tema ‘Que a Justiça e a Paz Fluam’, e o sacerdote português destacou ainda o início do Sínodo dos Bispos.

“Esta assembleia tão especial para a vida da Igreja porque, às vezes, nós desperdiçamos, cansamo-nos, com aspetos secundários, mesmo na vida da Igreja. Quando a gente diz a radicalidade evangélica de São Francisco de Assis é ir mesmo à raiz, à essência do Evangelho, ao mais importante, ao essencial. Este tem que ser um tema que tem de entrar na agenda do Sínodo”, concluiu.

Frei Hermínio Araújo salientou ainda que a “visão de Igreja” de Francisco de Assis “é sinodal, em pleno século XIII, na grande cristandade medieval do Papa Inocêncio III”.

CB/OC

 

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