Incêndios: Dia de Luto Nacional «reforça sentimento de comunhão, de unidade, de todos os portugueses» – Cardeal D. Américo Aguiar

Capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses deixa mensagem de «gratidão» a quem enfrenta as chamas para «salvar a vida dos outros»

Foto: Lusa/EPA

Setúbal, 20 set 2024 (Ecclesia) – O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses disse hoje que o Dia de Luto Nacional no contexto dos incêndios, decretado pelo Governo, “é um dia particular de reflexão e, de modo especial, de oração”.

“De modo especial reforça aquilo que é o sentimento de comunhão, de unidade, de todos os portugueses, todos, todos, todos, em relação àquilo que é o trabalho destes 5, 6, 7 mil homens e mulheres que estão no terreno, até com o apoio de estrangeiros, para tentar derrotar o inimigo que é de dimensão que nos esmaga literalmente”, disse o cardeal D. Américo Aguiar à Agência ECCLESIA.

O bispo de Setúbal acrescentou que o Dia de Luto Nacional representa “um nobre costume” das autoridades do Estado, perante situações de tragédia.

“Nesta hora, neste dia, naquilo que é este gesto nobre do Parlamento e do Governo de Portugal e da Presidência da República, o luto nacional é sempre uma oportunidade simbólica de estarmos em comunhão institucionalmente e formalmente, é razão dos que perderam a vida, e é razão também daqueles que sofrem diretamente, as famílias, as comunidades”, desenvolveu o cardeal.

O Governo português declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias, desde domingo nas regiões Norte e Centro do país.

O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses deixa uma mensagem de “gratidão”, recordando aqueles que morreram, e que concretizaram o lema dos bombeiros ‘vida por vida’, e quem continua no combate aos incêndios.

“Às vezes, só nos lembramos na época de incêndio, só nos lembramos nas situações de aflição, mas o lema dos bombeiros é 24 horas por dia, sete dias por semana, o ano inteiro, ‘vida por vida’. E, efetivamente, às vezes, infelizmente, acontece que o bombeiro dá, literalmente, a sua vida para salvaguardar e para salvar a vida dos outros”, salientou D. Américo Aguiar.

O cardeal português lembrou também os bombeiros “que continuam no terreno”, onde os cenários de incêndio são “qualquer coisa de demoníaco e diabólico”, por isso, “é motivo profundo de gratidão” a sua coragem, a heroicidade e a disponibilidade, desses homens e mulheres, das suas famílias, das suas instituições de origem.

“E, nós, a oração é gratidão. Quando celebramos a Eucaristia, é a ação de graças a Deus e de muita gratidão a Deus e estes homens e mulheres e as suas famílias”, acrescentou.

Nos incêndios desta semana morreram quatros bombeiros.

O funeral de João Silva, bombeiro de São Mamede de Infesta (Matosinhos), realizou-se na quarta-feira, enquanto o funeral dos três bombeiros da Associação Humanitária dos Bombeiros de Vila Nova de Oliveirinha, no concelho de Tábua, se vai celebrar este sábado, pelas 16h00.

O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses também vai concelebrar na Missa presidida pelo bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes.

“Eu estarei com ele e com aquela comunidade, com um contorno tão doloroso da razão dos laços familiares, quer dos falecidos, quer das estruturas, o que leva o sofrimento a ser ainda mais profundo; É a realidade do nosso país mais profunda”, disse D. Américo Aguiar.

Desde domingo, morreram sete pessoas e 161 ficaram feridas devido aos incêndios que atingem sobretudo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra; a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil/ANEPC contabilizou cinco mortos, excluiu da contagem os dois civis que morreram de doença súbita.

“Quando há um incêndio, é importante que todos estejamos unidos para combater o incêndio, e depois da época dos incêndios, então, os especialistas e quem entende dos assuntos possa refletir, avaliar e corrigir para que na próxima possa ser melhor”, realçou D. Américo Aguiar.

A área ardida em Portugal continental ultrapassa os 121 mil hectares, incluindo a destruição de dezenas de casas; o sistema europeu Copernicus mostra que nas regiões Norte e Centro já arderam mais de 100 mil hectares, 83% da área ardida em todo o território nacional.

“Nós andamos todos os anos, infelizmente, com esta situação e parece-me que, cada vez, temos mais empenhos e investimentos no combate aos incêndios e, cada vez menos, cada um de nós porventura faz naquilo que significa a solução para combater os incêndios que é prevenção, prevenção, prevenção”, acrescentou o cardeal D. Américo Aguiar.

O capelão nacional da Liga dos Bombeiros Portugueses destacou a “interação direta” das diversas instituições no terreno a nível local – da paróquia, da freguesia, da corporação de bombeiros –, numa “rede solidária, profunda, na rede paroquial/de freguesias”, deixando uma “chamada de atenção para o gesto de solidariedade”, porque “os portugueses são imbatíveis naquilo que é a generosidade e a solidariedade e a partilha”.

“As redes sociais facilitam muitíssimo a divulgação de uma campanha. Há uma corporação que pede água e barritas de cereais energéticas, e de um momento para o outro, tens os quartéis a abarrotar de água e de barritas e de alimentos. Por isso, há dias, a Liga Portuguesa dos Bombeiros e a Cáritas fizeram um comunicado para reforçar a necessidade de articulação”, explicou.

CB/OC

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