Incêndios: «Esta é a hora de todos vermos melhor o que estamos a fazer para deixar este interior do país abandonado » – D. António Couto

Bispo de Lamego deixa mensagem de agradecimentos aos «soldados da paz»

Foto: Lusa

Lamego, 19 set 2024 (Ecclesia) – O bispo de Lamego publicou uma mensagem sobre os incêndios que afetam a região e o país, com o título ‘Não podemos ficar quietos, tranquilos e calados’, alertando para o abandono do interior do país.

“Esta pode ser a hora, esta é a hora de todos vermos melhor o que estamos a fazer para deixar este interior do país abandonado. Esta é a hora, esta pode ser a hora de todos prestarmos a devida atenção a este belo chão que Deus nos deu. Esta tem de ser a hora de usar a razão e o coração”, escreve D. António Couto, num texto enviado hoje à Agência ECCLESIA.

“Assim Deus nos ajude. Ele faz sempre bem a sua parte. Nós é que não”, acrescenta.

O bispo de Lamego dirige-se aos “irmãos de todo o centro-norte” do país, também da Diocese, sobretudo da linha do Paiva, Castro Daire, Alvarenga, Oliveira do Douro, Freigil, que “continuam a sofrer desamparados”.

“A minha comunhão de irmão, a minha oração, a minha solidariedade e entreajuda. E assim também de todas as comunidades”, escreve.

D. António Couto deixa um “grito de esperança”, perante o cenário que se vive.

“Eu também já estive no meio de fumos e fogos cruzados sem saber bem o que fazer. Fez Deus por mim e comigo. Sei-o bem”, indica.

Neste momento triste e adolorado, não posso deixar de deixar no ar um grito que se oiça em todo o lado, mas sobretudo pelos meus irmãos investidos em autoridade no meu país, no seu todo, e em cada uma das suas parcelas. E pergunto: 1) não somos nós a humanidade por Deus criada? 2) O que é feito da liberdade e responsabilidade que nos deu? 3) Não partilhou Deus connosco o seu poder omnipotente, a sua ciência omnisciente, a sua presença omnipresente, a sua vida vivente? 4) Então, o que temos feito da parte que nos toca? 5) E o que vamos fazer?

“Quando vemos arder pessoas, casas, animais, campos, árvores, montes, tudo varrido num infindável instante pelo fogo, pelo fumo, pelo vento, claro que não podemos ficar quietos, tranquilos e calados”, escreve D. António Couto.

“Quando ouvimos os gritos angustiados de tantos de nós que veem os seus bens arrebatados pelas chamas e o futuro ali à sua frente trucidado, não podemos apagar a dor que nos sufoca e continuar a dormir um sono sossegado”, acrescenta o responsável católico.

Quando vemos exaustos os bombeiros cujos braços são iguais aos meus, e que continuam a travar uma luta desigual com mil fogos desregrados, louvemo-los, mas sobretudo ajudemo-los e imitemo-los. Obrigado, soldados da paz”.

Nove incêndios rurais mantinham-se ativos às 06h40 de hoje, disse à Lusa fonte da Proteção Civil.

O comandante Pedro Araújo, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), adiantou que as operações de combate na generalidade das ocorrências que estavam em curso evoluíram durante a noite favoravelmente, sem registo de vítimas ou casas ardidas.

O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias e decretou um dia de luto nacional para sexta-feira pelas vítimas dos incêndios.

Segundo a ANEPC, foram registadas cinco mortes, 10 feridos graves, 49 feridos ligeiros e 59 vítimas assistidas no teatro de operações; duas pessoas morreram de doença súbita.

OC

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