JMJ Lisboa 2023: João Damião disse, perante 800 mil pessoas, que sofreu de bullying e com isso quis mudar o mundo

Jornalista de profissão, jovem de 23 anos acredita que a beleza, as palavras bonitas e as histórias humanas criam empatia e que tal como Jesus, «a pedra angular», será a diferença e «as margens» as construtoras da sociedade

Foto: Agência ECCLESIA/LS

Lisboa, 29 nov 2023 (Ecclesia) – João Damião protagonizou um dos momentos da Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, onde recordou ter sido vítima de bullying e o quanto a pandemia de Covid-19 lhe provocou ansiedade, levando-o a procurar ajuda médica.

“Quem passa pelo bullying olha-se ao espelho e não encontra nada de errado mas há um grupo de pessoas que encontra facilmente. É como se houvesse algo camuflado e impercetível em ti mas não para os outros. Isso leva-te a uma cruzada interior para encontrar algo que supostamente está errado em ti. Precisei de terapia para perceber que a pergunta estava mal feita: a pergunta a fazer é o que é que está errado naquelas pessoas que decidiram meter-se com uma criança de 10 anos que não fazia mal a ninguém, passava os intervalos a jogar ao berlinde e era bom aluno. Nesse ato empático para perceber o que se passou, sinto que é preciso levar palavras bonitas a essas pessoas para que as palavras bonitas salvem o mundo”, conta à Agência ECCLESIA.

O jovem jornalista, de 23 anos, recorda que escrever o texto foi um processo complicado e aceitar o desafio não foi imediato, tendo-se confrontado “com Jesus e outros amigos próximos”: “Aceitar envolvia uma grande dose de exposição, mas aceitei porque sabia que iria dar voz a muitos mais jovens e que seria algo maior do que eu”.

“Confrontei-me com a dor do bullying que ainda guardo e é presente, condiciona a minha vida, deixou muitas marcas. Hoje sou acompanhado por um psicólogo que me ajudou a perceber o que eu tinha passado e percebo que escrever o texto e partilhar com as pessoas foi terapêutico. A primeira sensação depois de ser emitido foi – «uau, consegui». Depois comecei a gostar mais de mim – era o que faltava”, regista.

João Damião entende hoje ser necessário um “debate empático para olhar as vítimas de bullying” mas também olhar para quem “perpetua a dor” e assinala que “as palavras podem salvar”.

Escutar é um ato de amor imenso. O ato de partilha de acontecimentos e sentimentos que moldaram a vida e a história vai salvar o mundo, e isso pode fazer-se de forma diferente – através do jornalismo, da literatura e das artes. (Eu tenho) grande espirito de otimismo – Acredito que os otimistas, um dia, vão vencer a História e que a beleza vai salvar o mundo. Isso só será conseguido com as palavras, as declamadas e as escritas. O amor pode vencer mas é preciso que as pessoas o discutam mais”.

As primeiras memórias a ouvir os outros a contra histórias estão na Atalaia, em Santarém, onde João Damião cresceu, e nas tardes que passava com a vizinha, D. Ofélia, que lhe recordava o crescimento no Estado Novo, a emigração, a falta de condições de vida, a pobreza, a ausência de educação, também a guerra colonial, e com um tio que na véspera de Natal ia cedo buscar um tronco para colocar na lareira, à volta da qual se sentavam a contar e ouvir memórias.

«Ofélia, tu és tão linda», terá sido das frases a marcar o crescimento de João, que aos quatro anos mostrava já o seu interesse e encontrava na escuta “um ato de beleza” – ser hoje jornalista está radicado a esses momentos.

“Ser jornalista é um trabalho emocional que te molda: não sais indiferente de um encontro com um refugiado que atravessou o mar num barco. Uma das reportagens que mais gostei de fazer foi com a comunidade iraniana em Portugal. Nesses encontros tive uma pessoa a chorar. O que podemos dizer? Simplesmente permanecemos”, explica.

A diferença sempre suscitou curiosidade da minha parte, é valiosa. Gosto muito de conhecer pessoas marginalizadas, sobretudo de refugiados, mas gosto também de falar sobre temas marginais por isso foquei, numa tese de mestrado, as emoções e a empatia no jornalismo, um tema tabu perante o ideal de estarmos numa profissão objetiva. E na verdade, Jesus foi a pedra rejeitada que se tornou na pedra angular. O que sempre pusemos nas margens, a diversidade e as emoções, podem ser a pedras construtoras para um mundo melhor”.

A conversa com o João Damião pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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